3 de outubro de 2009

A nau do saber pede socorro

Livros são armas perigosas para os governantes, porque fabricam cidadãos inteligentes, e estes não votam em gente sem escrúpulos. Político gosta mesmo é de asfalto, e a maioria odeia livros. Como não existe uma política de Estado para a cultura, e muito menos para o livro, a Ilha de Nossa Senhora dos Aterros vive à míngua no que se refere a essas questões.

Prova disso é que não existem bibliotecas públicas municipais na cidade. A única municipal, e não vale contar as das escolas públicas, porque são delas, fica no continente, e pertence, pasmem, à Secretaria de Obras. Sim senhores, é desse modo que esses caras veem os livros. Não me admirarei o dia em que, para recapar a Beira-Mar pela centésima vez (porque pra essa gente, asfalto bom é asfalto que se deteriora logo) usarão os livros da biblioteca Barreiros Filho junto com piche.

A única biblioteca pública da cidade fica na Lagoa. É pública porque é aberta, mas não é no que se refere à administração. A Barca dos Livros, que fica ali no trapiche, é ideia de cidadãs que trabalham de graça para manter o espaço navegando.

Tânia Piacentini, uma das idealizadores, lançou nessa semana um manifesto pedindo socorro para que o espaço e o acervo maravilhoso de que dispõe literalmente não naufrague. A nau do saber é mantida pela Sociedade Amantes da Leitura, e existe desde 2007. O problema é que manter um espaço aberto, e gratuito a todos, só com paixão pelo livro não resolve. De vez em quando a Barca consegue emplacar um projeto nas leis de incentivo, mas não dá para mantê-la sem um comprometimento efetivo e permanente do poder público. Afinal, é dever do Estado o incentivo à educação e à cultura.

Uma média de1,8 mil pessoas passam por lá todo mês, tanto para ler ali mesmo quanto para pedir livros emprestados. Em um ano, a Barca emprestou quase 20 mil livros.

Uma cidade que pretende ser referência turística deveria ter, pelo menos, uma biblioteca pública em cada bairro. Mas aqui na Ilha, parece até ridículo ter que pedir apoio público para o funcionamento de uma que é referência, que dirá pedir pela a abertura de novas. Desse modo, em breve, seremos a Capital do mangue ocupado, do patrimônio destruído, do asfalto podre, menos a de uma cidade de leitores, o que seria o sonho ideal.

Diário Catarinense, 3 de outubro de 2009.

9 comentários:

Julie disse...

Verdaaaaaaaaaaade verdadeira. Um dos melhores programas do mundo pra quem tem criança na família é ficar a tarde toda na Barca.

Obrigada pelo texto, Fábio!

ítalo puccini disse...

é triste isso, mas é fato.

leio teus escritos há tempo já, e não é a primeira vez que escrevesses sobre isso. e nem será a última, infelizmente.

abraço.

Nida Ollem disse...

Vi e aprovei, um dos temas da maratona fotográfica de Floripa, do ano passado, acho: http://www.flickr.com/photos/danielacucolicchio/3380072222/

Maloio disse...

«Em um país cada vez mais aviltado pelos pagodes institucionais das barbarizantes mídias e dos governos cada vez mais estúpidos (o que acaba refletindo em atitudes estúpidas)...» F. Bruggemann
- em algum prólogo de livro de poesias -
é, pois é, Mr. Bruggemann, mas não acho que apenas é culpa dos governos a falta de bibliotecas e livros e leitores... o povo é preguiçoso! Ler dá trabalho; ler não é apenas prazer; ler exige esforço. Então, acho que a tua via recapeada com livros e piche tem duas mãos: uma, os governos; outra, a população em geral que não larga mão de uma televisão e também de outros atrativos pouco culturais para, enfim, abrir um livro...
Abraço,
Maloio

ps.: é carecida a leitura de teu texto aos governos, porque eles não o encontrarão aqui ou no jornal por falta de prática de leitura.

Cibele disse...

Fábio,

Teu texto me inspirou a fazer alguma coisa para que a Barca siga em frente. Depois te conto.

Um beijo

Anônimo disse...

olá fabio Bruggemann, meu nome é augusto, moro em criciuma santa catarina.você ira em minha escola acho que mes que vem. E.E.B.G heriberto hulse.

eu irei fazer parte da comissão que ira recepiciona-lo em nossa escola.
gostaria que você me mandasse um outro meio que posso ter contato com você,(msn,email)para fins de conhecê-lo melhor. o que você gosta de fazer tirando escrever ,que tipo de musica você gosta,o que você aprecia
ou seja qualquer coisa que você gosta.

desde já muito obrigado em nome de todos.

meu msn: augustorezende_25@hotmail.com

meu orkut: augusto rezende içara

Matos disse...

Olá, Brüggemann. Somos alunos do Heriberto Hülse, estamos preparando o mega evento em Criciúma "Encontro marcado com o autor". Na busca incessante de informações sobre o autor homenageado, lemos o seu "post" sobre a cultura na Ilha da Nossa Senhora dos Aterros e coincidindo com a realidade da grande maioria das bibliotecas públicas, concordamos plenamente com o desprezo que autoridades públicas têm com a cultura e formação dos alunos. Estamos "antenados" em seus "posts". Até mais.

(Alunos: Fillipe, Leandro, Edgar, JUssara - 3004)

Luciana disse...

Olá, somos de Criciúma, da EEB Gov. Heriberto Hülse, e estamos participando do Projeto da Professora Lia Colomé: Encontro Marcado com o Autor, no caso, você.
Sou a Professora Luciana. Meus alunos e minhas alunas, formandos do Ens. Médio, e nós, professoras/es, estamos lendo seus livros, seu blog, crônicas, biografias, o que encontrarmos...
Você não é fácil, não, hem?! Brincadeirinha... Até o dia 24 de novembro...

bibi move disse...

não entendi como é que eles estão pedindo socorro já que ganharam o edital de pontos de cultura do governo federal: 60 mil por ano?!

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