E os programas dos programas?
Começaram os programas eleitorais gratuitos no rádio, na televisão e nas ruas. Mais do que tentar convencer a população a votar, o princípio básico dos programas é iludir. Desde que o convencimento deixou de ser concebido com teor político e programático (quando o comício público ainda era o palco principal das eleições), passando para o universo da propaganda, os candidatos cada vez menos são donos de sua própria vontade e mais da ilusão marqueteira.
Da cor do terno ao tipo de corte do cabelo, da espessura da armação do óculos ao tipo de interjeição a ser usada em cada ocasião, o que predomina nos programas é a vontade do publicitário, não a divulgação de seus programas políticos. Os candidatos, desconhecendo o universo dos estúdios, das trucagens, das velozes ilhas de edição, ficam sujeitos à lábia do comerciante e se esquecem que o que devem divulgar são suas idéias, não aparências. Mas é claro que nem todos têm idéias para serem divulgadas, no que facilita muito a aceitação das trucagens.
Na história das eleições sempre foram usadas musiquinhas como truque de convencimento. Agora, aquilo que os colonizados adoram chamar de jingles, é o principal negócio de uma campanha. Os partidos reclamam, brigam, fazem alianças por míseros segundos na televisão e no rádio e usam esse tempo para quê? Tocar musiquinha.
Porque não ocupam o tempo para ensinar, por exemplo, aos eleitores, qual o papel de um vereador, ou para explicar que um prefeito não pode fazer tudo o que promete? Seria bem mais didático e útil à democracia, além de honesto. Sei que os publicitários se amarram nesse truque, porque a propaganda é o negócio da alma, não o contrário como todos pensam.
Os programas mais se parecem com comercial de margarina do que qualquer outra coisa. Começam com aquela seqüência de imagens lindas, trucagens incríveis, rostos de todas os matizes, gente vestida de tudo quanto é tipo, para mostrar pluralidade, e... nada. Ou os caras não têm mais idéias, o que é fácil de constatar, ou , o que é cruel constatação, fazem apenas aquilo que o eleitor quer ver.
Os candidatos morrem de medo de dizer no que acreditam, porque muitas vezes, dizer o que pensam é ir contra a vontade do eleitor. O produto não se encerra em suas virtudes, ele tem que parecer ser virtuoso. E para isso, nada melhor, crêem os marqueteiros, os candidatos e, o pior, os próprios eleitores, do que apostar no que não surpreende. Por conta disso, idéias ou programas com conteúdos radicais (que deveriam ir às raízes) nenhum deles têm coragem de fazer, porque a idéia do risco de perder voto é tenebrosa.
Desse modo, o programa do DEM, por exemplo, ou o do PT, em nada se diferenciam, nem no seu ideal nem na sua forma. Aliás, o formato é denunciador da falta de criatividade de soluções, ou mesmo que fosse o caso, de um debate profundo sobre as questões que afligem a cidade. Talvez os únicos programas onde se pode compreender alguma coisa ou concluir sobre a real capacidade deste ou daquele candidato, sejam os debates propostos pelas emissoras. O TRE deveria propor, ao invés dos programas gratuitos do modo como são feitos, a idéia dos debates. Talvez, desse modo, não perderíamos tanto tempo tentando compreender o que essa gente quer dizer com seus programas tecnicamente incríveis, mais de conteúdo cada vez duvidoso.