tag:blogger.com,1999:blog-381300412024-02-20T23:42:54.716-08:00blogue do brüggemanntextos, imagens e outras ilusõesFábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.comBlogger222125tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-51789262855151825692020-03-15T22:15:00.001-07:002020-03-15T22:15:14.679-07:00SOBRE O ÓDIO<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px;">
a cena mais emblemática da insanidade coletiva causada não pelo vírus, mas pelo mentecapto presidente, é a do governador ronaldo caiado, de goiás (está por aí na rede, fácil de achar) mandando o povo ir pra casa pra evitar que o coronavirus se espalhe.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
ronaldo caiado é um destes conhecidos sujeitos da direita, ligado ao agronegócio e apoiador do mentecapto. a estas alturas, com tudo o que já sabemos, e mesmo com o que já sabíamos, não dá mais pra dissociar o presidente débil e perigoso de quem o apoia.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
no começo do seu discurso, ao lado do carro do som, enquanto explica que apoia a besta, o povo ao redor o aplaude. em seguida, quando ele diz que é médico, o povo o apoia e aplaude.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
mas tão logo ele começa a explicar que, sendo médico, não pode se irresponsável, e por entender que se trata de uma pandemia, citando os casos no resto do planeta - e que por isto vai decretar o fim da manifestação - começa a ser vaiado.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
é mais ou menos, exagerando um pouco, como se uma galera estivesse apoiando deus, e deus aparecesse e dissesse: turma, eu errei, precisamos rever as coisas, e imediatamente começasse a ser vaiado. mas não porque assume que errou, apenas porque a patuleia quer continuar acreditando no que sempre acreditou. tipo: foda-se deus, eu acredito naquele de antes, não neste, que deve estar possuído pelo demônio.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
não tenho simpatia nenhuma pelo caiado. apenas penso no quanto essa cena é a que mais explica a insanidade coletiva.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
se o mentecapto um dia dizer que a facada aquela foi tudo armação, esse povo vai dizer que não. e não vai reagir porque foi enganado, mas justamente porque quer continuar sendo enganado.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
os apoiadores do sujeito são tão doentes, que o que os move não é mais nem o sujeito, é a vontade enorme de manter aquilo que o mentecapto representou desde o começo: o ódio à diferença, à liberdade, à criatividade, à razão, à ciência, à dúvida, à arte, ao conhecimento, ao outro que ele não quer que seja diferente dele, e por isto deve ser exterminado.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
esse povo que aparece no vídeo vaiando o governador, mesmo sendo ele médico e orientando, como médico, que ouçam um especialista - mesmo dizendo que apoia o idiota - bem lá no fundo, é capaz até de odiar o presidente, se um dia ele acordar com um mínimo de sanidade mental.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
o que move essa gente ruim que se diz do bem é apenas o ódio.</div>
<div style="background-color: white; color: #1d2129; display: inline; font-family: 'Helvetica Neue', Helvetica, Arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-top: 6px;">
um ódio por não ter coragem de ser livre, e por isto quer exterminar os livres, para não enxergá-los em sua plena liberdade, e não mais sofrer com a liberdade alheia.</div>
Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-77710663627839204282018-10-17T12:46:00.001-07:002018-10-17T13:17:01.788-07:00POR QUE BOLSONARO É FASCISTA?<div class="" data-block="true" data-editor="ekg6n" data-offset-key="98mek-0-0" style="background-color: white;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="98mek-0-0" style="direction: ltr; position: relative; text-align: justify;">
<ul>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"> POR QUE </span>BOLSONARO<span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"> É FASCISTA?</span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"> </span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">A palavra fascismo veio para a língua portuguesa do latim <i>fasces</i>, que significa “feixe”. Na maioria das línguas neolatinas o radical permaneceu. No italiano, ficou como </span><i>fáscio</i><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">. No Império Romano, a palavra fasces já era usada para nomear “um feixe de varas amarradas em volta de um machado”. Quem usava o </span>instrumento<span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"> era o judiciário romano, vejam só, para castigar, e muitas vezes decapitar, cidadãos que não concordavam com o Império.</span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">Na Segunda Guerra, Benito Mussolini recuperou a expressão, porque a ideia de feixe, de “todos juntos”, de “temos que pensar todos da mesma forma”, atraiu boa parte da população. Porém, nem todas as pessoas comungam da mesma opinião, nem têm as mesmas práticas, não compactuam das mesmas religiões, enfim, nem concordam igualmente sobre pontos de vista político, econômico, cultural, estético, educacional, sexual etc. O Fascismo não tolera a diversidade. </span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">Em alguns debates e artigos, tenho lido e ouvido deturpações sobre o significado de Fascismo. Se considerarmos a ideia de “feixe”, o uso no Império Romano e na Segunda Guerra, é fácil entender que nada tem a ver com opções econômicas, pelo menos não no raso. Mas é óbvio que, no fundo, os modos como governos lidam com as políticas públicas e a economia podem ser também fascistas. Por isso, não considero compreensíveis expressões como “ditadura de direita” ou “ditatura de esquerda”. Não existe esta diferença. Toda ditadura é fascista <i>a priori</i>, porque elimina o outro e o pensamento do outro. Aliás, </span>elimina<span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"> o outro para que o pensamento do outro se apague. E antes que alguém venha falar sobre </span>Stalin<span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">, já adianto, por este conceito, se levado à risca, ele foi tão fascista quanto Hitler.</span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">Quando ouvimos as falas do candidato Jair </span>Bolsonaro<span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"> é bem fácil identificar ideias e comportamentos fascistas. Ele não admite ser contrariado, e acredita, como já disse textualmente, que “no fundo ninguém gosta de homossexual”, o que é uma falácia enorme. O fascista manipula conceitos porque não consegue ter um pensamento dialético. Várias vezes o candidato fala em “proibir” livros, “proibir ideologias”, proibir propostas educacionais que não estejam de acordo com a sua, quando, por exemplo, propõe que os </span>ideiais<span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"> do educador Paulo Freire sejam banidos. A vontade de proibir denota a falta de convivência harmoniosa com o contraditório. </span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">A despeito disso, de gostar ou não do método educacional de Paulo Freire, uma sociedade que não permite a diversidade de pensamento tenderá a se autodestruir. Aliás, um dos princípios da teoria evolucionista diz que a espécie humana só sobreviveu e dominou o planeta (a estas alturas eu complemento com: “que pena”) porque as etnias se misturaram. </span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">Quando </span>Bolsonaro<span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"> afirmou que “fecharia o congresso na mesma hora”, que “mataria inocentes se fosse preciso”, que “a ditadura matou pouca gente”, só denota a marca da violência contra o outro. Uma assembleia é justamente uma reunião de cidadãos que representam (ou deveriam representar) os mais variados anseios de uma sociedade. Quando um candidato se propõe a “fechar” o Congresso, como os militares fizeram após o golpe de 1964, está eliminando o debate, a ideia do adversário, a voz do adversário, na falsa crença de que as </span>opiniões<span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"> dos discordantes morram também. O que é uma crença totalmente irracional. Portanto, é inútil proibir. Ninguém deixará de amar uma pessoa do mesmo sexo porque um governo não quer. Ninguém deixará de ler alguns livros porque um governo não quer. Ninguém deixará de pensar ou agir de determinado modo porque um governo não quer. Estes pensamentos todos, se forem proibidos no âmbito político, porque no social continuará existindo, ainda que escondido, talvez até se fortaleçam.</span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">Todo embate político (não esquecer nunca a ideia de política como o debate sobre a <i>polis</i>, a cidade) necessita do adversário, aquele que versa diferente de você, mas que você pode argumentar contra, jamais destruir. O embate político, mesmo que não seja totalmente consensual, é a convivência pacífica dos contrários e do respeito ao outro. Porém, o Fascismo não tolera o adversário. O fascista só enxerga o outro como sendo inimigo, não como adversário. E para o fascismo, os inimigos devem ser calados e abatidos, até que sobre apenas uma massa amorfa, tediosamente igual, como queria o </span>líder<span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"> nazista </span>Adolf<span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"> Hitler, também fascista, se considerarmos tal significado.</span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">Para o fascista, já que não existe a ideia de adversário, perder nas urnas é quase uma ofensa. O fascista não suporta perder. Todo fascista é corrupto, porque legitimar ou incentivar o uso corrente dos verbos “matar”, “eliminar”, “proibir”, “estuprar” é também corrupção, porque a palavra, que também vem do latim (</span><i>corruptio</i><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">), significa, entre outras acepções, "deterioração", "decomposição", "modificação", "rompimento" e suborno. Ora, quando um candidato faz apologia ao racismo, à misoginia e à violência, também está corrompendo </span>ideais<span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"> e pressupostos legais de uma sociedade que optou pela diversidade, não pelo “feixe”, não pelo “todo mundo tem que pensar igual” e agir de forma igual.</span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">Negar que o candidato carregue e propague ideias fascistas é também uma atitude fascista, porque não racional. Afinal, o que faria o candidato com praticamente a metade da população que pensa o oposto dele? Como o fascista não suporta o contrário, está bem claro, seja no discurso, seja nos atos, que a tendência é eliminar. Primeiro elimina-se pensamento, depois o corpo, caso insista em pensar. O fascista não tolera a razão, por isso usa na sua retórica os arroubos apaixonados, ainda que suas palavras sejam vagas e cujas propostas sejam inviáveis sob </span>o ponto<span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"> de vista da democracia. Só para lembrar, a democracia não significa a vontade da maioria, como o próprio Bolsonaro já disse, mas sim o respeito da maioria para com as minorias. E aqui, não estou falando de questões econômicas, mas sob o ponto de vista moral, que é de onde sai a retórica do fascista. Não à toa, os primeiros atos do fascismo são sempre proibir livros, filmes, obras de arte e músicas que tenham outra ideia que não a do fascista.</span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">Por isto, ainda que eu não concorde com alguns modos de agir do PT, votarei contra o fascismo que nos assombra, porque já sabemos que, com Fernando </span>Haddad<span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">, não seremos mortos ou censurados quando precisarmos discordar ou protestar. Afinal, ele é professor e nada de seu discurso ou de suas práticas o desabona sob o ponto de vista deste conceito. A Frente Popular governou 14 anos com o Congresso aberto, participou das eleições aceitando os resultados, permitiu que a Polícia Federal investigasse, deu força ao Ministério Público, estabeleceu as audiências públicas para novas leis (talvez a instância mais democrática de exercício de poder), e sei porque participei de várias. Nem sempre o resultado foi consensual, mas todos eram ouvidos, sem exceção. De todas as que participei, os votos da maioria foram respeitados.</span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">Se errou, há provas de que sim, mas sabemos também que houve participação ativa de uma parte do judiciário em conluio com o grande capital para incriminar líderes apenas com indícios, </span>confrontando<span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">, no caso de </span><i>habbeas<span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"> </span>corpus</i><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"> o artigo 5 da Constituição Federal. </span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">Mas viva a contribuição milionária de todos os erros, como dizia </span>Oswald<span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"> de Andrade. O que não dá é para aceitar que um candidato banque como moralista sem ter moral, notadamente expressa no seu próprio discurso. Que moral há em apregoar o assassinato? Jair </span>Bolsonaro<span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"> é intolerante, é um tiozinho tosco, porque conheço alguns assim na família, herdeiros da intolerância religiosa, e traz consigo, pelo ideal fascista que propaga, um perigo enorme para a democracia. Prefiro, neste caso, saber que se precisar ir às ruas ou escrever contra </span>Haddad<span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">, eu poderei fazer isso. </span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><span style="line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"><br /></span></span></li>
<li><span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">Do contrário, minha profissão estará extinta, minha voz será apagada e meu </span>corpo<span style="color: #1d2129; font-family: "georgia" , "times new roman" , serif; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;"> talvez desapareça, porque não há exercício dialético e de liberdade num regime fascista.</span></li>
</ul>
</div>
</div>
<br />
<div class="" data-block="true" data-editor="ekg6n" data-offset-key="a366j-0-0" style="background-color: white; color: #1d2129; line-height: 18px; white-space: pre-wrap;">
</div>
<br />
<div class="" data-block="true" data-editor="ekg6n" data-offset-key="au1iv-0-0" style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: white; color: #1d2129; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: normal; letter-spacing: normal; line-height: 18px; orphans: auto; text-align: start; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: pre-wrap; widows: 1; word-spacing: 0px;">
<div class="_1mf _1mj" data-offset-key="au1iv-0-0" style="direction: ltr; font-family: inherit; position: relative; text-align: justify; white-space: pre-wrap;">
<span data-offset-key="au1iv-0-0" style="font-family: inherit;"><br data-text="true" /></span></div>
</div>
Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-90429704694425324942017-06-09T20:11:00.000-07:002017-06-09T20:35:23.273-07:00CONTRIBUIÇÕES PARA UMA NARRATIVA À HISTÓRIA DO GOLPE<div class="p1">
CONTRIBUIÇÕES PARA UMA NARRATIVA À HISTÓRIA DO GOLPE<br />
<br /></div>
<div class="p2">
<br /></div>
<div class="p1">
<div style="text-align: justify;">
o processo que acaba de ser julgado no tse foi proposto por aécio neves, assim que soube de sua derrota para dilma roussef. </div>
</div>
<div class="p2">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<div class="p1">
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segundo ele mesmo, propôs a ação, em nome do psdb, apenas para "encher o saco". </div>
</div>
<div class="p2">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="p1">
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mas antes de sabermos da intenção, outra declaração, dele ainda, disse que comandaria uma oposição sem tréguas contra dilma, o que de fato aconteceu. não sem antes juntar com a parte podre do pmdb (diga-se cunha e temer). </div>
</div>
<div class="p2">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="p1">
<div style="text-align: justify;">
só que, antes disto, o psdb, junto com parte do pmdb, crente que talvez nem a ação agora julgada, nem as armações do congresso aludidas por aécio pudessem dar certo, encontrou outro motivo: o impedimento por crime de responsabilidade. a tal pedalada fiscal. por incrível que pareça, nem a oposição sem tréguas, nem a ação julgada hoje foram tão eficazes quanto a ideia de pedalada fiscal. </div>
</div>
<div class="p2">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="p1">
<div style="text-align: justify;">
talvez, suponho eu, seja pelo fato de que a maioria da população não sabe do que se trata “pedalar fiscalmente”. e mais, que isto possa ser considerado como sendo “crime de responsabilidade”. talvez pouca gente saiba o que é “crime de responsabilidade”.</div>
</div>
<div class="p2">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="p1">
<div style="text-align: justify;">
quanto menos uma população sabe, menos ela pode atuar contra ou a favor. tanto que, nos discursos oficiais e na boca da classe média, se diz que dilma saiu por corrupção e por causa da operação lavajato. o tal “conjunto da obra”, como um deputado destes aí disse. o que não é verdade.</div>
</div>
<div class="p2">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="p1">
<div style="text-align: justify;">
independentemente do processo de impedimento, a ação proposta por aécio e o psdb corria faz dois anos. a justiça é lerda neste país lerdo, todos sabem, tanto pro bem quanto pro mal. talvez ela até seja mais célere quando é pra defender a elite.</div>
</div>
<div class="p2">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="p1">
<div style="text-align: justify;">
acontece que, o golpe (o impedimento da dilma), uma ação conjunta do psdb do aécio e o pmdb do cunha e temer, aconteceu porque, supostamente, dilma teria deixado a pf e o mpf à vontade para investigar todos os crimes de corrupção, inclusive os de seus aliados. </div>
</div>
<div class="p2">
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
<div class="p1">
<div style="text-align: justify;">
mais do que isto, a classe empresarial, aliada à mídia majoritária, nunca engoliu o sapo barbudo (como o chamava brizola) do lula, que promoveu, a despeito de seus inúmeros equívocos políticos (notadamente o de ter se aliado ao pp e ao pmdb) extensa reforma de cunho social, inaugurou centenas de cursos superiores e institutos de educação federais, reduziu a pobreza e a consequente desigualdade (que ainda são enormes), promoveu debates nunca antes feitos sobre direito de minorias, deu voz a inúmeros tabus (sobre descriminalização do aborto e do uso de drogas, por exemplo), fez crescer o consumo de produtos e serviços da classe mais pobre, levantou o debate sobre a regulamentação das ondas públicas de comunicação, enfim, coisas que estão aí na história para qualquer um acessar. do mesmo modo, falhou imensamente em relação àquilo que se esperava do pt: as reformas mais do que essenciais: trabalhista, política, previdenciária, eleitoral, fiscal, agrária e, principalmente a educacional. além, é claro, de todas as suspeitas de corrupção que recaíram sobre inúmeros petistas.</div>
