18 de abril de 2009

Natureza não tem dono

O ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, usando de uma prerrogativa que lhe cabe, que é o de defender o meio ambiente e a Constituição, disse que prenderia quem ferisse o Código Florestal Brasileiro. No que lhe dou toda razão. Defender a Constituição não é um ato ditatorial, como afirmou num discurso maniqueísta o governador, muito pelo contrário. Ditadura é ferir princípios constitucionais.

Propor um código a priori inconstitucional, e ainda por cima, pelo menos em parte, poluente, é uma maluquice sem fim, beirando a ideais separatistas. Não sou favorável ao centralismo total, principalmente no que diz respeito à distribuição de renda, mas a Constituição deve ser respeitada, seja por quem está no governo, seja por quem não está. Se não for desse modo, daqui a pouco terá governador propondo a aberração da pena de morte em seu estado para atender uma suposta “necessidade regional”.

Os discursos dos deputados estaduais repudiando o ministro, em defesa do código que aprovaram (muitos nem o leram, e votaram porque o rei mandou; outros, considerados de esquerda, vergonhosamente se abstiveram), foi a coisa mais patética que assisti na tevê da AL. Alguns chegaram a comentar o colete que o ministro usava, sem entrar no mérito da questão, porque obviamente não têm capacidade para tal.

Santa Catarina é o Estado que mais desmata no país. Será que é só coincidência o fato de ser também um dos que mais sofre por desastres ambientais? A natureza não pertence aos agricultores, mas a todos. Portanto, da parte que me cabe destes rios e matas, eu quero que suas plantações e cortes de madeira fiquem bem longe, por favor.

A defesa da devastação da natureza em prol de um sistema arcaico de plantação é análoga a defesa que os senhores de engenho usavam contra os abolicionistas. É tão paradoxal que agora “ambientalista” e “ecologista” são palavras pejorativas, como foi no passado “abolicionista”. É preciso compreender que se não quisermos mais desastres devemos repensar os paradigmas de produção e consumo agrícola. Alguns artigos do código catarinense favorecem apenas aos donos de terra, especuladores, e gente que não está nem aí com o ar que respiramos, apenas com o lucro que terá ao poluir a natureza. E ao que me consta, ela é de todos, não de meia dúzia de senhores de terra.

7 comentários:

Maurício Oliveira disse...

Fabão, você disse tudo.

Adriana Versiani dos Anjos disse...

Pois é , Fábio. Eu tô aqui, bem longe, mas vivendo no mesmo planeta.
Outro dia ouvi o governador de Santa Catarina falando a respeito dessa lei ambiental na televisão.
Senti um mal estar danado quando ele disse:
Ou é isso , ou é a favela.
Você deve ter visto isso.
Esse sujeito , na minha opinião, não merece ser governador não.
De repente , se o pessoal de Santa Catarina pensar assim também, dá para consertar isso.
Um abraço,
Adriana.

Anônimo disse...

Alguns fãs seus me ligaram e outros enviaram mensagens pra ler seu artigo sobre o Código Ambiental. Não apenas o texto a ‘’Natureza não tem dono’’ mas ‘’A quem os deputados defendem’’ também está objetivo e as colocações ambientalmente qualificadas. Parabéns!
Tadeu Santos

Unknown disse...

de fato, muito bom,já havia lido bem demanhãzinha ao acordar hihi.
e fiquei pensando, de verdade, que muita gente deveria ler. a tua campanha por email, certamente é uma boa tática. Já que seu texto é informativo e reflexivo ao mesmo tempo. e isso é o que precisamos, bons conteúdos a respeito de fatos que nos interessam a todos, gostei muito da parte em que diz e que esta certíssimo, quanto a ferir constituição, e ainda achar que está sendo democrático! o nosso governador tem ferido e cutucado bastante... infelizmente.

cecel disse...

Fábio como de costume gostei muito do teu comentário. Muito pertinente a comparação com os abolicionistas. Como é bom saber que tal reflexão e crítica consegue ser publicada, pois os meios de comunição tem surpreendido no tamanho empenho em defender esse despropósito. beijo. cecel

tatiana cobbett disse...

