11 de julho de 2009

Sobre diplomas e competências

Bernard Shaw talvez tenha sido cruel ao dizer: “Desde pequeno tive que interromper minha educação para ir à escola”. Mas me parece um bom começo para debater educação, diploma e competências profissionais. Se girarmos como moscas em torno da decisão do STF, que derrubou a obrigatoriedade do diploma de curso superior para o exercício da profissão de jornalista, e não enxergamos outras possibilidades de formação, ficaremos sempre no âmbito mesquinho do corporativismo.

Duvido que alguém discorde da tese de que existem muitas formas de aprender. Acontece quer por hábito, costume, talvez até por um questão de acomodação, costuma-se aceitar que o único local para se aprender algo seja a escola. Quase todos conhecemos pessoas que têm formação regular acadêmica e que são profissionais medianos, do mesmo modo como conhecemos outras que não têm tal formação e sabem decifrar códigos, pintar, cozinhar, cantar, compreender o universo que o cerca, enfim, escrever com igual ou maior facilidade.

Se admitirmos a existência destas possibilidades, dá para deduzir que ter ou não ter um diploma para algumas atividades não é a questão primordial para o exercício de uma profissão. Do mesmo modo que ter um diploma não é ruim (pelo contrário), não tê-lo – levando em conta estas premissas – também não é. Tanto, que já temos prédios caindo, tesouras sendo esquecidos na barriga de incautos doentes, e sentenças perdidas por erros de advogados. O que esconde um debate mais profícuo sobre as competências profissionais, infelizmente, não é o reconhecimento da capacidade que o ser humano tem de aprender, mas o corporativismo daqueles que, só porque tiveram que frequentar uma escola formal, acham que têm o direito exclusivo de atuar em determinada área.

Ensinar não é atribuição exclusiva da escola, nem um diploma confere capacidade de uma competência. Tanto os profissionais, sejam eles de qualquer área, diplomados ou não, podem, juntos, pensar em soluções para o impasse. O reconhecimento, por parte das escolas, de habilidades notoriamente comprovadas poderia muito bem diplomar os que concordam com Bernard Shaw, de que a escola não é o único lugar onde podemos aprender o que quer que seja.

7 comentários:

beto tavares disse...

certamente que a escola não é o único lugar para aprender, mas certo também é que é o principal lugar para este exercício. penso ser utópico pensar em liberdade plena para a formação profissional. talvez até fosse bom, mas não passa do campo poético e utópico. desculpe pela aspereza do comentário, mas temos que cair na realidade ...

Zé Paiva disse...

concordo 100%. eu, por exemplo, sou diplomado em engenharia mecanica mas nuca exerci e sou fotografo por decurso de prazo. aprendi alguma coisa pela vida, sera que a academia me diplomaria?

Guto Lima disse...

Bem, como jornalista também nunca usei o meu diploma. Só para ter o registro na carteira de trabalho. Mas ele está aqui em algum lugar. No caso do diploma em si: penso que não passa de um pedaço de papel, como tantos papéis que temos em casa. Mas o diploma deveria significar, pelo menos, que aquela pessoa que o tem passou centenas de horas estudando e exercitando algo. É, ou deveria ser, um documento, uma forma de reconhecimento. Ele significa, ou deveria significar, alguma “coisa”. E uma “coisa” relevante e séria. Como jornalista também nunca aceitei o discurso corporativista em defesa da obrigatoriedade do diploma. Penso que muito mais importante seja discutir e melhorar a qualidade do ensino no Brasil. Independente de ser na escolinha ou na formação superior. Se já há tantos erros sendo cometidos por quem passou quatro ou cinco anos em uma Universidade, imagina como poderia ser se não passassem? Minha opinião é que o sistema de ensino é que precisa ser modificado e repensado. “Derrubar” um diploma não é o suficiente para mudar uma sociedade.

Maika Pires Milezzi disse...

Estando em uma área (design) q a obrigatoriedade de formação nunca existiu e nunca existirá (embora muitos lutem pelo contrário), aprendi até a gostar da situação. Não nego que e a falta de técnica, na minha área, tenha um impacto negativo imenso no resultado final. Mas, definitivamente exigir formação não resolveria o(s) problema(s).
Quanto ao jornalismo, me desculpem se falo besteira, mas as qualidades que aprendi a avaliar em um jornalista, muitas vezes só se tornam piores na academia.

Na minha opinião, falta às pessoas fazer mais e se defender menos.

Wendel disse...

Fábio, mas convenhamos... se com os diplomados prédios já caem, imagina se o CREA começasse a aprovar prédios projetados por pedreiros fundo-de-quintal... Não se pode generalizar esse tipo de erros. Por outro lado, concordo que profissões que não ofereçam risco à população quando mal executadas podem ser praticadas por qualquer um: a capacidade e desempenho do profissional vão traçar seu destino por si sós. Como exemplo entra jornalismo, publicidade, fotografia... Um cara sem curso na área e que escreva textos horríveis jamais será lido; o que tira fotografias toscas jamais será apreciado. Mas fica por aí, ele não via matar pessoas com um prédio desmoronando (engenharia) ou esquecer tesouras em barrigas (medicina). Ressalto que não estou colocando níveis de relevância nas profissões, mas sim classificando os riscos que sua má execução possam causar a terceiros.
Abraço!

Unknown disse...

Fabinho, é claro q cada um vai puxar a brasa p a sua sardinha. Concordo c o Guto qdo ele diz q o importante é a melhora na qualidade da educação brasileira, algo q não interessa ao nosso pouco escolarizado Presidente e parceiros q desejam, apenas,a manutenção do poder e enriquecimento c o dinheiro público.É conveniente p estes senhores,q fazem e desfazem das leis transgredindo, cínica e abertamente, a Constituição e os Direitos Humanos, ter uma sociedade pensante? Já está provado q não. Uma dessas provas é essa, p mim, absurda não exigência do diploma d Jornalismo. Tenho muito medo q eles agora aprovem o (péssimo e desumano) trabalho(?) dos "dotores potétricos" metidos na minha linda profissão q levei 7 anos, entre graduação e pós, p exercer d forma digna e competente. E v sabia q no dia seguinte a aprovação pelo Supremo do não diploma várias empresas,lá na Corte, demitiram em massa profissionais diplomados p contratar estagiários estudantes ou não d Jornalismo? Q me diz disso? P alguém q domina um país mas não sua língua natal o baixo nível a q vai chegar nossa Comunicação é irrelevante.

por júlia eléguida disse...

como se ganha dinheiro com um blog? to te devendo um café, eu ainda sem diploma e tão desempregada.


bju

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