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porém, a elite patrimonialista não se interessa por nenhum destes temas. a elite quer mesmo é jamais perder privilégios. tanto que quando falo em reformas, de modo algum é para defender o modo como estas (principalmente a trabalhista, a previdenciária e a educacional) estão sendo feitas. sempre esperei, de um governo comprometido com a maioria (sem jamais esquecer as minorias, coisa que fhc já teria dito que é impossível inclui-las) que tais reformas fossem feitas sob o ponto de vista de uma paridade real do capital com o trabalho, e pelo fim absoluto dos privilégios. não deu certo, e coloco na conta disto o fato de que não se faz reformas includentes com parceiros que pensam o contrário. </div>
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o psdb, nunca esquecemos, foi o partido que perdeu as eleições. mas por conta da tramoia da oposição sem trégua do aécio no congresso, e pelo fato de muitos de seus líderes (serra e aécio principalmente) estarem envolvidos na operação lavajato, seria melhor tirar dilma de qualquer jeito, com impedimento, com ação por campanha supostamente criminosa, ou mesmo com paralisação de projetos do executivo no congresso. mas o presidencialismo de coalizão não perdoa. como haver coalização quando os interesses não são coesos?</div>
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o mais assustador é que o golpe, apesar de ser tão explícito, foi comprado pela classe média (a elite já não está nem aí com legalidades e com comprometimento) e a pequena burguesia justamente por não compreenderem tudo isto. e digo que está explícito porque poderia há uma narrativa bem clara. a gravação da conversa de romero jucá e machado dizendo que “com a dilma não tem conversa”- aludindo, obviamente, ao fato de ela não impediria a pf de fazer seu trabalho - e que faria acordo com o supremo, com tudo, é só o começo de tudo. </div>
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não esquecer que jucá e machado estão comprometidos até o talo na lava jato, assim como a maioria dos ministros indicados por temer. muitos deles já caíram - seja por trapalhada, seja por corrupção.</div>
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portanto, como alguém pode pensar que não se trata de golpe se o presidente interino (sempre vou chamá-lo assim) convida o próprio psdb (o perdedor da eleição) para governar junto? ninguém se toca disso? mas é o que está acontecendo. se o projeto neoliberal do psdb perdeu, como agora está no poder, promovendo justamente reformas neoliberais? obviamente porque tramou um golpe com o vice-presidente para assumir parte do executivo, mesmo tendo perdido a eleição. reverter uma legalidade por uma ilegalidade </div>
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e um modo de golpe. não seria golpe se temer mantivesse a mesma política de inclusão (com todas as críticas que devemos fazer ao que o govero do pt não fez) proposta pelo pt.</div>
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mais do que tudo isso, o que sempre esteve em jogo, mais do que a malfadada corrupção, foi o projeto de país que ser quer. a elite, patrimonialista, privilegiada, sempre conseguindo o que quer (inclusive no governo lula), empréstimos no bnds, corrompendo licitações, sonegando impostos, privatizando o que pode, e contrária a qualquer projeto que possa ser gerenciado de forma razoável pelo poder público (se fosse, no caso o brasil, uma república que guarde minimamente o conceito que se conhece como república). </div>
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a esquerda, por sua vez, ou a parte que esteve no poder (sem esquecer que lula sempre foi o mais à direita dentro do pt), nunca soube modernizar-se, sequer na linguagem. usou dos mesmos discursos da elite, da mesma sintaxe, das mesmas palavras de ordem, gesticulou da mesma maneira, usou os mesmos ternos, enfim, compactuou feio, apenas para poder fazer um décimo do que nós, de esquerda, gostaríamos que tivesse sido feito. </div>
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mas não é possível, ao fazer a crítica, abandonar os princípios e os projetos de esquerda, como muita gente fez, tomando partes pelo todo. conheço muita gente que se decepcionou com o governo dilma atribuindo sua própria decepção à ideia de que os governo pt foi mesmo de esquerda. uma coisa é criticar esta ala da esquerda, outra é abandonar princípios minimamente progressistas de esquerda, aceitando as teses da elite, da continuidade de seus privilégios, e começar a sentir pena do empreendedor que não emprega mais porque tem muitos direitos trabalhistas. ora, um dos princípios do direito é regular, propor regras quando uma parte tem mais privilégios do que outras. o direito trabalhista se constituiu a partir de casos terríveis de exploração do capital sobre o trabalho. </div>
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a tese, vendida à exaustão, de que o serviço público é ruim e que sempre será corrupto, é uma das maiores falácias vendidas pela mídia e boa parte dos mal informados e que têm apenas frases feitas como argumento. afinal, quem corrompeu o serviço público não foi o privado? quem abandonou as escolas públicas estaduais e municipais em favor das escolas privadas, para dizer que as públicas não funcionam? não é possível continuarmos a matar o cachorro para acabar com o carrapato. e é esse o argumento não explicitado que as elites propõem. ah, com o serviço público do jeito que está, melhor é privatizar. mas quem corrompeu, pergunto de novo, não foi o privado?</div>
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hoje, num placar de 4 a 3, ministros do tribunal eleitoral não cassaram a chama vencedora de 2014. talvez tenha sido o julgamento mais inútil da história dos processos eleitorais (dificilmente desassociados do político). sem que muitos tenham se dado conta, quem venceu esta ação foi dilma roussef. ela era a cabeça de chapa, e ganhou porque, com os processo julgado procedente ela perderia também os direitos políticos.</div>
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mas poderemos especular o resto da vida, diante das falas dos ministros, sobre a contradição totalmente exposta que o relator fez de votos passados do presidente da corte, o pra lá de controverso gilmar mendes: se dilma roussef não tivesse sido impedida, se ela continuasse governando, o placar seria o mesmo? </div>
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claro que é especulação, mas como todos já haviam alardeado o placar, sinal de que três dias de julgamento não serviram para nada (porque apesar dos argumentos e contra argumentos, cada ministro já sabia como votar), só nos resta pensar que a chapa, sim, seria cassada, talvez até por um placar nem tão apertado. e o que é pior, alguém, mais cedo ou mais tarde, diria que foi pelo “conjunto da obra”. ou seja, às favas o processo jurídico, porque o que importa mesmo é deixar tudo como está, com supremo, com tudo.</div>
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por fim, continuamos com um presidente interino, o qual todos ouvimos e conhecemos, sejam pelas gravações (com a jbs), sejam pelas contradições (o tal jatinho), seja pela narrativa explícita do golpe (pmdb com psdb), que ficará no poder, salvo uma explosão popular de consciência (a qual não teremos), promovendo as reformas que privilegiarão a elite patrimonialista de sempre, até 2018. </div>
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depois de 2018 ninguém sabe o que será. mas com certeza, restará bem pouco de república para reconstruirmos minimamente os reais interesses difusos e coletivos da nação.</div>
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apesar dos supostos arrependidos em terem votado no aécio, poucos ainda admitem, mesmo com todas estas questões postas, que dilma não tenha sido derrubada por um golpe. e isto é o mais triste de tudo, porque quem perdeu foi a democracia, porque, mesmo que ela tenha sido incompetente, e isto é outro debate, no âmbito da economia, não se tira presidente por incompetência, porque não está em lei nenhuma isto.</div>
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e mais, acredito também que existe um componente misógino muito grande que ajudou a construiu o golpe. mas isto é assunto pra outra hora. </div>
<br />
ilha de nossa senhora dos aterros, 10 de junho de 2017.</div>
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<br /></div>
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<br /></div>
Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-65049230144536805362016-03-25T13:16:00.001-07:002016-10-14T14:00:47.679-07:00POEMA DO BOM CRISTÃO<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px;">
POEMA DO BOM CRISTÃO<br />
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
cristão bom - o autoconsiderado "cidadão de bem" - é aquele que vai à missa dar porrada em arcebispo porque acha que ele é comunista. pode até não concordar com a agressão, mas ainda acredita que o arcebispado não combina com o comunismo.</div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.32px;">
<div style="margin-bottom: 6px;">
cristão bom não gosta de ler marx, porque se o lesse, saberia que cristo tem todas as características de um anticapitalista: distribuir o pão, não se interessar por coisas materiais e morrer na cruz por todos, inclusive os não cristãos bons.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
cristão bom quer andar armado, apesar de cristo ter dito que daria a outra face ao inimigo.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
cristão bom é aquele que, apesar de cristo ter derrubado os capitalistas do templo, não percebe que o capitalismo é excludente por natureza.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
cristão bom é aquele que acredita que só é "cidadão de bem" aquele que trabalha oito horas por dia, para os outros enriquecerem. estão de fora os artistas e pensadores. cristo era um pensador.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
cristão bom é aquele que esquece que cristo não trabalhava formalmente, e que disse um dia para que olhássemos os lírios do campo e as andorinhas que não precisavam trabalhar.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
cristão bom acredita que a pena de morte resolve todos os problemas. afinal, cristo sofreu pena de morte, apesar de ser considerado pelos cristãos bons um inocente.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
cristão bom não gosta de perdoar. cristão bom chama o próximo de ladrão mesmo sem ter provas da acusação.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
cristão bom não gosta de seu irmão (termo essencialmente cristão) que mora na rua, da sua irmã puta, do seu irmão preto, do seu irmão pobre (apesar de ser, em sua maioria), dos irmãos veados, das irmãs lésbicas, porque acredita que estes não são filhos de deus, contrariando assim o pensamento máximo de cristo, de que todos somos irmãos.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
cristão bom não come carne na sexta-feira santa, porque é cristão bom, apesar de comer carne todos os outros 364 dias do ano.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
cristão bom subverte a semântica a seu prazer imediato, de acordo com sua própria interpretação da figura mitológica de cristo, revogando, assim, tudo o que cristo tenha dito ou feito.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
cristão bom acredita em cristo, mata por cristo, xinga por cristo, discrimina por cristo, exclui por cristo.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
cristão bom dorme como um bom cristão, com a consciência tranquila, apenas porque se considera um cristão bom.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
cristão bom continua atirando a segunda pedra.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
cristão bom é o que se autodenomina "não praticante".</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
98% da população brasileira respondeu dizendo ser cristão bom, os outros 2% devem ir para o inferno.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
cristão bom não acredita em estatísticas que o exclua da lista de cristãos bons. talvez seja por isto que se declara cristão bom, apesar de "não praticante".</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
cristão bom: eu não sou.</div>
</div>
Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-53936742848324623602016-03-10T15:38:00.001-08:002016-03-10T19:01:34.573-08:00a água suja com o bebê dentro<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;"><span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">A água suja com o bebê dentro<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">O ex-presidente Lula foi citado uma vez na delação do senador
Delcídio, na qual o próprio diz que não a fez, que a Procuradoria Geral da República diz que não
existe e que o STF sequer homologou. Por conta disso, foi coercitivamente preso
e teve que dar explicações ao juiz de Curitiba dentro de um aeroporto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">O candidato derrotado nas últimas eleições, senador Aécio Neves,
acaba de ser citado pelo mesmo Delcídio, na mesma delação, além de já ter sido
citado por pelo menos outros quatro delatores, na mesma “Operação Lavajato”. Por
conta disso, o placar está cinco a um para Aécio, mas não foi levado à força, sequer convidado amigavelmente a depor.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">Não acho justo defender Lula atacando Aécio, como muita gente
está fazendo, mas para um debate ser justo - e é disto que se trata este texto
- não há outro modo de refletir sobre os fatos do que comparar os critérios
aplicados pela justiça, principalmente no âmbito desta operação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">Não é por Lula, nem por Aécio ou por qualquer outra ação da
justiça cada vez mais injusta, mas por mim e por aqueles que atacam Lula sem
conhecimento jurídico, desconhecendo os meandros da operação, sem ter lido a
constituição e sem capacidade cognitiva (apenas 8% da população afirmam as estatísticas)
para ler até o fim este texto, porque se aceitarmos de agora em diante que a
justiça pode “escolher” o delatado a ser investigado, isso pode virar
moda, e adeus qualquer confiança na justiça, tanto para mim como para
qualquer um de nós no país.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">Portanto, está em jogo a justiça para todos, tanto aos que acham
que o Lula deve ser preso quanto aos que acham que Aécio, Cunha ou qualquer
outro possa também ser preso sem os devidos procedimentos legais, como
aconteceu durante a ditadura.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">Um dos argumentos que sempre uso contra a pena de morte, além do
horror e da barbárie que ela representa (mas são adjetivos inválidos para os
incautos, eu sei) é que ela valeria para todos, inclusive aos inocentes que um dia
a defenderam. A história tem provas cabais de mortos inocentes.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">O juiz de Curitiba tem, ou teve, vários processos contra ele já
julgados, tanto no STF quanto na Corregedoria do CNJ. Houve indícios -
desconsiderados, porém com declarações fortes contra o mesmo - de que suas
sentenças, num caso específico, principalmente sobre um </span><i><span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">habeas corpus</span></i><span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">, eram, vamos dizer assim, “suspeitas”.<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>E isto é público, basta consultar no
sítio do STF e do CNJ.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">Não consegui confirmar se as notícias de que o pai e a mulher do
tal juiz são membros do PSDB, como dizem por aí. Mas há uma foto (comprovadíssima como verdadeira,
porque, sim, devemos duvidar de tudo nas redes sociais) do mesmo juiz num
encontro público com o pré-candidato a prefeitura de São Paulo, Jorge Dória. De
que partido? PSDB.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">Sair às ruas para defender o impedimento de Dilma é
meio que “pagar um micão” de tolo numa hora destas. Primeiro, porque não há nenhum inquérito
contra ela. Existem indícios, que é mais ou menos como fofoca. Mas no universo
da política partidária, indiciar, que tem a mesma raiz que nos deu "apontar o dedo" (que se chama "indicador") é a coisa mais fácil do mundo. Basta apontar e dizer:
“ela roubou” e pronto. Em um estado de direito que preserve o direito de defesa de um cidadão, qualquer
um, para afirmar que alguém roubou você tem que primeiro provar. Tanto é que
existe o “flagrante”, para que nenhum inimigo seu fique te acusando, ou te apontando, por coisas
que você não fez.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">É óbvio que as apurações da Lavajato devem continuar. Mas julgar
sem ver não é mesmo coisa de cristão ou de católico, nem mesmo de qualquer um
que diga crer em qualquer deus. E como tenho percebido, os valores “cristãos”
de honestidade, dar a outra face, não usar a violência, não têm nenhuma
importância para aqueles que usam destes mesmos preceitos na hora de tentar
tirar uma presidenta legitimamente eleita, mesmo que não exista sequer uma
linha de acusação contra ela. Há indícios,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>como já disse, mas há também contra FHC, muito mais contra
Aécio e muito mais gente que não tolera ter perdido as eleições nas urnas. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">Dilma tem feito coisas das quais não considero como certas, e não votei nela para isto, é certo. Mas falo por mim, não por ninguém. Não gosto da Kátia Abreu (porque
ela defende as ideologias do capital), não gostava do ex-ministro da fazenda
(pelos mesmos motivos). Nunca gostei da aproximação do PT com essa rapaziada
“de sempre”. Este foi o grande erro do partido, pra tentar governar e aplicar os programas que acreditavam serem justos, os quais eu acredito
até hoje. Quem tem mais de 20 anos de idade sabe muito bem do que estou
falando. Quem se alia com o inimigo não governa um país, governa crises com o inimigo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">O movimento popular mais legítimo não poderia jamais ser por
causa deste ou daquele político (ainda que eu tenha preambulado por uma
parcialidade da justiça, que hoje não existe), mas por uma mudança radical no
sistema político, que tenha em foco, principalmente, o modelo de
representatividade. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">Não pode ser mais deste modo, porque corremos o risco de tirar a
Dilma e colocar um idiota (no sentido mais grego da palavra) como o Aécio. Não tem mais sentido o
presidencialismo. As decisões políticas não podem ficar na mão de uma pessoa,
num país tão imenso e tão diverso social e culturalmente. Sei que a maioria das
decisões são colegiadas, mas não adianta tirar o Cunha (e a parcialidade da
justiça é o que faz com que ele ainda não tenha sido cassado). Contra Cunha não
há indícios, existem sim provas cabais contra ele, todos já viram.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">Se é para sair às ruas e lutar contra alguma coisa tem que ser
por mudanças estruturais profundas. E isto, nem PT nem PSDB, muito menos o PMDB
(pra falar dos maiores) querem, porque o que interessa a eles é manter uma estrutura
que funciona para eles, não para a sociedade. Mas quem está propondo isto?
