17 de outubro de 2009

Por que não cumprimos leis?

Dois motivos levam os brasileiros a desrespeitar leis. Ambos têm a ver com a forma como compreendem a política, com letra maiúscula, como sendo uma coisa qualquer, e que serve apenas para se levar alguma vantagem em época de eleições, seja como eleitor, seja como candidato. Ambos os motivos são, a priori, promovidos e incentivados pelo Estado, nas suas mais variadas formas de poder. Numa espécie de motocontínuo social, elegemos políticos que não compreendem a essência da política e que, por conta disso, mantém um sistema oneroso, mantenedor de uma política que não privilegia o espírito público e a igualdade, e, ainda por cima, é ilegal. O primeiro é a impunidade. O segundo é o descumprimento, por parte do Estado, de leis que ele mesmo cria. Se nem o Estado cumpre as leis, por que a população deveria cumprir?

Um dos exemplos mais emblemáticos é o acordo feito entre o Estado brasileiro e o Vaticano que é escancaradamente inconstitucional. O parágrafo primeiro do artigo 11 do acordo diz: “O ensino religioso, católico e de outras confissões religiosas, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil, em conformidade com a Constituição e as outras leis vigentes, sem qualquer forma de discriminação”.

Trata-se de um desrespeito a outras crenças, além de inconstitucional (pois a Carta diz claramente que o Estado deve ser laico), essa preferência pela Igreja Católica. Além disso, o trecho acima é incoerente, porque fala em “matrícula facultativa”, mas “constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino fundamental”. A única cadeira que o Estado poderia oferecer seria a de história das religiões, mas não é o que acontecerá se diretores de escolas públicas quiserem levar esse acordo a sério.

Mas não moro num país sério, havia quase esquecido disso. Afinal, a Assembleia Legislativa do Estado e a Câmara de Vereadores da Capital cotidianamente violam a lei, mantendo crucifixos exatamente sobre a cabeça de seus transgressores presidentes. Cumprir leis para quê?

Publicado originalmente no Diário Catarinense, em 17 de outubro de 2009.


5 comentários:

Maloio disse...

nossos pontos de vista se cruzam, divergindo: ponto de cruz. e como, eu, apenas leitor...
'tá' aí um dedo enfiado nas fissuras das feridas: Política, Educação...
mas tanta preocupação com um crucifixo é bobagem perto do tamanho de outras "cruzes" por aí fincadas, pregadas; cruzes na minha cidade, na minha região, Capital, Estado, País... e eu nem me lembro de que tem imagem sobre o quadro da minha sala de aula. E antes de receber uma primeira pedrada, sou de catolicidade romana não praticante de longa data e ateu em divindades.
Abraço e excelente semana, Maloio - amém

yuu disse...

Olá Fábio!

Aqui é a Camila, da comissão de organização do projeto da UNIMED, da escola Heriberto Joseph Muller.
Adicionei o seu blogue.
Obrigado denovo pela presença de ontem, e me siga se puder.

Abraços, um ótimo resto de semana.

Anônimo disse...

Aqui é o kelvin a lidiane o edson e o fernando da organização do projeto da UNIMED, da escola Heriberto Hulse.
Estamos esperando sua presença aqui anciosamente.

Anônimo disse...

teu livro é muito bom
abraco

Unknown disse...

oii
estamus ansiosos por sua vinda em nosso colegio.
mesmo ainda não ter terminado de ler o seu livro estamos adorando o pouco que já lemos do livro.Pois é muito interessante.
bjus Keitty e Maiara

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