24 de dezembro de 2009

FÉRIAS E O BASTANTE

O mundo seria bem melhor sem as demarcações simbólicas. É lógico que seria outro, mas reside apenas no meio da palavra utopia. Imagino o mundo sem mapas com linhas imaginárias, nomes de países diferentes, e taxonomias de qualquer tipo e números. Para algumas tribos indígenas, depois de nove não vem o dez, mas o “bastante”. Que importância há se é onze ou se é bastante? Não faz diferença nenhuma para a existência se este mês é dezembro e se o próximo será janeiro, pois nada mudará. Mas que diachos nos faz pensar que alguma coisa será nova? Por que agimos desesperados, correndo como malucos para entregar projetos, trabalhos, fazer resoluções que não mudam nada a vida de alguém se concluirmos agora ou mais adiante? Por que atribuímos um nome e um número à passagem do tempo, essa coisa tão abstrata, a qual Santo Agostinho dizia saber o que era, mas que não sabia explicar?

Todos parecem esperar o novo, algo que mude sua vidinha prosaica. Mas não parece, porque se quiséssemos mesmo o novo, não seríamos assim tão velhos, tão apegados às tradições, tão atrasados no que se refere à convivência pública, nos modos de fazer política ou no jeito de tratar o que denominamos “outro”. Nos achamos modernos mas ainda estamos na pré-história, porque traçamos as tais linhas imaginárias e chamamos o reduto restrito de pátria, depois o entregamos ao primeiro corrupto ou ditador que encontramos. O que nos diferencia do velho é apenas, talvez, a grandeza quase metafísica da decolagem de um avião. De resto, pelo preconceito, pela destruição insana da natureza, pela insistência em achar que somos animais diferentes de uma bactéria (e no entanto ela ainda nos mata), somos tão arcaicos quanto o homem de Neardenthal.

Mas graças aos nomes que damos às coisas, terei algo a que chamamos de “férias”, depois de todo este “bastante” de dias a que chamamos de 2009. Tentarei, nos próximos vinte dias, ficar bem longe do que chamamos de “computador”, no que chamamos de Velho Continente, essa coisa que também nos dá a ideia abstrata de que é preciso de “bastante” informação. Até a volta, e fiquem com o texto saboroso e divertido do Victor da Rosa, que será chamado nas próximas quatro semanas de “interino”.



7 comentários:

Margarida Baird disse...

Boas férias, Fábio, esperamos ansiosos sua volta renovado e cheio de energia prá sentar a pua nos corruptos impunes deste paisinho de 5ª!
Grande abraço.

Anônimo disse...

entre tantos nomes que damos as coisas e atitudes, desejo alguns: descançar, viajar, conhencer, mudar, degustar, enfim, todos este conjunto de significados que vão completar outro: merecidas férias!

beto tavares

Anônimo disse...

damos tantos nomes as coisas e atitudes, então, lá vai meu desejo: descançar, viajar, conhecer, degustar, ler, parar ..... enfim, férias!

beto tavares

Maloio disse...

então que sejam os senhores-vinte-dias!
abraço, maloio

Alline disse...

Melhor do que esperar o novo é fazer o novo, inventar o novo.
Boas férias!!!

ítalo puccini disse...

boas férias.

eu me desliguei mesmo, também, de tudo o que nos faz correr durante o ano.

até o próximo texto.

Anônimo disse...

O visual do blog está mais leve. Resultado da viagem?

Abraço,

Angela

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