Talvez o único partido seja o PSOL. Mas estamos, nós que lutamos contra uma
ditadura, que faz mal até hoje ao país, vacinados contra um discurso
bonito que pode se transformar em uma prática contrária, como fez o PT se
aliando ao extinto PL, ao Maluf, ao Sarney, ao agronegócio e, com o pior dos
piores, o PMDB.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">Quem tem um pouquinho de lucidez, que consegue pensar com mais
de meia-dúzia de palavras, deve propor uma grande mudança no sistema político
representativo. Não há sentido a
permanência no poder de um executivo que não obtenha maioria no legislativo.
Fica ingovernável. Não dá para incluir as agendas mais importantes em pauta com um
chefe de legislativo como inimigo. É óbvio que o inimigo vai minar suas pautas,
mesmo que tenha sido eleito junto, como é o caso do PMDB e Eduardo Cunha. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">No parlamentarismo europeu, ou grande parte dele, a maioria do
congresso é que escolhe o primeiro ministro, que será o chefe de governo, ainda
que o chefe de estado (sim, são coisas distintas) tenha outra função, que é a
de preservar as coisas públicas. Um governo governa com a maioria,
desde que não ultraje a constituição e saqueie a coisa pública, no sentindo
latino mais literal: a </span><i><span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">res
publica.</span></i><span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">É claro que o PMDB, assim como o PSDB tem quadros capacitados e
inteligentes, assim como o PT. E é uma pena que a população não tenha
capacidade intelectual para pensar sobre isto. Grita “fora PT” como se o PMDB
não fizesse parte do governo, e como se os problemas do país fossem sanar
imediatamente após a saída da presidenta Dilma ou do PT do governo. Não vai. Se não pensarmos em um
novo modelo de representatividade e numa reforma política imensa e radical, vai
sair um néscio para entrar outro, vai sair um corrupto para entrar outro. E não
falo apenas do executivo nacional. O mesmo acontece nos municípios e nos
estados. A mudança tem que ser profunda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">E não devemos esperar que o sistema político vigente modifique
este quadro. Eles não querem mudar, querem apenas permanecer no poder, de um semi-socialismo
para um ultra capitalismo, como acontece na Argentina agora. Somente a união do povo, como aconteceu na Islândia (guardadas as devidas dimensões territoriais dos dois países), pode modificar este quadro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">Da minha parte, é óbvio ululante que prefiro o socialismo, e não
é ele o mal em si, mas o modo como estes quadros que se dizem socialistas (e o
são em parte apenas) conduziram as principais questões, tanto econômicas quanto
sociais, culturais, etc.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">Se o PT não romper imediatamente com a direita e seus programas,
se esquecer seus aliados históricos, a classe trabalhadora e uma boa parcela
dos intelectuais que ajudaram o partido a governar tanto tempo, se não se
refundar, corremos o risco de dar de presente à extrema direita o argumento de
que o “socialismo” falhou no brasil.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">Só que não falhou, porque ainda não foi aplicado em sua
totalidade. Quem reclama da Dilma não se tocou ainda que o segundo mandato dela
está mais próximo daquele que Aécio e o PSDB fariam,<span style="mso-spacerun: yes;"> </span>da manutenção dos privilégios do capital, do que se imagina.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<span style="color: #141823; font-size: 24px; line-height: 28.8px; text-indent: 30.2667px;">Na lista do TSE dos políticos que não puderam se candidatar (é só procurar no sítio do tribunal), porque estão listados na "ficha suja", o partido que teve mais políticos barrados foi o PSDB. Depois o PP, depois o PMDB. Por que, então, a população quer sair às ruas no domingo gritando "fora PT", que está em quinto lugar neste rol? Só tem duas explicações: 1) ou porque perderam muitos privilégios, ou porque são idiotas (de novo, no sentido grego).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 120%; mso-hyphenate: none; mso-layout-grid-align: none; mso-pagination: none; text-align: justify; text-autospace: none; text-indent: 22.7pt; vertical-align: middle;">
<span style="color: #141823; font-size: 18.0pt; line-height: 120%;">O que mais me deixa triste, e leio nos comentários de várias
notícias, é que pouquíssimos se dão ao trabalho de ler com detalhes e pensar radicalmente no principal problema, que é o vício institucional, o modelo representativo, o modelo de federação, e tantas outras questões que podem ser repensadas, para não trocarmos seis por meia-dúzia É preciso pensar de forma dialética, porque se lessem, veriam que estão
entrando numa onda burra, como dizia minha avó, “jogando a água suja da
banheira com o bebê dentro”. <o:p></o:p></span></div>
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<br /></div>
Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-87995573030655256382015-09-24T20:06:00.001-07:002015-09-24T20:06:29.592-07:00família, famíliasnão é atribuição do congresso legislar sobre as palavras. sendo assim, o que a lei dirá sobre o conceito de família não mudará o dicionário ou mesmo o modo com os indivíduos conversam ou como utilizam as palavras.<br />
<br />
no aurélio, a palavra “família” é utilizada em várias áreas. existem famílias na botânica, na zoologia e até mesmo nas artes gráficas, quando utilizamos o termo “família de fontes”.<br />
<br />
quando o aurélio conceitua família para a espécie humana utiliza três conceitos: “grupo de pessoas vivendo sob o mesmo teto (esp. o pai, a mãe e os filhos); grupo de pessoas com ancestralidade comum e; pessoas ligadas por casamento, filiação ou adoção. vejam que ele diz especialmente, e não obrigatoriamente. e vejam que fala sobre adoção e casamento.<br />
<br />
se a lei já permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo, logo, é família. portanto, a decisão do congresso não vale nada, porque pode, inclusive criar precedentes para que o congresso comece a legislar sobre o conceito de outras palavras no dicionário. e isto é censura. imagina um filósofo ter que se certificar na lei se pode ou não discorrer sobre as distorções ou usos de determinados conceitos. é censura e a censura é inconstitucional.<br />
<br />
o dicionário também não é uma panaceia, aquele que decide o conceito. ele apenas registra o que o povo inventa nas ruas. e se existem pessoas do mesmo sexo morando juntas, se amando, dividindo uma casa, e se autodenominam família, o congresso não pode legislar contra isso, porque não vale nada, porque a outra lei que nos protege quando diz que a censura é inconstitucional.<br />
<br />
o povo é o inventalínguas, dizia maiakovski. mas estes caras que se elegeram com grana das empreiteiras, nunca leram poesia na vida, nunca abriram um dicionário, enfim, não sabem nada de nada. qualquer um pode se autodenominar família e nenhuma lei feita por essa gente ignorante que ocupa o congresso pode dizer o contrário.<br />
<br />
eu vou continuar usando o conceito de família como sendo um conjunto de pessoas que acreditam serem uma família. e quero ver alguém me prender porque estou descumprindo uma lei.<br />
<br />
por fim, não esquecer que a palavra família tem origem do latim fâmulo, que significa escravo. libertar-se das amarras da família tradicional também é fundamental.Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-59027557987141542722015-07-06T20:27:00.003-07:002015-07-06T20:27:25.258-07:00Entrevista a Murilo Mendes<div style="text-align: justify;">
Conheci o Fábio Brüggemann nos 80. Ele era o agitador cultural da Faculdade de Letras. Poeta, contista, escritor de crônicas, diretor de teatro. E agitador cultural! Dirigia o jornal que publicava poetas românticos, imitadores de Leminski, concretistas sem rigor e poetas de verdade. Um dia, fui ao Fábio. Fui tímida e inseguramente ao Fábio. Trazia na bolsa de couro um poema. Entreguei. Assim como Cortázar esperou pela resposta de Borges quando entregou a Borges o conto Casa Tomada, eu esperei pela resposta do Fábio. Saiu. Ufa!</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Saí de Floripa, fui correr mundo e, depois de uns tempos, tempos anteriores ao advento da internet, tomo conhecimento de que o Fábio escrevia crônica aos sábados no Diário Catarinense. Fábio saiu do jornal. Ele, que também é cineasta, está com um filme novo na praça. Pedi que a ele que desse uma breve ideia do filme e ele foi até onde é possível, dizendo que não ia “contar o filme”, pois filme, como sabe até a gente que não entende de cinema, como eu, não se conta; filme se vê. </div>
<div style="text-align: justify;">
Fábio fala de literatura e de religião. E de imprensa. O tema da imprensa ficou muito bom. Eu fiz uma provocação ao Fábio sobre a tal regulamentação da mídia e lhe disse que entendia que o objetivo em verdade era de censura. Fábio talvez tenha pensado que eu estivesse com o propósito de empurrá-lo para uma resposta, tal como um Faustão diante de uma Marieta Severo. E aí então se arrumou na cadeira e a pôs o entrevistador no seu devido lugar. Vivi meu dia de Fausto Silva. Só me faltou o salário. </div>
<div style="text-align: justify;">
Ficou bem bacana a entrevista com o Fábio.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Murilo) <b>Fábio, você é escritor, tem um livro de conto premiado, um livro que percorre o Século XX com pequenos relatos da vida de pessoas anônimas. Seu romance predileto – ou o que o mais te influenciou – é Memórias Sentimentais de João Miramar. Você acha que, no romance, não importa a história, mas a linguagem, especialmente o ritmo. É isso mesmo? Ou estou enganado? Dá para falar sobre essas coisas? </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fábio) Sim, o que me interessa na literatura é o “como” se conta uma história e não a história em si. Muita gente diz: “´tal história dá um livro”. Toda história dá um livro, bom ou ruim vai depender do “como” ela será contada. Na literatura, os livros que mais me comovem pouco lembro das histórias, mas muito lembro do como elas foram contadas. A história de Riobaldo e Diadorim teria a mesma grandeza contada de outro jeito? Talvez sim, se por outro grande escritor. Mas seria bem ruim se mal contada. Prova de que a literatura sempre dependerá do “como”, e esse como é a forma, a linguagem, etc. Uma história qualquer contada de forma chata não adiantará de nada ser uma boa história, se é que existe isso. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Murilo) <b>Fábio, você é cineasta. Pelo que vi na sua página, você está produzindo e dirigindo um novo filme. A locação foi feita na Serra catarinense? Eu vi que tem padre no filme. Você não gosta de religião. Que história vai ser contada pelo cineasta ateu? </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fábio) O filme, chamado Rio da Madre, foi rodado em Lages e é baseado em um conto meu chamado Riomadrenses, homônimo ao livro, publicado há mais de 15 anos (nem lembro a data). O curta-metragem é sobre o silêncio, centrado na figura de um bebê que não chora. Para aquela vila de Rio da Madre, o silêncio dele é estranho. Todos os outros bebês choram, porque este não? O protagonista, leitor de Santo Agostinho, defende o silêncio e se incomoda com os outros moradores que não conseguem compreender o outro, o diferente. É uma metáfora até óbvia contra o preconceito e contra o juízo a priori que fazemos do outro, ou do que não conhecemos. E se não conhecemos, não temos como compreender. O Paulo Francis tinha uma frase ilustrativa. Ele disse que não gostava de conhecer pessoas, porque não poderia mais espinafrá-las. Não vou contar o fim do filme, mas o padre é convidado pelos moradores para benzer a criança, por isso ele é personagem. </div>
<div style="text-align: justify;">
Não gosto de religiões, apesar de me considerar um sujeito religioso, no sentido mais fundo da palavra. Respeito o outro, tento compreendê-lo. Estou sempre mais propício a dar a outra cara, aceito os outros como são, etc. As religiões, talvez com exceção do budismo, perderam (por conta de líderes sacanas e inescrupulosos, porque usam a fé alheia e ainda tomam dinheiro) totalmente a noção de religiosidade. </div>
<div style="text-align: justify;">
Porém, não sou ateu. Não combato a fé dos outros em deus. Sou agnóstico, que significa, em última instância, “o que não sabe”, o ignorante. Por princípio, pelo que conheço da história da humanidade, a figura de deus foi criada pelos homens. Essa milenaridade arvorada pelos líderes religiosos, principalmente neopentecostais e católicos, difundem o erro de que o mundo começou com deus. Mas e as narrativas anteriores? Os filósofos gregos? Os latinos? Os etruscos? O Gilgamesh? As teogonias indígenas? Estes povos têm outras crenças. Por que – sempre pergunto – somente a ocidental cristã pode estar certa? Tenho algumas hipóteses, e a mais forte é a coligação desta crença com os poderes estabelecidos. Junte poder com manipulação histórica e da fé das pessoas e terás cordeirinhos para manipular à vontade. </div>
<div style="text-align: justify;">
Por fim, meu agnosticismo está em outro lugar, e tem a ver com a ciência, e, mais a fundo, com a ideia de começo do mundo. Neste aspecto, vou até o limite do provável. E não há nenhuma prova, nem mesmo evidências (e as evidências parecem muito mais respeitáveis (ainda que não conclusivas) na ciência do que na religião. A religião diz: “Não sabe? pois está em Deus”. A ciência se posiciona no agnosticismo? “Não sabe? não inventa, diz que não sabe e continua a pesquisa”. Nesse sentido sou totalmente agnóstico, ou seja, não sei de nada, mas nem por isso atribuo o não saber a um deus. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Murilo) <b>Fábio, Borges, lá pelo meio do Século passado, escreveu um ensaio chamado O Escritor Argentino e a Tradição. Nele, Borges defende, basicamente, que ser argentino – ou brasileiro, ou canadense – é uma fatalidade, de modo que o escritor não precisa se preocupar em pintar com cores locais a sua obra de ficção, pois, ainda que ele não o faça, a sua origem – nacionalidade – ficará marcada no que escreveu. Já Tolstoi aconselhou os escritores a falarem da sua aldeia. Universalismo x Regionalismo. Isso ainda faz sentido, Fábio? Diga lá. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fábio) Não me interesso por isso, por esta dicotomia entre universalismo e regionalismo, apesar de concordar com Tostói. O Borges, tanto seus poemas, quanto na sua prosa, era profundamente argentino. Quando fui a Buenos Aires a primeira vez compreendi muito mais, e consequentemente gostei muito mais de Borges. Ele estava em todas as esquinas, nas estátuas, na beira do rio da Prata e nas calles portenhas. Mas não vejo como um escritor não fale (ainda que de forma metafórica ou nas entrelinhas) da sua aldeia. Mesmo Becket, quando escreve Godot, está manifestando um momento e uma ideia totalmente europeia, do pós guerra, ainda que sirva para todo mundo. Não acho menos universal a prosa de Guimarães Rosa apenas porque seus personagens estão imersos no sertão. O amor de Riobaldo por Diadorim não é local é universal. Aquela forma e aquelas histórias servem para qualquer ser humano em qualquer lugar do mundo. Por isso, não vejo importância nessa falsa dicotomia. