17 de dezembro de 2011

POR QUE SOMOS SÃO ESTÚPIDOS?

Para quem achou que seria um velho no ano 2000, no alto de seus 38 anos, chegar em 2012 beirando os 50 dá até uma certa nostalgia, aquela mesma que os mais jovens não suportam ver nos mais velhos. Não sou nostálgico, nem penso que o mundo é melhor ou pior do que antes. Por mais que estejamos numa espécie de caos urbano, de violência generalizada, de sermos guiados por um poder beirando à ignorância, eleitos por conta de nossa própria ignorância, ainda há inúmeras conquistas sociais, e dispomos de uma certa liberdade de ao menos podermos dizer o que pensamos sobre tudo isso.

Em outros aspectos, porém, vejo a ascensão de uma elite sem nenhum preparo político, intelectual ou moral para exercer o poder, mas o exerce. E essa mistura de ignorância política – a  qual leva a omissão social, com arrogância típica de classe média que encontra a verdade na revista Veja e no Jornal Nacional, mas nunca leu um único livro – é o que está matando o pouco que ainda temos de civilidade. A prova mais contundente é o quase linchamento, por parte de moradores da comunidade da Barra da Lagoa, de um grupo de supostos traficantes locais.

Mas o pior ainda não é o grupo se achar no direito de bater em quer que seja, é uma parte mais ignorante ainda da sociedade que se acha no direito de apoiar atitude típica de tempos de barbárie. Digo ignorante, porque por trás do discursinho vingativo social, ou do “estamos fazendo apenas aquilo que a polícia não faz”, está nas entrelinhas a ideia de que qualquer ato, discurso, desejo ou diferença do seu modo de vida, pode ou deve ser resolvido na agressão ou no linchamento.

Não precisamos ir muito longe. A Ku Klux Klan, liderada por brancos racistas norte-americanos, que durou até na metade do século passado, ou seja, não faz nem cem anos, usava esse mesmo discurso, de “limpeza social” para linchar negros, e, do mesmo modo como os moradores da Barra da Lagoa, também usavam capuzes.

Há outro discurso de uma parte da sociedade que “quase” aceita essa violência como desculpa pela omissão e pela estupidez do governo. Afinal, pagamos impostos em troca também de segurança, e, ao invés de lincharmos politicamente a omissão e o despreparo dos governantes que elegemos por estupidez e desinformação, preferimos matar nossos vizinhos. É um enorme paradoxo social.

No último domingo, fui levar um amigo na rodoviária, local, dia e horário sempre cheio de gente, indo e vindo, encontrando-se e se desencontrando. Ao chegar, um homem, típico de classe média, bem vestido, num carro também típico de classe média, sacou um revólver e ameaçou atirar em um rapaz, negro, que estava perto. Com muito medo, saí dali. O homem ainda me olhou com aquela cara típica de macho burro e armado, e é bem provável que tenha um emprego bacana, família, ou o que qualquer um diria: “gente de bem, de família”. O rapaz saiu de perto, não sem antes falar qualquer coisa a qual meu medo não me deixou ouvir.

Lembrei depois do plebiscito no qual votei contra o direito desse tipo de gente usar armas. Hoje, fui rever as estatísticas sobre crimes de arma de fogo. Todas confirmam o que eu havia escrito:  quem mais mata não são os supostos bandidos, mas pessoas bem vestidas e consideradas como sendo “do bem”, e por motivos fúteis. Isso tudo é apenas um sinal de que algumas coisas estão bem piores. Apesar de ainda existir gente capaz de se indignar contra a estupidez cada vez mais pungente da sociedade brasileira, e, aqui em na Santa e Brega Catarina, contra a ascensão de uma elite, como dizia Darcy Ribeiro: “infecunda”, e que vai pouco a pouco, por causa da falta de informação da classe média (a única que seria capaz de insurgir), tomando todos os poderes, desde as câmaras de vereadores, passando pela Assembleia Legislativa, pelo judiciário e – onde ela mais aparece – pelo poder executivo. Termina mais um ano, e continuo sem entender o motivo pelo qual ainda somos tão estúpidos.

A TARIFA MAIS CARA DO MUNDO

Graças à internet, faz tempo que trabalho em casa, o melhor escritório do mundo. Mas nesse ano, tive que me locomover do Centro ao Estreito, todas as tardes. A primeira ideia foi usar o transporte coletivo, mais barato, ecologicamente correto, tranquilo e seguro. Ou, pelo menos, é o que deveria ser. Depois de uma semana, decidi fazer uns cálculos para garantir minha decisão, que compartilho agora com o leitor, para que perceba o quanto a política de transporte urbano está equivocadíssima.

Meu carro velho faz 10 quilômetros com um litro de gasolina. Do centro até o Estreito, ida e volta, percorro 6,4 quilômetros. Se a gasolina custa, em média, R$ 2,70, eu gasto por dia, indo e vindo, menos de um litro, ou seja, mais ou menos R$ 1,40. Indo de ônibus, eu estaria gastando R$ 5,40. Obviamente, porque não sou trouxa de jogar o pouco dinheiro que tenho pela janela do ônibus, voltei a trancar as ruas, poluir a cidade e correr risco no meu velho automóvel.

Mas ainda tem uma questão. Se um coletivo, que transporta, em algumas linhas, milhares de pessoas por dia, e é uma concessão pública, há uma grave omissão dos poderes públicos em permitir uma tarifa tão absurdamente cara, para um serviço público tão essencial para a saúde urbana e mental da população desse ilha de Nossa Senhora dos Aterros, cada vez mais aterrada, poluída, insegura e ignorante.

Pelo melhor do ser humano e contra o pior aqui relatado, que 2012 seja bem menos estúpido do que 2011.

3 comentários:

Marlio disse...

Qdo me perguntarem porque hesito em voltar a viver no brasil, aqui estara' a resposta ...

Anônimo disse...

talvez 2012 não seja realmente o ano do fim do mundo, mas que está chegando com uma cara de ressaca prévia, ah, isso está!

Gabriel Gómez disse...

Fábio:
passo por aqui para darte un abraço virtual mas verdadeiro...
Um ano melhor de oportunidades, amizade e conquistas duradouras.

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