22 de novembro de 2008

No teatro

Eu não sou Aline Valim, nem tenho o profundo conhecimento acadêmico que ela tem, com sua pós-graduação e seu linguajar da tribo dos que fazem teatro. Do mesmo modo, não sei escrever como os acadêmicos gostariam (igual as traduções de Derrida, Deleuze e companhia,) para fazer uma crítica de teatro condizente com este nome.

Em algumas ocasiões, disse ou escrevi que não gosto de teatro, o que é (eu sei) uma barbaridade. Ao contrário do cinema, onde a tragédia "real" (em tempos de barbárie é preciso grifar o real) poderia ser um incêndio na sala de exibição, o teatro me dá uma angústia constante, como se o tempo todo fosse acontecer uma tragédia. Não aquela implícita em sua dramaturgia, mas a "real", a que me avisa o tempo todo que aquela encenação pode ser trágica, por exemplo, se o ator desmaiar, esquecer o texto, ou o cenário cair na cabeça dele.

Meu problema é não desassociar a encenação do "real", ainda que eu nem saiba ao certo diferenciar realidade da imaginação. Como Kafka, imagino constantemente tragédias, desde garoto, talvez como um modo de me defender delas.

Mas um dia destes, alguém disse que meu problema era ainda não ter visto uma boa peça. Concordei, aparentemente, porque faria diferença minha idiossincrasia com o teatro se a peça fosse boa ou não? Como saber se uma encenação é boa ou não? Que argumentos usar para atacá-la ou defendê-la? Por que eu não acho graça nas pretensas comédias globais enquanto toda a platéia se estrebucha de rir?

Não preciso ser Aline Valim para justificar o gosto por isto ou por aquilo. Sei que gosto é única coisa passível de discussão, ao contrário do ditado popular. Por isso, meus nove leitores diletos, assistam à peça Mi Muñequita, escrita pelo uruguaio Gabriel Calderón, dirigida pelo Renato Turnes, com Paulo Vasilescu, Milena Moraes, Malcon Bauer, Mônica Siedler, Alvaro Guarnieri e Sabrina Gizela. Se o teatro é o lugar do ator, como afirmava Paulo Autran, talvez eu tenha gostado exatamente porque o elenco me fez perder o medo de que alguma tragédia "real" acontecesse. É no teatro da Ubro, somente neste final de semana.

Diário Catarinense, 22 de novembro de 2008.

4 comentários:

Unknown disse...

lindo texto, canalha!

tb gosto mais de cinema que de teatro [por mais estranho que seja adimitir isso].

Mas, vamo combinar que Deleuze e Derrida são exemplos xaropíssimos de acadêmicos... ahahahah... como diz um professor meu "eu leio o Derridá e penso: esse cara tá querendo me enganar"

Mi Muñequita é realmente um feito maluco, sou fão dos guris!

abração

Daniel Olivetto disse...

era o Daniel, logado no blog errado, rssss

La Vanu disse...

Pensei que vc ia falar sobre o novíssimo e cheirosinho teatro ali da SC 403...que teve inauguração espetacular para VIP's e depois com globais sobre personagens nordestinos...

Anônimo disse...

Brüggemann, quanto tempo. Tua sala é linda.
Quanto ao teatro... acho que você ama o teatro mais que qualquer outra arte. Lembro de você dirigindo teus primos na distante Lages dos anos setenta...
Você ainda não descobriu isso!!!
Talvez o nosense, o tempo presente que caracteriza o teatro fuja à tua tentativa de captá-lo. Mas ele é isso... nos escapa.
Abraços,
Zé.
E parabéns pelo blog. É ótimo. Você ainda não viu SOS uma mulher só, né? Rapaz, ganhamos prêmio e tudo... Tá bom. Mas continuo olhando mais para o espaço que para os atores. Háháhá!!! Meu calcanhar de aquiles...

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