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Murilo) <b>Fábio, você escreveu crônicas para o jornal Diário Catarinense durante um longo período – dez anos, se não estou enganado. Hoje, você defende o controle da mídia – que você chama de regulação. Você não acha que há algo de errado quando jornalistas começam a pedir controle da imprensa? Por que só recentemente esse tema controle entrou em pauta para valer, e não lá atrás, na década de 90, por exemplo? Se não é desejo de controle de conteúdo, por que um dos argumentos é de que os meios de comunicação “deturpam os fatos”? </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fábio) Você já respondeu. Li o projeto de lei, e ele fala em regulação, jamais em controle ou censura. Isso é uma ideia manipulada pelos que têm, aí sim, controle de toda a mídia. O princípio básico da regulação é tornar as leis claras e limitar a concentração de poder concessionário nas mãos de meia-dúzia, que usam, sim, este poder, para benefício próprio. E não pense que só agora isso é debatido. Ficou escondido durante anos a ideia porque a própria mídia e os governos anteriores não tinham interesse nisso. Nos anos 80, quando estudantes, já falamos em rever as concessões. E a lei não fala da mídia impressa, apenas das mídias concessionárias: tevê e rádio. Por que são concessões públicas? Por que estão no ar, são transmitidas por ondas e as ondas são de todos, ou seja: são públicas. Não há censura em fazer com que o uso das ondas, que são de todos os cidadãos, seja objeto de regras. Tudo o que é público tem regras de uso, para que não haja concentração de renda ou poder. A proposta de regulação (é grave manipulação semântica falar em controle) é apenas rever as regras de concessão. Ora, no país considerado mais democrático do mundo (os EUA) esta regulação já existe há tempos. O cidadão que tem um canal não pode ter outro, porque fere princípios democráticos de igualdade. Não pode, por exemplo, nos EUA, ser dono de mais de um jornal. Aqui em Floripa não existe mais concorrência. Como averiguarmos o outro lado? Imagine (e isto acontece no Brasil hoje) um cidadão ser dono de praticamente todas as concessões? E sabemos que elas são escolhidas pelo Congresso, e sabemos que a maioria dos deputados é dona de canais de tevê e de rádio. Como um cidadão que não tem uma concessão poderá disputar igualitariamente uma eleição com outro que é dono da maioria dos canais? É óbvio que o setor de jornalismo e da programação em geral manipulará informações. E trabalhei nos últimos anos bem próximo deste universo e senti o drama. Nunca esqueço quando o Bonson, que era cartunista do Estado, e sentava ao meu lado na redação, fazia uma charge ironizando o Bornhausen (na época ministro das comunicações). O dono do jornal passou por nós, disse que se O Estado não ganhasse a concessão do canal que pleiteava, o Bonson não arrumaria emprego em lugar mais nenhum. Isto sim é censura e então é falacioso dizer que nós, jornalistas, somos a favor da censura. Nós somos contra este tipo de manipulação. Hoje, se você trabalha para a RBS e é demitido, não trabalha mais em lugar algum, porque são donos de tudo. Eles são a informação, e eu não acredito em informação que venha de um lado só, porque é censura. O que queremos são regras mais justas e democráticas de distribuição de concessões. A regulação, que em última instância é apenas estabelecer regras de concessão, serve exatamente contra a censura de poucos em detrimento do amplo espectro de opinião da maioria. </div>
<div style="text-align: justify;">
Na mídia impressa não se toca. Qualquer um hoje pode ir numa gráfica, se tiver um pouco de grana, hoje nem é preciso tanta, e fazer um jornalzinho. A regra, neste caso, está em outro lugar na Lei, que é difamação, honra, que você, como juiz, sabe muito bem. O cara tira ali cem, duzentos exemplares e vai na rua distribuir. É garantia constitucional. Já as ondas eu não posso tê-las. E quem tem uma quer todas. Por isso é que as tevês e as rádios, principalmente, não querem informar de forma isenta e correta o que significa concessão pública de canais e de emissoras de rádio (e falam que regra é censura), porque há um monopólio, e os Estados Unidos, a Inglaterra agora, a Argentina, se tocaram que há que redistribuir as concessões e regulá-las, ou seja, fazer regra, regular. Você acha que a família Marinho vai querer vender os mais de 30 canais que possui? É um poder imenso acumulado. E isto não é democrático, isto sim é censura. E por isso , nós, jornalistas, somos a favor. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Murilo) <b>Fábio, fale sobre o que você quiser. E Obrigado. </b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fábio) Acho que falei tudo. E obrigado eu.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>Pedi ao Fábio para indicar algo para o público e ele me passou este link, um vídeo feito com Salim Miguel, escritor que reside em Santa Catarina (não sei se o Salim nasceu em Santa). Vale a pena!</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
P.S. O Salim Miguel nasceu em Biguaçu, Santa Catarina.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Para ver o documentário, clique <a href="https://www.youtube.com/watch?v=loIJ7sC3KW4" target="_blank">aqui</a> (para a primeira parte) e <a href="https://www.youtube.com/watch?v=a1X1Sj_JKqg" target="_blank">aqui </a>(para a segunda).</div>
Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-23592869950478053002015-05-10T20:07:00.000-07:002015-05-10T20:07:09.763-07:00O PAPELÃO DA IMPRENSA NA MORTE DO EX-GOVERNADOR<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px;">
<span style="line-height: 19.3199996948242px;">quem me acompanhou profissionalmente, nos últimos 20 anos como colunista, tanto no jornal "a notícia" quanto no "diário", sabem os inúmeros embates que tive com o ex-governador luiz henrique.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
ele, pessoalmente, mandou me demitir de um cargo no município, mesmo sendo governador, mais precisamente na fundação franklin cascaes, e o prefeito na época, dário berger, nem pestanejou em fazê-lo, porque eu criticava publicamente a falta<span class="text_exposed_show" style="display: inline;"> de uma política clara para o setor.</span></div>
<div class="text_exposed_show" style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: helvetica, arial, 'lucida grande', sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px;">
<div style="margin-bottom: 6px;">
ele criou um monstro chamado secretaria de turismo, cultura e esporte, usando um fundo que era para ser democrático e servir a todos, mas apenas plantou uma ideia extemporânea e desorbitada de cultura, cuja elite trouxa deste estado, e agora a imprensa, compra como se fosse a panaceia, como se isso tivesse sido (e infelizmente ainda é pensada como) um legado importante. e não é, porque não criou uma política pública democrática e de estado, apenas de interesse de governo.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
caros colegas da imprensa, leiam os jornais nos quais vocês escrevem. pensem bem o quanto artistas e intelectuais se manifestaram contra esta penúria, contra a falta absoluta de uma política pública democrática para a cultura. pensem no quanto este esquema apelidado de sol usa recursos para a cultura se aproveitando apenas para financiar eventos, sem que o conselho aprove, deixando à míngua os setores que fazem arte e pensam cultura. o ex-governador armou um circo de autobenefício partidário, e incluo aí as secretarias regionais, que em nada contribuiu para o incentivo à cultura do estado.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
se querem falar que o cara era a raposa, o articulador, o líder e o tal, um exímio político, pois que falem, mas não inventem que ele era da cultura, porque isso é piada de mau gosto com o próprio e com os artistas deste estado.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
o modo de fazer política do ex-governador era um retrocesso, era bizarro, colonial, pré-moderno, porque era um modo não de satisfazer os anseios públicos, mas apenas de perpetuação no poder. e a nossa imprensa fica fazendo esse jornalismo laudatório que não contribui em nada, nem com a informação e muito menos com o conhecimento.<br />
e o pior: jogam a história na lata do lixo.</div>
<div style="margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
apesar de tudo, descanse em paz governador, meus sinceros pêsames a seus familiares, amigos e admiradores, mas desejo do fundo do coração que seu modo de fazer política seja apagado pra sempre deste estado.</div>
</div>
Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-41913081688941011032015-02-09T15:01:00.006-08:002015-02-09T15:01:58.614-08:00Carta de renúncia Ilha de Nossa Senhora dos Aterros, fevereiro de 2015.<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Prezados associados da Cinemateca Catarinese-ABD/SC, presidente e membros do Conselho Estadual de Cultura, presidente da Fundação Catarinense de Cultura e Secretário de Turismo, Cultura e Esporte.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Durante este mandato – meus colegas conselheiros, bem como os registros nas atas atestam – tentamos ser o mais “conselheiros” possíveis. Este aconselhamento, amparado por lei e pelas reivindicações propostas, tanto históricas (resultantes da criação do Fórum Floripa, da Frente em Defesa da Cultura e das conferências estaduais de cultura) quanto de manifestações públicas contra a ausência de uma política pública de cultura de estado e não de governo (a passeata contra a morte da cultura e movimento Ocupa Cic), foram exaustivamente ignoradas por este governo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Por conta destas demandas públicas, solicitei, como conselheiro, inúmeras vezes a revisão geral das leis que regem a Cultura no Estado; solicitei por diversas vezes a criação de uma secretaria de cultura exclusiva para a cultura; evoquei a vontade dos Fóruns e das Conferências por uma política de estado, e não de governo para o setor; critiquei severamente as regras descabidas e destoantes daquelas propostas pela sociedade; critiquei o absurdo, quase como no romance “O processo”, de Kafka, das regras do Seitec e do Funcultural; alertei o Conselho sobre a demolição do prédio (patrimônio cultural e arquitetônico) que abrigava o Colégio Aristiliano Ramos em Lages, quando nos manifestamos contrários; sugeri novas minutas para os editais Elizabete Anderle e para o Prêmio Catarinense de Cinema (objeto de lei, a qual não foi cumprida em 2014) e, por fim, fui contrário reiteradas vezes ao modelo de Conselho que está mais para analisar projetos do Funcultural do que para debater e propor políticas públicas, sua natural função.</div>
<div style="text-align: justify;">
Porém, a estrutura montada pelo ex-governador Luiz Henrique e continuada pelo atual governador, Raimundo Colombo, mantém o Funcultural apenas para financiamento de projetos de interesse do governo, mais do que da população, dos artistas e dos produtores culturais. Decretos enviados à revelia e de última hora, quase sempre no fim do ano, para a Assembleia Legislativa, fizeram com que os recursos do Funcultural fossem destinados ao custeio da máquina pública, contrariando todos os anseios e necessidades do setor artístico e cultural do Estado e, o pior: quase todos os debates e proposições do Conselho foram solenemente ignorados pelo Governo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mal inicia o segundo mandato deste governo, o atual secretário de Turismo, Esporte e Cultura permanece o mesmo que foi apenas a uma reunião do Conselho e se declarou contrário à criação de uma secretaria de Cultura, proposição esta historicamente reivindicada pelos trabalhadores e produtores culturais. Sinal inequívoco que o governo não quer diálogo com o setor artístico e cultural.</div>
<div style="text-align: justify;">
Sendo assim, sentindo-me completamente inútil no Colegiado, renuncio ao meu mandato e solicito</div>
<div style="text-align: justify;">
à Cinemateca Catarinense/ABD-SC que escolha um novo representante.</div>
<div style="text-align: justify;">
Aos conselheiros, espero que continuam propondo as mudanças necessárias. Aos artistas, produtores e intelectuais, espero que continuem cobrando coletivamente. Sempre militei a favor de uma política pública de estado, com financiamento público através de editais, e vou continuar cobrando isto, como sempre fiz, porque sinto-me muito mais útil escrevendo, filmando, lendo e pensando fora do Conselho do que dentro. Ao menos de fora, a sensação de liberdade de ação e de pensamento, sem as amarras institucionais, é muito menos oficiosa e mais feliz do que ver todas as proposições deliberadas no Conselho (a custa de muito debate e aprendizado) serem frequentemente ignoradas pelo governo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Chegamos à conclusão, com meus colegas conselheiros, em carta debatida, votada e deliberada, que deveria ser enviada ao Secretário de plantão (foram mais de cinco em um mandato de quatro anos, sem contar um ano inteiro de vacância na Fundação Catarinense de Cultura), que não falta dinheiro para o financiamento da cultura, mas sim uma gestão competente, que seja feita por profissionais e gente do setor, que compreenda as reais necessidades de implantação de uma política de incentivo que não passe pela ideia de que cultura é apenas evento, mas produção, reflexão, distribuição, formação, invenção e ruptura de paradigmas conservadores, como historicamente acontece em Santa Catarina (sobre isso, escrevi o artigo, publicado na revista Subtrópicos, n. 13, da editora da Ufsc (reproduzida no post anterior).</div>
<div style="text-align: justify;">
Enfim, na carta, sobre a qual não tenho informação se foi enviada ou não ao governo, encerrávamos dizendo que é necessário muito pouco para um gestão justa e democrática para a cultura, a qual deveria passar por: 1) Criação de uma secretaria de cultura; 2) reformulação da lei que rege o Funcultural, e que ele seja administrado por um conselho paritário; 3) e que todos os recursos deste fundo devem ser investidos em editais públicos, deixando as despesas com a máquina administrativa para dotações orçamentárias específicas, e não para o fundo, além, é claro, da cobrança mais antiga proposta pelos produtores e artistas catarinenses: uma política de estado, baseada em legislação específica bem clara, para que nenhum governo retroceda, usando recursos de fundo para custeio da máquina e projetos vindos do próprio governo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Saio ciente de que propus reiteradas vezes tudo isto, baseado sempre em debates públicos, e na Associação à qual representei (sempre relatando sobre as deliberações feitas no Conselho).</div>
<div style="text-align: justify;">
Obrigado à Cinemateca Catarinense/-ABD/SC por ter confiado em mim, aos conselheiros que me aturaram, principalmente à presidente do Conselho, Mary Garcia.</div>
<div style="text-align: justify;">
Tomara que o governo ouça a classe, ouça e atenda o Conselho (que é para isto que existe legalmente), e muita sorte ao novo representante do audiovisual.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Fábio Brüggemann</div>
<div style="text-align: justify;">
Editor, escritor e diretor cinematográfico</div>
Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-20386738087537125522014-12-02T05:18:00.003-08:002018-10-17T12:32:55.847-07:00O CONSERVADORISMO COMO TRAÇO CULTURAL DO CATARINENSE<div class="Corpodotexto" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Proponho aqui algumas pequenas teses e um debate sobre a
gênese e a continuidade de uma suposta e aludida “cultura catarinense”.</span></div>
<div class="Corpodotexto" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> Não há consenso,
unidade, igualdade, pensamento único, ou qualquer hipótese da existência de
traços que denotem a ideia do que se propaga, notadamente por gestores públicos
e políticos, como sendo “identidade cultural do catarinense”. É uma falácia à
qual não há comprovação. Ao
contrário. </span></div>
<div class="Corpodotexto" style="text-align: justify;">
<br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> O “catarinensismo”
é uma invenção geopolítica. Seja pela formação ao longo da história, seja pelo
variado traço étnico: imigrantes portugueses, alemães, italianos, poloneses,
japoneses, população negra trazida à fórceps e escravizada e os primeiros
habitantes indígenas. Estes últimos, apesar de pertenceram a um tronco comum,
também têm cada qual seu traço cultural: xoquelengues, carijós, caigangues etc.,
além, no planalto serrano, da presença marcante até hoje do gaucho (pronuncio <i>gáucho</i>)
vindo do pampa cisplatino.</span></div>
<div class="Corpodotexto" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> Os imigrantes
europeus, a maioria italianos e alemães, trouxeram a presença da moral do
trabalho, pela qual, com ajuda de seu deus judaico-cristão, de seus braços
fortes e de uma terra fértil, também por herança, em suas visões, do mesmo
deus. Assim, o paraíso brasileiro tudo lhes daria. Mas existia um entrave: os indígenas.