Muito bem dito compadre Brüggemann!!!

a natureza se alarma nos armando de atenção,
esta catarina passa pelo SOS e do seu senhor governador uma afronta

"...A defesa da devastação da natureza em prol de um sistema arcaico de plantação...é apenas com o lucro que terá ao poluir a natureza..."

André disse...

Fábio, com todo respeito, esse é um discurso extremista.
Uma coisa é falar sobre as atitudes que o senhor bigode teve ou tem ou deveria ter, outra é sobre o código. De onde tirasse os dados onde afirmas SC como o Estado que mais desmata? Eu gostaria de saber da fonte, porque daí fica fácil.
O problema é com os deputados? Estás certo, os discursos foram terríveis. Mas o código, tu leu?
SC tem 187 mil produtores e destes, 166 mil são pequenos produtores (Famílias. Vai dar uma espiada em Antônio Carlos, veja o tamanho das propriedades. Aqui não tem latifúndio não) conforme o Incra, pois possuem menos de 50 hectares. Ou seja, 89% são pequenos e nisso SC é diferente de qualquer outro estado. Então quando alguém diz que será reduzido de 30 metros (lei essa criada nos anos 80, por um deputado do vale do Itajaí, por conta das cheias de 82, 83, sem estudos técnicos) para 5, tem que entender o porque. Tem que saber que a mata nativa não pode ser desmatada em hipótese alguma, isso está no novo código. Tem que entender o que é área consolidada. Que o agricultor que está com sua plantação a 10 metros do rio, e tem menos de 50 ha, não poderá aproximar para chegar nos 5. Não é como vocês estão dizendo. Que dependendo da largura do rio, muda a distância. Você acha que a distância da margem do rio amazonas tem que ser a mesma do riacho que passa em São Pedro de Alcântara? Sabia que 20% da propriedade tem que ter mata nativa, e se a propriedade tiver mais que 20%, não poderá ser desmatada para alcançar o mínimo?.
Tem coisas pra arrumar, com certeza, mas do jeito que estava, inviabilizava. Agora, se vocês acham que tem que inviabilizar, não importa como, daí não posso dizer mais nada, cada um pensa como quer.
E na hora de se alimentar, alguém pensa como as frutas, verduras, carnes chegam na mesa? Será que todos esses que comentaram, guardam 20% das suas terras para a mata nativa? Duvido.
Alguns desses já devem ter ido a algum hotel fazenda na serra catarinense, devem ter gostado, mas não sabem que com o antigo código, alguns daqueles hotéis teriam que fechar porque estão acima dos 850 metros, nos campos de altitude. SC é diferente dos outros estados e não podemos fechar os olhos para isso. Em nosso próprio estado temos várias diferenças, o litoral é de um jeito, a serra de outro, o oeste.
Temos que equilibrar e isso é possível.
Daqui, de longe, com dinheiro no bolso, é fácil discursar.
Nosso estado (estou falando de Estado não de governo) é exemplo para o país no que diz respeito a pesquisas, estudos técnicos, tanto na agricultura como no meio ambiente. Temos a Epagri, Cidasc, Fatma, órgãos extremamente capacitados, e que trabalham melhor que qualquer órgão federal, de perto, in loco. A Epagri está em todos os municípios e graças a este trabalho nosso estado é o que é.
Alguém conhece o projeto microbacias? Pra mim, é o melhor dos últimos anos, que poderia ser implantado aqui, nas favelas. No microbacias, as comunidades se organizam nas bacias hidrográficas, perto dos rios. Plantam, produzem e preservam. Se alguém tem dúvida, procurem conhecer.
Fábio, isso aqui não existe: "A defesa da devastação da natureza em prol de um sistema arcaico de plantação é análoga a defesa que os senhores de engenho usavam contra os abolicionistas".
Pode acreditar, nós poluímos e desmatamos muito mais que os pequenos agricultores. Faz o seguinte, vamos fazer uma campanha para que o tribunal de justiça saia ou se afaste do rio da Hercílio Luz, eles estão a menos de 30 metros e pior, só jogando cocô.

SOBRE O ÓDIO

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