14 de março de 2009

Também quero a excomunhão

Para não ser hipócrita e dizer, como a maioria, que sou um católico não praticante, faz bastante tempo que afirmo ser um sem-religião. Fui batizado na Igreja Católica, e durante a infância e parte da adolescência segui todos os rituais. Mas a natureza é muito mais forte do que a rigidez dogmática. A primeira pergunta que fiz, nunca respondida por quem me batizou, dizia respeito ao chamado pecado original. Se fazer sexo, essa coisa tão natural e gostosa, é pecado, todo mundo já nascia pecador? Mesmo nascendo sem consciência eu já estava errado? Já teria que pagar e sofrer por isso?

Escolhi pelo contrário disso. Eu é que não entraria nessa furada sem resposta. E decidi também não em entrar em nenhuma outra furada. Não troquei de religião, apenas me transformei num agnóstico. Nem tampouco sou ateu, como muita gente pensa dos sem-religião. Sou agnóstico, e isso significa dizer que sou um “ignorante”, como encerra o termo, o que não conhece, o que não sabe como explicar o que somos, de onde viemos e para onde viemos. Mas nem por isso invento qualquer coisa, qualquer explicação para o fato de estar no mundo. E vivo muito bem assim, obrigado.

Mas para a Igreja Católica eu ainda sou um deles, porque meus pais escolheram por mim. Até que eu renuncie publicamente, continuo sendo um fiel. Nunca me dei ao trabalho de ir até uma Igreja e renunciar, até porque não faz a menor diferença na minha vida prática. Mas o caso da menina estuprada pelo padrasto, que ficou grávida de gêmeos foi a gota d´água. Um arcebispo dizer publicamente que o aborto é mais grave que o estupro é coisa mesmo de quem vive fora da realidade.

Se para a Igreja Católica, salvar a vida de uma menina de nove anos, porque a gestação de gêmeos é inconcebível para seu corpo, é motivo de excomunhão, é sinal mesmo que não tenho eu que estar em suas hostes. Se a Igreja Católica preza tanto pela vida, por que não excomunga políticos que, por omissão descarada, deixam de investir no que é necessário, matando também, de fome, de doença e de sede? Não quero mais estar ao lado de estupradores ou de corruptos. Quero a excomunhão, por solidariedade a quem realmente preza pela vida.

5 comentários:

Edificarte disse...

interessante seu blogger..

quando der visite o meu ..

deixe recados

abraços

Anônimo disse...

Tratando-se de uma instituição onde a pedofilia está se tranformando em algo tão comum como chuchu na serra, nada mais me espanta.
Zérgio

Ryana Gabech disse...

maravilhoso fábio.como sempre, certeiro e lúcido. pior que 'deixar de prezar pela vida' é gastar o triplo do dinheiro destinado à saúde em fabricação de armas, como acontece no mundo inteiro.até
Ry

Anônimo disse...

Recebeu meu mail c um modelo d carta d excomunhão? Minha vó, escondido d minha mãe q é protestante, me batizou em sua igreja católica lá em Recife. Aqui, fazendo Emaús (da série "meu passado me condena")perguntei a um padre d plantão se um batismo anulando o outro eu seria pagã e iria p o limbo. Até hoje não tenho essa resposta nem outras tantas e, como v,me tornei agnóstica vivendo muito bem, feliz, descrente d divindades e longe d hipocrisia, radicalismo e imbecilidade d qq seita.
V fez uma falta tremenda em Zimbros. Beijo enorme.

Michelle Pereira disse...

Perfeito. Lúcido, claro e direto.
Beijao

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