A solução, também com o amém de seus deus, já que os habitantes eram “outros” e
sem “alma”, foi combatê-los do mesmo modo como espanhóis e portugueses já
haviam feito antes. O mandamento cristão de não matar foi interpretado por uma
parte destes imigrantes como sendo válido apenas aos seus pares. </span></div>
<div class="Corpodotexto" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> Não foram poucas as vezes que, quando criança (e aviso
que sou descendente destes imigrantes e nascido em Santa Catarina), ouvi de
vizinhos o orgulho de ser bugreiro, de matar essa gente sem deus (o deles, é
claro), que não “gostava de trabalhar”. Este mesmo lema, por exemplo, levado ao
campo político, consagra o catarinense como sendo o mais avesso às políticas
sociais e de distribuição de renda, pois “quem não trabalha não merece ganhar
nada”. O pensamento do bugreiro – afinal, para o modelo de nossos colonos, o índio não trabalhava – continua valendo,
pois um imigrante não compreendeu e não quis compreender, pela força de sua
educação e cultura, que a ideia de trabalho para si não serve aos índios. </span></div>
<div class="Corpodotexto" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> O catarinense, a partir deste único traço que consigo
perceber de unidade, é conservador, preconceituoso, ignorante sobre
macroquestões humanitárias, sociais, geopolíticas e, principalmente, sobre
aquilo que não lhes pertence: a cultura exógena, a arte do outro, o pensamento
do outro, a vontade e o desejo do outro. Este único traço (insisto que é apenas
a gênese de uma pequena tese a ser debatida) é positivista e, não raro, promove
e promoveu movimentos neonazistas em colônias alemãs nos anos de 1930,
fartamente documentados.</span></div>
<div class="Corpodotexto" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> É curioso notar, na produção cultural do Estado, que os
artistas mais conhecidos e que mais se destacaram além das fronteiras estaduais
vêm de fora deste caldo. Cruz e Sousa, no século XIX, que era negro, mas teve acesso
aos seus contemporâneos, principalmente Baudelaire, e citava com frequência
filósofos como Shopenhauer, além de ter amigos com os quais debatia o que
acontecia no mundo naquele momento em que não existia sequer telefone, e que os
livros vinham de navio, é um criador quase apartado da produção pré e pós a ele
mesmo, guardadas as devidas contextualizações necessárias.<u><o:p></o:p></u></span></div>
<div class="Corpodotexto" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> Nossos colonos não trouxeram livros em sua bagagem. Vale lembrar que muito da produção cultural
da Bahia veio do Recôncavo, pouso dos imigrantes árabes, e a presença dos
livros foi fundamental para sua formação. A verve revolucionária de Wally
Salomão, Glauber Rocha, Tom Zé e Caetano Veloso é de lá. Qual artista
catarinense, com a formação cultural colona que nos tivemos pretendeu revolucionar
algo?</span></div>
<div class="Corpodotexto" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> O mais notório deles foi Rogério Sganzerla, descendente
de imigrantes italianos, empreendedores e com o perfil relatado antes, mudou-se
muito jovem para São Paulo e lá teve condições de fazer seus filmes. Em Joaçaba,
não apenas pela falta de equipamento, mas por ausência de estímulo, parceria e
afinidade intelectual, nunca teriam sido feitos. Em várias entrevistas que deu,
detonava o atraso e o provincianismo e o conservadorismo do Estado e de sua
cidade natal. </span></div>
<div class="Corpodotexto" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> Não significa, no entanto, que a formação cultural do
catarinense seja desprezível por isto. Os catarinenses são conhecidos como
leais trabalhadores, honestos, cordiais, excelentes anfitriões, empreendedores,
mas não são apenas estas virtudes que dão estofo ou estímulo para alguém
produzir arte, desafinar o coro dos contentes, largar o preconceito de lado,
enfim, deixar o cordialismo conservador e propor algo essencialmente novo.
Tanto é, que não há proposição de vulto nesse sentido. É óbvio que há, mas não
de vulto.</span></div>
<div class="Corpodotexto" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> Para as políticas públicas para a arte e a cultura este
resultado é quase uma barbárie. O atual governador, Raimundo Colombo, por
exemplo, fruto desta formação, crê que um dos imóveis mais simbólicos da cidade
onde nasceu, Lages (por coincidência, estudei nesta escola), o Colégio
Aristiliano Ramos, cuja arquitetura dos anos 30 é considerada como sendo
patrimônio não apenas arquitetônico, mas cultural e paisagístico, por respeitar
a linha do céu do vasto planalto serrano, deve ser demolido. Aliás, há um projeto geral, desde o governo
anterior, que é o de desativar todos os imóveis que abrigaram as escolas
públicas estaduais considerados “antigos”. Depois de desativados, os imóveis,
sem manutenção, entram em seu natural declínio material, para se usar o
argumento de que o imóvel “pode cair a qualquer momento”. Isto tem acontecido
em várias cidades, e só em Florianópolis são duas. O conluio com a especulação
imobiliária é evidente. Este tipo de decisão denota a ignorância da qual somos
herdeiros.</span></div>
<div class="Corpodotexto" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> O mesmo governador, agora reeleito, no dia da reabertura
do teatro Ademir Rosa, chegou a ovacionar o fato de que “muitos artistas se
apresentaram aqui de graça, pelo amor ao aplauso”, ignorando que não há arte
sem artista se os mesmos não têm o que comer. Escrevi na época que, sendo
assim, cada vez que chegasse minha conta de luz eu aplaudiria para ela e
estaria paga. Mais uma vez a ideia do colono de que só é considerado trabalho
aquele braçal, e que pensar, criar, ou apenas viver, não é correto.</span></div>
<div class="Corpodotexto" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;">Há muitos anos, mais de duas décadas, artistas,
intelectuais, pensadores, produtores culturais solicitam uma política pública
para a cultura que seja de Estado. Significa que sem leis que as embasem e que
as garantam, governos podem achar que “incentivar a cultura” é publicar o livro
do sobrinho, bancar uma escola de dança clássica, trazer um balé da Polônia, ou
financiar uma atriz global. Para que a política seja de Estado (porque todos os
governos que quiseram eles mesmos produzir cultura tiveram viés fascista) é
preciso um fundo (que já existe, porém extremamente mal gerido) e que este
fundo seja usado para a publicação anual de editais de incentivo.</span></div>
<div class="Corpodotexto" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> </span><br />
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> Para construir esta política de Estado já foram realizados
inúmeros fóruns, seminários e conferências, criados documentos e proposições.
Apesar de toda diversidade necessária, há uma receita básica consensual. É necessário
criar uma secretaria de cultura, realizar concurso para que técnicos ocupem os
cargos, escolher um secretário que seja da área, não o filho de um político que
nada entende do negócio (como é hoje), informar a toda população de que existe
um fundo, fazer com que este fundo seja administrado por um conselho paritário,
e que ele financie projetos por meio de editais públicos lançados anualmente.
Parece simples, e é. Por que não é aplicada? Por que o ex-governador do Estado,
Luiz Henrique da Silveira, descobriu que os recursos dos fundos poderiam e
deveriam ser usados para políticas de governo e não de estado, o que acontece
até hoje.</span></div>
<div class="Corpodotexto" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> Desde que, ainda que de forma esporádica, os editais existem,
várias obras, em todas as áreas têm sido publicadas, vistas, tocadas,
apreciadas. E se fosse por aval apenas dos governos, com certeza elas não
existiriam. Ao contrário dos editais públicos para a construção de estradas, de
escolas, pontes, que devem privilegiar a ergonomia, o acerto, a lógica, os
editais de apoio às artes devem também investir na experimentação, no
imaginário e, por que não, no erro, como bem esclareceu o modernista Oswald de
Andrade, quando disse que a poesia é a contribuição milionária de todos os
erros. E é por isto que não pode ser política de governo. Quem faz arte são
pessoas, grupos, jamais governos. E é óbvio ainda que os governos privilegiam
grandes artistas, de cachês milionários, eventos grandiloquentes (<i>panis et circenses</i><span style="color: windowtext;">)
que se vão num dia, sem pensar em formação, preservação, exibição, distribuição
e produção de arte. A publicação de um jovem poeta, por mais precário que seja
seu livro, através de editais públicos, é muito mais importante para a cultura
de um povo do que um evento milionário de uma dupla sertaneja qualquer. E muito
mais barato para os cofres públicos. E muito mais democrático.<o:p></o:p></span></span></div>
<span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"><br /></span>
<br />
<div class="Corpodotexto" style="text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;"><span style="font-family: "georgia" , "times new roman" , serif;"> Ainda sobre o
conservadorismo cordial por parte da sociedade civil, instituições quase
medievais resistem com seu pomposo arcaísmo, quase sempre de acordo com os
governos, até porque sobrevivem deles, por força de lei. Apesar disso, de
saberem que a lei os protege neste sentido, tanto o Instituto Histórico e
Geográfico, quanto a Academia Catarinense de Letras, por exemplo, refutam
pensamentos radicais (no sentido marxista, de ir às raízes), revolucionários,
rebeldes, erráticos. A pompa e a circunstância, as solenidades enfadonhas, o
compadrio protocolar, os discursos de terno e gravata ainda são a tônica nestas
instituições, que, queiramos ou não, são reflexo do único traço do
“catarinense”: o conservadorismo que nos coloca à margem da produção artística
e cultural brasileira desde que os colonizadores do fim do século XIX e começo
do XX chegaram por aqui.</span><o:p></o:p></span><br />
<span style="color: windowtext;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="color: windowtext; font-size: x-small;">Originalmente publicado na revista <i>Subtrópicos</i>, número 13, disponível <a href="http://issuu.com/ayrtonsilveira/docs/subtropicos_n13">aqui</a>.</span></div>
</div>
Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-27876458750260953302014-10-06T20:11:00.001-07:002014-10-06T20:12:10.723-07:00opa, peraí. não recebo bolsa família, não sou ignorante, parto sempre do princípio dialético sobre pontos de vista não coincidentes e não sou nordestino (apesar de ter percebido que o melhor da produção cultural do país sempre vem de lá, e não do sul caipira, conservador e falso puritano). portanto, a primeira falácia está desmontada.<br />
<br />
a segunda é que vivi no período governado pelo psdb, ao contrário de uma galera mais jovem, e que, infelizmente, formada apenas pelos programetes a serviço (aí sim) da ignorância, acham que o mundo existe a partir do nascimento deles, e que não tinha corrupção no governo do psdb. vão ler os jornais da época.<br />
<br />
a terceira, já que citei a história recente do país, comparem os números, as ações sociais, a tentativa de inclusão que o governo lula e dilma têm feito, apesar das adversidades, para que mais pessoas fossem incluídas, ao contrário do psdb, cujo ex-presidente, o fhc, afirmou claramente que não existe progresso sem inclusão. o pt provou o contrário.<br />
<br />
a quarta questão é que quem mais torce contra o governo socialista (vejam bem, com todos os seus defeitos) são justamente os que sempre ganharam com o oposto. por isso o ódio incomensurável. portanto, quem vota no retorno do neoliberalismo ou é mal informado, ou vota com rancor por motivos pessoais (conheço gente que brigou internamente nos movimentos de esquerda e acha que toda a esquerda é ruim por isso), ou porque acha que não está ganhando nada com o governo do pt.<br />
<br />
o país sempre concedeu bolsa para filha de militar, bolsa para ex-governador, bolsa para filho de juíz, bolsa vereador, e tantas outras "ajudas" para os que não precisavam. o pt tem feito o contrário, tenta dividir o bolo. mas quem sempre ganhou grana e pode viajar, gastar, e, principalmente, se exibir, agora acha ruim que os impostos gerados por todos deem oportunidade para que mais pessoas possam fazer o mesmo. como disse uma madame outra dia: “que graça tem viajar pra nova iorque se até meu porteiro agora pode ir”. isso é rancor, não é espírito público.<br />
<br />
por fim, não sou filiado ao pt, nunca fui e provavelmente nunca serei, porque, como groucho marx, desconfiaria de qualquer clube, associação, igreja ou partido que me tivesse como membro, porque penso como torquato neto e acho que alguém tem que ao menos tentar desafinar o coro dos contentes.<br />
<br />
não creio que a dilma seja a melhor presidente que o país já teve ou terá, mas o meu voto é mais do que óbvio, por todas estas questões, para ela.Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-60657109519065526272014-07-17T14:05:00.001-07:002014-07-17T14:05:14.876-07:00<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Taí a minha participação no 4 Festival do Conto, organizado pelo chapa </span><span style="background-color: white; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; line-height: 1.24;">Carlos Henrique Schroeder</span><span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">, produzido pelo Sesc e realizado em</span><span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; line-height: 17px;"> maio, no SESC Prainha, na Ilha de Nossa Senhora dos Aterros, ao lado de Daniel Pellizzari (RS), André Sant'Anna (SP), Paulo Sandrini (PR) e Fábio Brüggemann (SC), com m<span id="goog_1869537200"></span><span id="goog_1869537201"></span><a href="https://www.blogger.com/"></a>ediação de Demétrio Panarotto.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; line-height: 17px;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; color: #333333; font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; line-height: 17px;"><a href="https://www.youtube.com/watch?v=1kfiJeXoxpI#t=102">https://www.youtube.com/watch?v=1kfiJeXoxpI#t=102</a></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; line-height: 17px;"><span style="color: #333333; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: white; line-height: 17px;"><span style="color: #333333; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-91904588033441579102014-04-14T10:27:00.002-07:002014-04-14T10:27:22.056-07:00Sobre baderneiros invasores<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> Moro numa rua que era sossegada, na Ilha de Nossa Senhora dos Aterros, em um solar construído no fim dos anos 40 do século passado. Até 2012, era calma a rua. Na frente do solar, na minha janela, dava para receber a luz do sol do seu nascente no Morro da Cruz até umas cinco da tarde, lá por trás da praça Getúlio Vargas. Da mesma janela, bem na frente dela, havia uma casa, construída muito antes do meu solar. Estava abandonada, como toda casa velha nesta Ilha. Para o dinheiro, passou do prazo, joga fora, limpa o terreno e constrói um bem maior e, claro, muito mais feio. Funcional, dizem os engenheiros (porque de arquiteto os invasores e baderneiros não gostam), sem nunca terem aberto um único livro de arquitetura moderna, sem conhecer a Bauhaus, sem Le Corbusier, sem história, enfim, porque a história, para estes invasores e baderneiros, não tem importância nenhuma, pelo contrário: só atrapalha.