21 de fevereiro de 2009

Na boca! na boca!

Boa parte da apologia ao carnaval na poesia brasileira está nos versos de Manuel Bandeira. Tanta, que até mesmo um de seus livros chama-se “Carnaval”. Olhando bem para as fotografias do Manu (como Mário de Andrade o chamava na correspondência entre eles) não parece que o bardo fosse chegado num reinado de momo.

Mas o carnaval da época do Bandeira era diferente do de hoje, talvez seja por isso. Os sambas eram escritos por poetas, e o compositor não fazia concessão, nem rimas esdrúxulas. Hoje, o cara mistura o antigo Egito com a panela, e enche o samba de adjetivos. Dá lhe “esplendor” e “realeza”. Tudo padronizado para entreter milhões na televisão. Tenho profunda admiração pela paciência destas pessoas que nunca foram ao Rio de Janeiro, mas torcem pela Mangueira, por exemplo. Fico me perguntando que identidade, que sensação, que proximidade é esta que eu não consigo ter?

Mas existem grandes sambas de carnaval. “Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós”, roubada do perdido hino da República é belíssimo. Jamelão cantando “Tem xinxim no acarajé” também é genial. Algumas coisas, quando a criatividade acaba, deveriam acabar junto. Se não conseguem mais compor sambas legais, para que desfilar? Fecha um ano a escola, dois, sei lá, mas essa obrigação anual acabou com a beleza do samba. Aliás, qualquer obrigação acaba com qualquer coisa bacana.

Ainda bem que no carnaval podemos reler os versos do Bandeira. E eu imagino, como ele, sentir a tristeza toda daquelas cantigas, sempre por uma “dor daquilo que não se pode dizer”. Eu queria mesmo era ser como o rapaz desvairado, que parava na frente das mulheres bonitas pedindo que esguichassem lança-perfume em sua boca. Ele dizia: “Na boca, na boca”. Como sempre, mesmo fora do carnaval, algumas dão as costas. Outras, porém, fazem as suas vontades. “Ainda existem mulheres bastante puras para fazer vontade aos viciados”, escreveu Manuel Bandeira.

Se uma delas fosse capaz de me ouvir agora, eu queria apenas pedir-lhe, como disse o poeta: “Na boca! Na boca!”.

3 comentários:

Anônimo disse...

Eiii! nao é paciencia que tenho(mos)é prazer!!!!!
Tenho que te dizer que eu sempre dou uma olhadinha no Carnaval do Rio (via Globo, eles tem a concessao) e tive o "prazer" de ver uma unica escola: Salgueiro. Campea por alguns decimos.
A "furiosa" como é chamada a bateria deles, tinha uma rainha (da bateria) que tocava um instrumento alem de se mexer de um modo que eu nunca apreendi!!! O tema era o tambor:belissimo!
Vc viu alguma? bjus

Fábio Brüggemann disse...

Não vi, Marci. As baterias sempre são legais. O problema, e foi disso que falei, são as letras horrorosas. Beijo.

Anônimo disse...

Aha, já havia lido esse teu post no jornal! mesmo gostando de carnaval, numa coisa tenho de concordar, as letras realmente são péssimas! ;)

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