O que eles leem?
Nesta semana, o prefeito Dário Berger enviou à Camara de Vereadores da Capital, em sessão extraordinária, projetos que modificam a estrutura administrativa do município. Um dos pontos da reforma vincula a gestão pública da cultura, através da Fundação Franklin Cascaes, a um tipo de supersecretaria que engloba também turismo e esporte.
Se o prefeito e os vereadores que aprovaram o projeto (temporariamente anulado pela justiça) fossem mais ao cinema, frequentassem mais livrarias, visitassem mais exposições, fossem mais ao teatro, enfim, conhecessem a produção cultural da cidade, saberiam que a ideia de juntar cultura, esporte e turismo é extemporânea e absurda.
A Franklin Cascaes tem facilidades de captação de recursos (por ser fundação) que a secretaria por si não dispõe, porque a dotação da secretaria está vinculada ao orçamento geral do município. O problema é que políticos têm pavor da palavra cultura, e, é óbvio, que usarão toda a estrutura da Franklin apenas com a finalidade de obter recursos para projetos de turismo. Afinal, que outro interesse teriam?
O senhor Mário Cavalazzi foi tão infeliz na ideia da junção quanto no modo de expressar a justificativa pela urgência de sua aprovação. Ele disse que primeiro aprovaria a proposta e depois conversaria com os produtores. Ué? Sempre me pareceu que a democracia acontecesse justamente pela ação oposta. Primeiro conversa, ouve, debate, e só depois propõe o consenso. Mas é claro que pessoas que não têm intimidade com arte e cultura não teriam também nenhuma habilidade em debater.
De qualquer modo, não dá para esquecer que o prefeito, na sua primeira gestão, havia prometido a criação de um fundo municipal de cultura, o lançamento de editais públicos para a área e a criação de um programa municipal de cultura. Isso nunca aconteceu e, pelo seu jeito bronco de ser, jamais acontecerá, porque precisaria conversar muito com os produtores para chegar a um projeto inteligente.
Mais do que a vontade do secretário e do prefeito em ignorar os produtores e artistas, me espantou também a adesão em massa dos vereadores na aprovação do projeto. Sinal inequívoco de que nem mesmo o que eles aprovam eles leem.
Diário Catarinense, 31 de janeiro de 2009