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> Em 2012, como eu dizia, derrubaram a casa e começaram a preparar o terreno, estes baderneiros de uma figa, para a construção de três prédios. Sim, caros amigos, três. E eles são rápidos e, claro, extremamente barulhentos. Não existe invasão nem baderna sem barulho. E a barulheira começa antes mesmo do que a lei permite. Se a lei diz que os bárbaros invasores podem começar a baderna institucionalizada às oito da manhã, os baderneiros já estão desde às seis, com suas conversas edificantes e com suas canções sertanejas (porém, é claro, extremamente universitárias).</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> Depois, imaginem, caros leitores, assim que o dia começa, seis caminhões carregados de cimento invadem a rua e lentamente, até o meio-dia, acabam com sua manhã de sono, acabam com o seu dia inteiro, porque o barulho dos invasores e baderneiros, mesmo depois de desligado, fica zunindo na cachola. Essa baderna dura já bem uns três anos. E antes de ontem foi a glória. Era sábado, almoço com a família, forno ligado para gratinar um dos pratos, e a luz se foi.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> Sim, eram os baderneiros fincando mais um poste na rua para sustentar toda a energia que consumirá assim que ficarem prontos os três prédios, no sábado à tarde, dia que imaginávamos que era descanso para os baderneiros. Mas a baderna institucionalizada não tem hora, eles se sustentam pela grana (aquela que ergue e destrói coisas belas, e que neste caso destruiu coisa bela e ergueu coisa feia), e a grana tá cagando pro seu ouvido, pro sol da sua janela, pro almoço com sua família, enfim, os baderneiros são protegidos por lei, por isso não adianta fazer B.O., reclamar na prefeitura, falar com quem quer que seja.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> Os baderneiros querem apenas firmar o compromisso com a propriedade privada, esse roubo institucionalizado. Sim, Bakunin ainda tem razão: “toda propriedade é um roubo”.</span></div>
Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-73214551770728338042013-08-20T11:11:00.003-07:002013-08-20T11:11:16.219-07:00REDES, TRIBOS E AFINIDADES ELETIVAS<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> Tal e qual a maioria dos animais, ainda mais os mamíferos, humanos são gregários e se agrupam em tribos. A biologia da coisa, vamos dizer assim, agrega os animais por afinidade, geralmente baseada na mútua proteção. Humanos têm como princípio a sobrevivência da espécie, só que não da espécie como um todo, como a maioria dos outros animais, mas da preservação de um tipo de comportamento específico. </span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> As redes sociais via computadores, fenômeno recente na história da cultura humana, apesar de ser um avanço tecnológico dos mais incríveis e talvez inimagináveis (a não ser por visionários cientistas e roteiristas de ficção científica) continuam apenas reproduzindo comportamentos típicos da espécie humana. A existência da internet e a possibilidade de comunicação tão imediata com pessoas tão remotas e diferentes, apesar de parecer antitribal, não faz nada mais do que replicar comportamentos tribais. Para isso, na própria rede, você se filia a “grupos”, “comunidades”, entre “amigos”, etc.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> E não poderia ser diferente. Afinal, somos humanos, e nenhuma tecnologia fará mudar o propósito de todo animal na Terra, que é o de perpetuar a espécie, de acordo com a máxima contida no Gênesis, que é “crescer e multiplicar”. Mudamos os modos, os meios, as palavras, mas a ideia, a “vontade”, tão bem descrita pelo filósofo Arthur Schopenhauer, no seu catatau chamado “O mundo como vontade e representação”, continua sendo esta.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> A vontade está ligada pelo umbigo ao poder. Deixar todas as coisas como estão, apesar de manter algumas tribos com privilégios, outras tentando ter os mesmos privilégios, e outras ainda com incapacidade total de um dia sequer tocar os pés do poder (esta é a maioria) é o que mantém a roda da cultura girando tal e qual como está. O cruel nisto tudo é que as tribos se odeiam. Os exemplos ocupariam centenas de edições do Diário Catarinense. Talvez muitas tribos passem a me odiar de agora em diante porque minha tribo é francamente minoritária, vejam: Sou agnóstico; contrário à existência de qualquer tipo de arma; não tenho nenhuma paciência para ligar televisão; gosto de escrever, fazer, cheirar e de ler livros (apesar de ter tido pouco tempo pra isso, com exceção do “fazer”); tenho pavor de comportamentos machistas; acho natural a união de pessoas do mesmo sexo (porque acho certo também eu não ter nada a ver com isso); acho terno e gravata a maior caretice, não compreendo, inclusive, a ideia de que cada ocasião tem que ter uma roupa apropriada; acho uma falta de respeito enorme quando, numa solenidade “autoridades” ficam citando outras “autoridades”, desmerecendo todos os outros que não são supostamente “autoridade”, enquanto poderiam dizer apenas “e aí, galera, tudo bem?”; não gosto dos pronomes do tipo “vossa excelência,” enfim, sou da tribo dos contrários, e, como Torquato Neto, o grande poeta piauiense, que apenas a tribo dos poetas mais velhos conhece, estou neste mundo para “desafinar o coro dos contentes”, o que, penso eu, se é me dado o direito a pensar, não é pouca coisa.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">ALÉM DO MAIS</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">MÍDIA NINJA E FORA DO EIXO.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> Isto tudo foi para “tentar explicar” que pouca gente deve saber o que é “Mídia Ninja”, ou “Fora do Eixo”. Depois das manifestações de junho, a Mídia Ninja, braço do Fora do Eixo, informou ou tentou informar a partir da internet, e de outro modo que não o convencional, sobre as manifestações, porque a mídia tradicional está tão viciada no jornalismo “terno e gravata”, que é incapaz de pensar que com as tecnologias disponíveis hoje, o velho jornalismo já está morto e falta apenas ser enterrado. </span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> Choveram artigos, ensaios, entrevistas com os líderes do Fora do Eixo na grande mídia, que tentou, primeiro entender, depois “não perder o bonde da história”. Todos os comentários, opiniões e tentativas de explicação deste novo fenômeno de “fazer notícia” circulam apenas em uma pequena tribo, porque se alguém for pesquisar nas ruas, quase ninguém saberá dizer o que é Mídia Ninja. Eu sei porque pertenço a uma tribo que vive disso, e construí meu “banco de contatos” com pessoas que têm escudos de sobrevivência tribal semelhantes aos meus. Mas é preciso compreender que hoje, um sujeito que tem uma conta no Facebook e um celular ligado na rede é um virtual “divulgador de informação”.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> A palavra que a mídia tradicional usa para desqualificar outro tipo de informação que não a sua é “credibilidade”. Porém, se a rede é a junção de todas as tribos possíveis, e pensando seriamente nas relações muitas vezes duvidosas entre grupos econômicos fortes, algumas mídias e o poder do Estado usado pelos governos, qual tribo garantirá a credibilidade desta ou daquela informação, independentemente de onde venha, se da mídia tradicional ou de um celular de um adolescente? É a pergunta desta pensata.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: xx-small;">Publicado no Diário Catarinense, 17 de agosto de 2013</span></div>
Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-6917895216946770762013-07-27T16:40:00.001-07:002013-07-27T16:40:26.882-07:00“O INFERNO SÃO OS OUTROS”<div dir="ltr" style="background-color: white; color: #222222;">
<div class="im" style="color: #500050;">
<div style="line-height: 15.555556297302246px; text-align: justify; text-indent: 24pt; vertical-align: middle;">
<span style="color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; line-height: 15.555556297302246px; text-indent: 24pt;"> </span><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="color: #222222; line-height: 15.555556297302246px; text-indent: 24pt;">Toda obra do filósofo francês Jean-Paul Sartre, apesar de não estar mais na moda, foi incluída no rol de livros proibidos da igreja dos católicos, o extemporâneo </span><i style="color: #222222; line-height: 15.555556297302246px; text-indent: 24pt;">index</i><span style="color: #222222; line-height: 15.555556297302246px; text-indent: 24pt;">. É dele a frase “O inferno são os outros”, dita por um dos personagens de sua peça “Entre quatro paredes”. Seus ensaios sobre a liberdade (quando conclui que mesmo presos estamos “condenados” a ser livres) serviram de base para movimentos políticos importantes durante os anos 60 do século passado, do mesmo modo como influenciou artistas e mudou o panorama da cultura em vários países, inclusive no Brasil.</span></span></div>
</div>
<div style="line-height: 15.555556297302246px; text-align: justify; text-indent: 24pt; vertical-align: middle;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Outro importante filósofo, também francês, Roland Barthes, contemporâneo de Sartre, escreveu vários apontamentos para uma conferência a que ele denominou “Como viver junto”. Nestas notas curtas, quase aforismos, porque eram princípios de um pensamento a ser desenvolvido em público, Barthes revela o “dilema” do outro, aquele com quem teremos de – independentemente dos laços de relação – viver junto.</span></div>
<div style="line-height: 15.555556297302246px; text-align: justify; text-indent: 24pt; vertical-align: middle;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Vários dos conflitos contemporâneos, que fazem pessoas irem às ruas protestar, têm a ver com a dificuldade de “viver junto”, ainda mais quando o “outro” pensa e se comporta de modo diferente. O “outro” é amedrontador, porque avisa que nós também podemos ser diferentes, às vezes até para melhor, mas quando não conseguimos o jeito é aniquilar o “outro”, e junto dele sua cultura, sua língua, sua cor e seus ideais. E para isso, o chamamos de “bárbaro”, “vândalo”, “estranho”. Na língua inglesa, por exemplo, “estranho” e “estrangeiro” tem a mesma grafia, e remete ao bárbaro, ao destruidor dos costumes, das ideias prontas, dos dogmas e das tradições seculares.</span></div>
<div style="line-height: 15.555556297302246px; text-align: justify; text-indent: 24pt; vertical-align: middle;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Os recentes embates coletivos têm, quase todos, motivos de cunho moral e religioso. A obra de Sartre foi indexada pelo catolicismo por conta da sua permissividade em relação à liberdade (muito mal interpretada e, por conta disso, não aceita). No fim, passados tantos anos de debates importantes e esclarecedores sobre o conceito de liberdade, o comportamento e a cultura do “outro” continuam não sendo aceitos, mesmo que tais motivações não alterem em nada a vida daqueles que se incomodam.</span></div>
<div style="line-height: 15.555556297302246px; text-align: justify; text-indent: 24pt; vertical-align: middle;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Sendo assim, por conta da dificuldade ainda existente de “viver junto” (reparo que não foi apenas nesse sentido que Barthes tratou este assunto, mas apenas um dos sentidos), resta fazer algumas perguntas sobre temas coletivos que tanto têm causado problemas. 1) Cientes de que, a despeito de todos os problemas estruturais da saúde pública, há uma carência enorme de médicos, que problema real existiria com a vinda de médicos de “outro” país? 2) Que problema real pode existir na vida de um religioso se o “outro” quer ter relacionamentos afetivos e ou sexuais com pessoas do mesmo sexo? 3) Em que a vida de um religioso ou moralista vai mudar se em uma relação sexual “outros” usarem ou não métodos contraceptivos? 4) Do mesmo modo, que problema pode haver para um homem que se incomoda com o útero (que ele nem tem) de uma mulher (o “outro”) que decide interromper uma gestação indesejada por motivos que só ela (portanto, de foro íntimo) pode ter?</span></div>
<div class="im" style="color: #500050;">
<div style="line-height: 15.555556297302246px; text-align: justify; text-indent: 24pt; vertical-align: middle;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">É triste concluir que a liberdade do “outro” ainda incomoda aqueles que se sentem presos, talvez porque ela avisa que existe “outra” possibilidade de vida, de comportamento, de cultura. A ideia de autonomia humana, de não depender sequer da opinião do outro, é cruel, porque, como diz o mesmo Sartre: “Tudo que recebemos vem dos outros. Ser é pertencer a alguém”.</span></div>
<div style="line-height: 15.555556297302246px; text-align: justify; text-indent: 24pt; vertical-align: middle;">
<br /></div>
<div style="line-height: 15.555556297302246px; text-align: justify; text-indent: 24pt; vertical-align: middle;">
<b><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Além do Mais...</span></b></div>
<div style="line-height: 15.555556297302246px; text-align: justify; text-indent: 24pt; vertical-align: middle;">
<b><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Os editais da FCC</span></b></div>
<div style="line-height: 15.555556297302246px; text-align: justify; text-indent: 24pt; vertical-align: middle;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Os editais da Fundação Catarinense de Cultura têm redação confusa, possui anexos dispensáveis e exigências descabidas. E toda essa incompetência para gerar um documento alheio às práticas artísticas (que é para o que se destina) confirmou-se de duas formas. A primeira com o baixo número de inscritos. Não foram poucos os que desistiram por não compreender e ou por não aceitar um edital nestes termos. O comum seria que o número de inscritos fosse maior do que o da edição anterior, mas aconteceu o contrário. A segunda, com o número altíssimo de inscrições não habilitadas (praticamente a metade). Todo edital público deve ter como meta a inclusão das propostas, porque o Estado, que financiaria estas obras, pretende, pela lógica, premiar o melhor produto. Mas a antiga administração da FCC não gostava mesmo de arte.</span></div>
</div>
<div style="line-height: 15.555556297302246px; text-align: justify; text-indent: 24pt; vertical-align: middle;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O Conselho Estadual de Cultura, inclusive com a presença do secretário de cultura (esporte e turismo), Beto Martins, debateu exaustivamente, antes mesmo do encerramento das inscrições, sobre estes problemas, e que medidas poderiam ser adotadas para não penalizar possíveis bons projetos por conta de uma “burro-cracia” tola. O colegiado deliberou que deveria primeiro ser julgado o mérito, depois a documentação. Porém, infelizmente, não foi isso o que aconteceu. Sinal de que Michel Foucault continua tendo razão quando insinua que o porteiro do palácio manda mais do que o rei, basta dar um pequeno poderzinho a ele, principalmente quando este pequeno porteiro tem um ódio doentio do “outro”, o que só confirma Sartre: O inferno são, mesmo, os outros.</span></div>
