Progresso é comer combustível
Havia uma propaganda de combustíveis nos anos 1950, que já era emblemática sobre a relação que o ser humano teria (e hoje tem) com os meios de transporte. Um fusquinha saía de um posto de combustível e desaparecia no infinito da estrada, com uma frase igualmente emblemática, que dizia mais ou menos assim: "Nós ainda iremos longe juntos".
Como tudo o que a civilização ocidental faz no presente, e quase sempre em prol apenas de pequena parcela da população, a preocupação com as conseqüências futuras nunca está nos planos. Por conta disso, a influência dos norte-americanos sobre o Brasil impôs, além de um golpe militar que até hoje pagamos pelos erros, um modelo de desenvolvimento calcado exclusivamente no transporte rodoviário. Claro, eles precisavam vender automóveis e o combustível.
Passado o tempo, eles continuaram a defender os combustíveis baseados em matéria prima não renovável, aparentemente abundante e eterna. E se não fosse suficiente, bastava inventar armas de destruição em massa nos países com altas reservas de petróleo, destronar governos, matar gente inocente e se apoderar delas, as reservas, porque o povo que mora lá não é de interesse do império.
Mas invadir países é cada vez mais caro, seja do ponto de vista econômico, seja do ponto de vista da imagem que o império tem no mundo. Os Estados Unidos estão em mais um impasse por conta disso, numa crise já anunciada por economistas graduados. Algumas crises, como a do crédito imobiliário, foram sinais óbvios da deterioração da economia do império. Tanto que, no dia primeiro de maio, mesmo que a grande mídia não tenha dado uma nota sequer, todos os 29 portos da costa do Pacífico dos Estados Unidos paralisaram. A reivindicação do Sindicato dos Portuários, de acordo com seu presidente, Bob McEllrath, foi o fim imediato da guerra no Iraque e o retorno das tropas. McEllrath, consciente do caos econômico, disse: "Não ficaremos inertes enquanto nosso país, nossas tropas e nossa economia estão sendo destruídos por uma guerra que está nos levando à bancarrota ao montante de US$ 3 trilhões".
Diante disso tudo, com o aumento absurdo do consumo de petróleo e com o investimento numa guerra que já não se tem certeza se dará mesmo lucro, o império decidiu investir ostensivamente no biocombustível, e, no caso deles, baseado no milho. A solução para o presente mais uma vez trará sérios prejuízos ao futuro, principalmente dos países mais pobres, cujas cestas básicas representam até 60% dos gastos, enquanto que nos países ricos mal passa dos 15%. No resumo da ópera, o preço dos alimentos começou a subir em todo o mundo. Observadores da ONU, informa o Le Monde Diplomatique, já usam o termo "tsunami silencioso" para designar tal catástrofe socioeconômica, que poderá deixar até cem milhões de pessoas passando fome.
Não bastasse o fato de se plantar mais cereais para boi comer - para depois ser abatido para uma minoria se alimentar dele - agora teremos produção de alimentos para colocar nos nossos possantes automóveis. A máxima do progresso de agora em diante será morar nos automóveis e se alimentar de seus combustíveis. Ao que tudo indica, parece que iremos longe mesmo.