5 de junho de 2010

Direitos de ir e vir

É quase inacreditável que o aparato policial, cujo mandatário é o governador do Estado (o mesmo que só não pode ser processado, apesar de todas as gravações explícitas que o incriminam, apenas porque o ex-governador deixou de bandeja o cargo pra ele), ainda continua usando quase todo seu contingente para prender e bater em estudantes. Enquanto isso, casas são arrombadas, pessoas são assassinadas, automóveis são roubados, sem que toda essa “inteligência” militar possa conter.

Essa ideia de que o governo, usando ilegítima e ostensivamente a polícia para proteger não um patrimônio público, mas privado, que são as empresas de ônibus, é balela. A questão em jogo não é o direito de ir e vir do cidadão que usa automóvel, que é minoria, mas a do que não usa, que é maioria. O fato de a Ilha de Nossa Senhora dos Aterros ter o pior sistema de transporte e o mais caro inviabiliza, na verdade, o direito de ir e vir da maioria que usa o sistema. E o modo que essa maioria escolheu para protestar contra essa barbaridade é fazer passeata, porque usando de argumentos mais que sólidos e razoáveis parece que não funciona.

O debate que o Diário Catarinense promoveu com o vice-prefeito, João Batista Nunes, e com um dos manifestantes, Diógenes Moura Breda, mostrou quem tem mais argumentos e inteligência. O vice-prefeito, ao negar que a proposta de municipalização não será aceita porque não deu certo em outras cidades só não é mais infeliz do que a de ele mesmo mandar pra “sua cidade” aqueles que não gostam do sistema de transporte. Também não é verdadeira a informação de que não deu certo. Existem experiências bem interessantes em Fortaleza, e até mesmo a gestão de Erundina, em São Paulo, que, se “não deu certo”, como diz o vice-prefeito, não foi pela ideia em si, mas pela falta de fiscalização e pelos vícios políticos e administrativos das gestões posteriores. Mas isso é fácil de corrigir. Além do mais, a gestão do atual prefeito também não deu certo (principalmente porque não fez nada pelo direito à mobilidade, e ainda atrapalha) mas nem por isso vamos propor sua privatização.

Publicado originalmente no Diário Catarinense, 5 de junho de 2010.

2 comentários:

FlaM disse...

Sim é impressionante pensar o tamanho e o despreparo desse aparato policial! Mas acho estimulante pensar que a inviabilidade do sistema de transporte coletivo em Florianópolis afeta o direito de ir e vir de todos os seus moradores não apenas o dos usuários do sistema. A solução encontrada por aqueles que tem carro tem sido usar o carro - e não deixar a cidade, a "sua cidade", que é aquela em que moramos e cujos impostos nos cabe pagar etc. A questão em jogo é o direito de ir e vir do cidadão. Ponto. O que usa automóvel, que é minoria e o que não usa, que é maioria. A diferença é que o direito do segundo, não por acaso, figura como menos legítimo. Me parece óbvio pensar que um sistema de transporte público mais operacional (o que inclui pensá-lo mais cidadão e menos empresarial) aumentaria o número de usuários e de quebra produziria um barateamento e reduziria o fluxo de carros de passeio e os engarrafamentos. Mas a quem mesmo isso interessaria?

Anônimo disse...

Corretíssimo! Sou usuária de ônibus e tive que me mudar do Campeche pela porcaria que era e continuará sendo o sistema (des)integrado de ônibus. E os preços...
E a cara de pau desses governantes! O Ficha Limpa foi aprovado porque essa catrefa não é condenada jamais, haja saco!
Um abraço, funkeiro!
Margarida Baird

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