<div style="line-height: 15.555556297302246px; text-align: justify; text-indent: 24pt; vertical-align: middle;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMyNcWlHqck0LldnPjLUmlrAGD6PQYXc3TDYJ315MiDoDKNhPUtn3x6Tz9Emj-l0sVLEDIIpHZdMZdP4stcNdSLYIiTHhdP8Oc8scOUWQStILZlsASye-9kUtl-2lA_a-6-WJCjw/s1600/penso+julho.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjMyNcWlHqck0LldnPjLUmlrAGD6PQYXc3TDYJ315MiDoDKNhPUtn3x6Tz9Emj-l0sVLEDIIpHZdMZdP4stcNdSLYIiTHhdP8Oc8scOUWQStILZlsASye-9kUtl-2lA_a-6-WJCjw/s320/penso+julho.jpg" width="232" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
Diário Catarinense, 27 de julho de 2013.</div>
<div style="line-height: 15.555556297302246px; text-align: justify; text-indent: 24pt; vertical-align: middle;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="font-family: arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px;">
<br /></div>
</div>
Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-46703020144939753482013-06-29T11:31:00.003-07:002013-06-29T11:55:53.573-07:00À DIREITA NUNCA MAIS!<div style="text-align: justify;">
É bem fácil manipular informações com níveis de formação intelectual tão frágeis como o do brasileiro, educado basicamente pela programação débil, repetitiva e falaciosa das programações das redes de televisão. A guinada para a direita na grande manifestação da semana passada é prova disso. Um movimento que começou solicitando a redução dos preços das tarifas de transporte público transformou-se em uma passeata ufanista de viés direitista. É certo que muitos manifestantes estavam ali por mudanças importantes, e que a maioria está insatisfeita com a falta de representatividade política, porque aguarda há décadas uma reforma que nunca acontece. Porém, poucos sabiam que as reformas não seguem adiante porque quem tem as rédeas para propor mudanças são justamente os políticos que se beneficiam com as regras do jeito que estão. Portanto, anseios legítimos com proposições ilegítimas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Esta multidão de pessoas indo às ruas, ainda que com os mais variados propósitos, em última instância, é um aceno, uma demonstração de um desejo de participação mais efetiva nos destinos da nação, querendo dizer que o voto não é mais o único modo de expressão democrática, e que a rua é um plebiscito, talvez o mais original, se pensarmos na democracia grega.</div>
<div style="text-align: justify;">
A esquerda brasileira, para chegar ao poder, apesar de ter tido muitas de suas proposições efetivamente cumpridas, fez o que chamávamos nos anos oitenta de “alianças espúrias”. Estes aliados de ocasião, sem nenhuma identidade ideológica, agora estão cobrando caro pelo apoio prestado. Como disse muito bem o ex-governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra, fazendo o <i>mea culpa</i> necessário: “Não mexemos na estrutura deste Estado, que continua sendo uma cidadela dos grandes interesses econômicos e culturais”. A esquerda abandonou inúmeras pautas importantes (nas quais milhões de eleitores escolheram), que transformariam o País para melhor, desde a reforma agrária até a interrupção dos lucros abomináveis dos bancos, por exemplo. Há que se reconhecer que os avanços sociais conquistados são infinitamente superiores em relação a todos os dos governos anteriores. Por conta destas alianças, mais e mais a classe política criou um distanciamento quase abissal daqueles que os elegem. Deu no que deu. São hoje poucos, infelizmente, os que acredita em partidos.</div>
<div style="text-align: justify;">
E como falta informação histórica, os manifestantes da última passeata foram às ruas carregados de bordões e palavras de ordem extremamente danosas à democracia, tais como “o gigante acordou”, como se não houvessem pessoas indo para as ruas quase todos os dias, pelas mais variadas reivindicações: melhores salários, contra a homofobia, redução da jornada de trabalho, contra deputados pastores, a favor do aborto, pela reforma agrária, etc., etc. O problema é que a classe média alienadíssima e desinformada desconhece o outro, fecha os olhos para os cidadãos há tempos acordados.</div>
<div style="text-align: justify;">
A mesma classe média desinformada resolve de um dia para outro agredir pessoas com direito constitucional para portar bandeiras, mas não compreendem, ou sim, mas agem de ma fé, que filiar-se a um partido ainda é a forma mais democrática de se fazer política, inclusive para transformá-los. E não compreendem também que todas as ditaduras (que jamais permitiriam que esta mesma classe média fosse à rua), na primeira oportunidade fecham os partidos. A desinformação é tão grande, que nem mesmo pessoas esclarecidas sabem o real significado da proposta de emenda constitucional 37, que, dizem, vai tirar o poder (que constitucionalmente nunca teve) do Ministério Público de investigar crimes, mas o que mais se vê é gente contra. Além disso, são tão despreparados politicamente, que solicitavam a apartidarização, mas mantinham um cartaz de “Fora Dilma”, como se isso não fosse um jogo partidário e como se isso não fosse uma bandeira, na acepção mais emblemática da carga semântica da palavra bandeira.</div>
<div style="text-align: justify;">
Apesar de tudo, penso (como sugere o título desta página) que está mais do que na hora de o governo brasileiro propor as reformas históricas, às quais a maioria do povo, de forma democrática, através do voto, apoiou desde a primeira eleição de Lula. Dilma Roussef, na segunda-feira, propôs uma constituinte específica para a reforma política, mas é preciso uma reforma muito mais ampla, e que seja plebiscitária, sim, como a própria presidente propôs. E só terá sentido se fizermos como na Islândia, onde os constituintes foram cidadãos comuns, inscritos e escolhidos com o compromisso de não se transformarem em políticos profissionais. </div>
<div style="text-align: justify;">
Por fim, o que originou todos os protestos posteriores, manipulados por parte da mídia e da elite que berra contra a corrupção, mas jamais berrará contra os corruptores (em sua maioria membros da própria elite), foi o aumento das passagens de ônibus em São Paulo. Como demonstraram os jornalistas Thiago Santaella e Mônica Foltran, na edição de segunda-feira passada deste Diário, mais de 50 cidades no mundo adotaram a tarifa zero com enormes ganhos na mobilidade, no bem estar da população e na despoluição das cidades. A única questão que faltou contemplar é que o custo de R$ 152 milhões anuais aludidos para sustentar a tarifa zero é uma estimativa calculada apenas pela iniciativa privada, baseada, obviamente, em um lucro que interessa apenas a ela e não à população. Faltou dizer também que na Austrália, duas de suas maiores metrópoles, Sidney e Melbourne também praticam a tarifa zero. </div>
<div style="text-align: justify;">
Isso significa que é possível, necessário e urgente a adoção da tarifa zero. O que não é possível é admitirmos um retrocesso institucional e democrático, mas sim seu avanço. Se é ruim como está, primeiro devemos olhar para a história para percebermos o quanto avançamos nas questões sociais, e fazer, aí sim, a crítica justa a cada poder instituído (não apenas ao executivo) que deveriam nos representar. Há corrupção em todas as instâncias de poder, nos mais variados partidos, em inúmeras repartições públicas. Mas não existem corruptos sem corruptores, e muitos dos corruptores estavam na mesma manifestação. </div>
<div style="text-align: justify;">
Portanto, fazer a crítica justa e necessária, sem perder as caras lições da história, sim, mas voltar à direita, nunca mais!<br />
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPLoBs8Qr2yiZjGbq51y4FGgkafNiew2rQUB9VlfU2s0e_N3nFdN_9Wd8TpLdF07JnLKd457S1It8n7GnTGy6uuxn8oYg_Wa8putvPcfj_EP2Qg_E_OlU2KFKezIAYdgCZ5ZlVcQ/s654/penso2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiPLoBs8Qr2yiZjGbq51y4FGgkafNiew2rQUB9VlfU2s0e_N3nFdN_9Wd8TpLdF07JnLKd457S1It8n7GnTGy6uuxn8oYg_Wa8putvPcfj_EP2Qg_E_OlU2KFKezIAYdgCZ5ZlVcQ/s320/penso2.jpg" width="235" /></a></div>
<br />
<br />
<div style="text-align: right;">
<span style="font-size: xx-small;">Publicado originalmente no <a href="http://www.diario.com.br/">Diário Catarinens</a>e, 29 de junho de 2013.</span></div>
</div>
<br />Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-7358829617212425262013-06-01T13:37:00.001-07:002013-06-01T13:37:13.790-07:00SER RADICAL É IR ÀS RAÍZES<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> Nos anos de 1920, o escritor Mário de Andrade dizia: “Muita saúva, pouca saúde, os males do Brasil são”. Não temos mais, pelo menos em nossa urbe insana, que nos preocupar com a saúva, mas os problemas de saúde, apesar do avanço da expectativa de vida desde aquela época, são imensos. Eu agregaria hoje, além do desleixo crônico desde a constatação de Mário de Andrade, com a saúde pública, dois defeitos ao País: a conciliação e o imediatismo. Se formos bem no fundo da raiz, no conceito marxista mais bonito de sua análise profunda que fez sobre o capital (o primeiro é a ideia de mais-valia), que é “ser radical”, percebemos que toda conciliação paga tributo ao imediatismo. E toda atitude imediatista tende a matar as soluções a longo prazo.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> Se tentarmos compreender o motivo pelo qual o Brasil ainda navega sob um regime presidencialista, (muito possivelmente porque a maioria das pessoas não sabe o que é o parlamentarismo); o motivo pelo qual um sujeito como Paulo Maluf é procurado pelas polícias de cem países mas só aqui ele anda solto e ainda é deputado federal; o motivo pelo qual pequenos burgueses mal informados bradam furiosos contra políticas de cotas, distribuição mínima de renda e outras políticas de desnivelamento social, mas nunca são contra, ou desconhecem, a aposentadoria de viúvas que recebem cem vezes mais do que uma família inteira inscrita em quaisquer dos programas sociais existentes; o motivo pelo qual somos machistas, violentos, misóginos, racistas e vivemos na superfície das coisas, navegando pela moda genérica que não está nem aí para as particularidades e para resoluções de problemas futuros, tudo isso e mais um pouco, é porque temos um medo abissal de ir às raízes, de ser radical. Citaria ainda a anistia geral que deixou de punir torturadores, criminosos, censores e sequestradores, entre outras atrocidades acontecidas durante a ditadura militar.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> Numa analogia talvez simplista (pra que ninguém diga que escrevo profundo demais), só se pode evitar frutos podres se cortarmos a doença desde a raiz. E mesmo os que torcem o nariz para Marx (porque talvez não o tenham lido com atenção) concordarão que esse é um modo razoável de conhecer para resolver problemas.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> Todos sabem que é necessária uma profunda reforma política no Brasil, que o maior desperdício de dinheiro público que se tem conhecimento é a realização de eleições a cada dois anos. Na última eleição, o País gastou quase 600 milhões de reais. Na próxima, em 2014, calcula-se, segundo a proporção do aumento da penúltima, pode chegar a 750 milhões. Em quatro anos, o TSE gasta quase um bilhão de reais, quando poderia, se unificassem as eleições, gastar metade disso. Porém, a mania conciliatória, por conta do imediatismo, já que nenhum político quer encurtar seu mandato para se adequar a algo que economizaria, a cada quatro anos, uma quantia suficiente para construir, por exemplo, dez hospitais públicos, é o que mantém essa anomalia perdulária. Em quase todos os países democráticos as eleições são unificadas. E mais, na Itália, além das eleições gerais, desde o vereador até o presidente, todos os plebiscitos são feitos de uma única vez. Vários estados democráticos, principalmente na Europa, perguntam sobre quase tudo, de tempos em tempos, de forma plebiscitária, tentando se aproximar da democracia real, não a representativa, da qual estamos muito mal acostumados.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> No Brasil, pela tradição presidencialista, o povo dá uma importância desmesurada aos governos, e se esquecem de que eles são apenas nossos funcionários públicos passageiros, postos ali com uma função primordial, que é a de seguir e respeitar as leis. Mas poucos governos o fazem, porque pagamos para que o Estado devolva em educação, saúde, infraestrutura, cultura, segurança, e nós, tolos que somos, pagamos mais uma vez para a iniciativa privada para que nos dê de novo tudo aquilo pelo qual já contribuímos antes ao Estado.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> Cobrar, portanto, dos governos, que cumpram com suas obrigações, é ir às raízes, é ser radical. E fico muitas vezes pasmo quando, por conta de algumas cobranças de cumprimento legal, sou chamado de radical, como se fosse pecado cobrar dos governos o que é de direito e previamente acordado por lei.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif;">FÓRUM CATARINENSE DO LIVRO E DA LEITURA</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> Foi criado, na segunda-feira que passou, por iniciativa do projeto Bom de Ler, com apoio do Estado de Santa Catarina, o Fórum Catarinense do Livro e da Leitura, que reuniu vários representantes do setor, que, de alguma forma, trabalham com o livro e a leitura. O poeta e ex-presidente da Biblioteca Nacional, Afonso Romano de Sant’Anna, na abertura do evento, falou sobre a palavra leitura e sua tão recente incorporação ao vocabulário corrente da língua portuguesa. Revelou, também, um dado óbvio, mas pouco posto nos debates, que é o excesso de produção de livros em relação ao número ínfimo de leitores. </span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> Talvez o leitor não saiba, mas a indústria do livro produz 200 títulos novos por dia, o que não é pouco. E estou dizendo “títulos”, não exemplares. Porém, as editoras, de acordo com Afonso Romano, e também por experiência própria, como editor de textos e de livros, estão acumulando em seus estoques toda esta produção. No resumo da ópera, o Brasil talvez seja o único pais do mundo que tenha mais livros do que leitores. Com uma televisão de programação imediatista e conciliadora, porque não vai às raízes, isso pouco vai mudar. E qualquer um entende que a televisão é hoje o maior sistema de (des)educação existente. A tevê tem mais poder de educar do que a escola e a família juntos. De qualquer modo, tomara que o Fórum recém instalado vá às raízes deste problema, como disse o próprio Afonso Romano, que é de segurança nacional. E para resolver problemas de segurança nacional só mesmo sendo radical. Caso contrário, continuaremos navegando bem próximos à barbárie.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: xx-small;">Publicado no Diário Catarinense, 1 de junho de 2013.</span></div>
Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-43373805023607766252013-05-06T08:53:00.003-07:002013-05-06T08:53:28.510-07:00PARA ONDE VAI O JORNALISMO?<br />
<div style="text-align: justify;">
Na semana retrasada, participei de um debate, a convite de alunos e professores do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina, no programa Jornalismo em Debate, produzido pela Rádio Ponto Ufsc (<a href="http://www.radioponto.ufsc.br/">www.radioponto.ufsc.br</a>). O mote foi a cobertura que a imprensa deu à eleição do papa Francisco. A questão principal era se foi exagerada ou não, principalmente se levarmos em conta a desproporção na cobertura sobre outras crenças. Inúmeras religiões existem no mundo, ainda que a Católica seja a mais praticada no Brasil, e pouco se vê ou se lê sobre seus líderes.</div>
<div style="text-align: justify;">
Os debatedores chegaram à conclusão, quase unânime, de que houve mesmo exagero. De minha parte, indo um pouco além desta cobertura específica, penso que o jornalismo quase sempre exagera. Dada a formação de cada um, todo profissional da imprensa tem lá seus critérios para escolher o que possa ou não ser notícia. Muitos profissionais, baseado no critério subjetivo de que a melhor notícia (como se isso existisse) creem que é “aquela que vende”, aliando doses (quase sempre exageradas) de paixão com pitadas de um senso “mercadológico” duvidoso. Se o papa vende, dá-lhe papa. Se a vida de “celebridades” (que a própria mídia fabrica) vende, enchem as páginas de jornais e os minutos de telejornais com fofocas sem a menor importância, ou, quando importantes, com abordagem na maioria das vezes equivocada. </div>
<div style="text-align: justify;">
Todos os dias, jornais e tevês têm a obrigação de informar. Para tanto, têm números de páginas e minutos fixos. Digamos que em um determinado dia nada digno de nota tenha acontecido, ainda assim as páginas e os minutos devem ser preenchidos. A grande questão dos profissionais do Jornalismo é estabelecer critérios do que é mais ou menos importante para ser noticiado. Nesta escolha tramitam vários interesses. O do jornalista, o do editor e o do próprio veículo. O do jornalista (incluindo o repórter e o editor) tem a ver com sua formação intelectual, o do veículo, com suas relações comerciais e com o gosto popular. Porém, se a tendência do leitor médio é ser preconceituoso, machista, homofóbico ou fascista, não penso que o jornalismo deva escolher notícias que agrade esse tipo de leitor apenas para vender mais jornal.</div>
<div style="text-align: justify;">
Sempre me pergunto, que interesse tem um leitor sobre notícias de acidentes de trânsito, assassinatos, separações ou uniões de outras pessoas? Mas todos os dias elas enchem páginas de jornais e os programas de tevê e sempre com a mesma abordagem. Falta ao jornalismo, de modo geral, o aprofundamento das questões que mais afligem a comunidade. Porém, muitas vezes, nem o jornalista tem formação suficiente para abordá-la, nem o veículo a coragem para deflagrar o debate necessário.</div>
<div style="text-align: justify;">
Por isso, penso que o jornalismo do futuro está nos debates e nas opiniões de especialistas sobre este ou aquele assunto. Não há sentido em perguntar ao leitor ou a espectador o que ele pensa sobre um julgamento ou sobre a separação de alguém. Mas é o que o jornalismo tem feito cada vez mais, invertendo um papel antes reservado aos formadores de opinião. Há sempre um embate nada velado nas sessões de cartas e nos comentários dos blogs, que, sinceramente, dá vontade de chorar de tanto preconceito destilado e de tanta falta de conhecimento. Porém, é o embate que vende.</div>
<div style="text-align: justify;">
Sei que veículos de comunicação precisam de leitores. Mas a concessão demasiada às notas superficiais (seja pelo reduzido espaço, seja pelo teor), tanto ao leitor quanto a temas que nada contribuem, está tornando cada vez mais o jornalismo em algo tedioso e com pouca reflexão (quando há é rasa) sobre o que realmente importa, que, no fundo, é a propagação do conhecimento, menos, mas muito menos, apenas da informação. E informação não é conhecimento. </div>
<div style="text-align: justify;">
Se um homem mata cinco ou dez pessoas, o que deve ser informação é o motivo, os questionamentos sobre a existência da violência, formas de detê-la, o papel do estado, da educação, etc. Mas o que o jornalismo faz é mostrar a mãe chorando em close, a vida geralmente “estranha” do suspeito e assim por diante. Não é à toa que entre as pessoas que gostam de ler, os veículos preferidos são aqueles que privilegiam os debates, porque a notícia em si é quase sempre a mesma, porque ainda está vinculada perigosamente ao mercado. Tudo bem que o mercado é quem financia os veículos de comunicação. Mas a tradição do anúncio é estar próximo da notícia por desinteresse, pelo conhecimento prévio de que o leitor desviará os olhos em algum momento para o reclame, jamais para influenciar na notícia. Os meios de comunicação já foram no passado fonte muito mais confiáveis do que hoje. Talvez por isso.</div>
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<br /></div>
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ALÉM DO MAIS</div>
<div style="text-align: justify;">
EM BOSTOM</div>
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Outro exemplo, e talvez seja o mais emblemático do momento, foi a cobertura da explosão de uma bomba caseira na maratona de Boston. Se contarmos que um dia antes morreram cinquenta pessoas por causa de uma explosão no Afeganistão, e nos dias seguintes um terremoto matou mais de 200 pessoas na China, ainda assim, todos os jornais impressos, a tevê e até mesmo os jornais da internet davam até cinco vezes mais espaço para os três mortos no atentado de Boston. Sinal inequívoco que mortos norte-americanos valem mais do que os mortos dos “outros”.</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O QUANTO SOMOS DEPENDENTES</div>
<div style="text-align: justify;">
O compromisso com a macro-economia, da qual somos dependentes, porque somos uma neocolônia dos Estados Unidos, faz com que um atentado na corte seja considerado mais importante do que um atentado no distante Afeganistão ou um desastre na quase inimaginável China. Não dá também para desvincular todas estas questões com a formação do profissional da comunicação, cada vez mais tecnicista e menos humanista. Acabou-se o tempo em que jornalistas eram leitores vorazes e suspeitavam de tudo na mesma proporção exatamente porque liam de tudo. Infelizmente, somos mais dependentes dos manuais técnicos do que dos livros.</div>
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<br /></div>
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NA CAVERNA DE PLATÃO</div>
<div style="text-align: justify;">
Talvez este seja o momento de a mídia começar a debater com mais profundidade sobre seu papel e sua importância na formação de seus leitores, como já teve em algum momento na história, quando pautou-se pelo bom senso, quando foi combativa, e deu espaços a temas essenciais, quando tinha em seus quadros intelectuais de ponta. A impressão que tenho, depois de ter participado do debate, é que estamos de volta (ou nunca saímos) à caverna de Platão, assistindo a sombras crendo que elas são a realidade. Está na hora de o jornalismo começar a olhar mais para a realidade, menos para seu umbigo e seus espetáculos supostamente reais, como os tais “shows de realidade”, nome, aliás, que distorce simbólica e propositadamente a semântica de uma palavra tão essencial, que é “realidade”.</div>
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<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOXSE6AxJeLBs7LZipZzz3ZKrw4Y-z4G0Nnb2pTUPWK__9wrll2yoHhGhhd8tmrlTR2IeTiheI_h-B258J18gJNHjo9hcF143BJae7XSHBj8dhC26eNhsEWxCxsZR6TJUc3uLSlw/s1600/penso.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOXSE6AxJeLBs7LZipZzz3ZKrw4Y-z4G0Nnb2pTUPWK__9wrll2yoHhGhhd8tmrlTR2IeTiheI_h-B258J18gJNHjo9hcF143BJae7XSHBj8dhC26eNhsEWxCxsZR6TJUc3uLSlw/s320/penso.jpg" width="235" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small; text-align: left;">Publicado no Diário Catarinense, 4 de maio de 2013</span></div>
Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-17340882960493322852013-04-06T15:03:00.000-07:002013-04-06T15:03:27.598-07:00POR UM ESTADO LAICO<br />
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; text-align: justify;">
<span style="font-family: garamond, serif; font-size: medium;"><span style="color: windowtext;"> POR UM ESTADO LAICO</span><span style="color: windowtext;"> </span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;"><span style="font-family: garamond, serif; font-size: medium;"> As práticas religiosas deveriam ser como qualquer outro tipo de relação íntima. Nunca me pareceu que devesse ter caráter público. Conversas, rezas ou promessas que cidadãos queiram ter com uma crença, ou uma não crença, com um deus histórico ou tirado de sua imaginação, ou mesmo de uma imaginação coletiva, não devem interessar a mais ninguém a não ser a quem de direto professe tal crença. Essa é uma premissa, além de outras, que fez com que nações – notadamente as democráticas – separassem constitucionalmente o estado da religião. O Brasil, que se supõe ser democrático, é um país laico. Isso significa que crer em algo, alguém, ou qualquer outra coisa – inclusive não crer – não pode, em hipótese alguma, ser objeto de lei, à exceção daquela que lhe dá o direito de professar ou não uma religião.</span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;"><span style="font-family: garamond, serif; font-size: medium;"> É uma pena que várias gerações tenham, por conta de um estado omisso em seu dever constitucional de educar de forma libertária e sem medos, desconhecimento tão grande sobre a história das religiões. O passado é farto de casos nos quais a junção religião e estado foi maléfica. Durante séculos, a religião católica, por exemplo, dominou o mundo através de um conluio promíscuo com as monarquias europeias. Durante a Idade Média, foi a que mais lutou contra o conhecimento científico, condenando importantes cientistas, como Giordano Bruno, e levou milhares de pessoas, incluindo mulheres consideradas como sendo bruxas, à fogueira. Se fosse pelo obscurantismo religioso daquele período, até hoje seríamos forçados a crer que o planetinha em que vivemos não é redondo e não é apenas um grão de areia diante de um imenso universo.</span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;"><span style="font-family: garamond, serif; font-size: medium;"> Mas não estamos mais na Idade Média. A própria Igreja Católica, apesar de todos os ritos medievais, têm entre seus padres e bispos, pessoas capazes de debater no nível intelectual mais elevado, como o ex-papa, Joseph Ratzinger, com o filósofo alemão Jürgen Habermas, em 2004, ou o escritor e filósofo italiano, Umberto Eco, com o arcebispo de Milão, Carlo Maria Martini, que resultou no livro “No que creem os que não creem”. Umberto Eco, um agnóstico convicto, não é nenhuma encarnação do mal, como acreditam religiosos que ainda pensam deste modo medieval. Não há necessidade de se conhecer o pensamento religioso ou ter qualquer conexão com entidades divinas para se viver uma vida eticamente responsável. O próprio arcebispo escreve para Eco: “Estou convencido, além disso, de que existem não poucas pessoas que se comportam com retidão, pelo menos nas circunstâncias ordinárias da vida, sem referência a nenhum fundamento religioso da existência humana”.</span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;"><span style="font-family: garamond, serif; font-size: medium;">Sendo assim, as proposições da ciência, tais como a defesa do uso de preservativos, do sexo sem culpa (afinal, ninguém nasce sem que alguém tenha feito sexo, antes ou depois do casamento), das pesquisas com células-tronco e da proposta de descriminalizar o aborto não devem ser analisadas sob uma ótica religiosa, pois as religiões ainda creem que somos crias de Adão e Eva, o que, digamos, é tão medieval quanto à crença de que a terra é plana. Me custa compreender o motivo pela qual as religiões insistem num erro tão grosseiro, sendo que, pela mesma ótica criacionista, errou outras vezes, e teve que reconhecer publicamente sua falha.<u></u></span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;"><span style="font-family: garamond, serif; font-size: medium;"> A questão é que a vida coletiva se transforma. Não há mais escravidão consentida, por exemplo, uma aberração social que as igrejas nunca combateram. Se a preocupação básica das igrejas é com a salvação das almas (algo que não existe sob o ponto de vista da ciência, porque nunca foi demonstrada sua existência), porque se importam tanto com o corpo no que diz respeito aos prazeres do sexo? Como escreveu o filósofo inglês, Bertrand Russel: “O senso de pecado, artificialmente implantado [na educação infantil não laica] é, mais tarde, na vida adulta, uma das causas da crueldade, timidez e estupidez”.</span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;"><span style="font-family: garamond, serif; font-size: medium;"> BATER PODE, BEIJAR NÃO.</span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;"><span style="font-family: garamond, serif; font-size: medium;"> O sexo é tão importante quanto comer ou beber água. É uma necessidade vital, seja ele feito com pessoas do mesmo gênero ou com pessoas do outro gênero. A prática sexual, assim como a prática religiosa, é de foro íntimo, sendo que ninguém tem nada a ver com isso. Se pessoas do mesmo sexo querem morar juntas ou se amarem, e se não prejudicarem ninguém, o que a religião têm com isso? Pode se manifestar contra? Claro que sim. Pode impedir? Não, porque o Estado é laico e as leis não podem ser submetidas a interpretações metafísicas, ou baseadas em crenças no além. Do mesmo modo que o Estado não pode impedir a quem quer que seja que ore para este ou aquele deus, que pratique esta ou aquela religião.</span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;"><span style="font-family: garamond, serif; font-size: medium;"> Não sei o motivo real, e talvez algum religioso possa esclarecer, desde que seja educado como foi Carlo Maria Martini com Umberto Eco, sem tentar a todo custo amaldiçoá-lo por ser agnóstico – como muitos crentes fazem com pessoas que não acreditam – por que muitos religiosos se incomodam tanto contra homens que beijam outros homens (Jesus beijou Pedro várias vezes), mas não lutam com a mesma força contra homens que batem em homens e em mulheres?</span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;"><span style="font-family: garamond, serif; font-size: medium;"> PASTORES E PROFETAS NÃO ME REPRESENTAM</span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; text-align: justify;">
<span style="color: windowtext;"><span style="font-family: garamond, serif; font-size: medium;"> O episódio do autoproclamado profeta e pastor, Marcos Feliciano, eleito à presidência de uma comissão de direitos humanos no Congresso, está sendo debatido por um viés superficial. Não importa quem ocupa a presidência, apesar de ele ser um obscurantista, porque coloca no lixo toda a história e a filosofia, desde Sócrates até Bertrand Russel. A pergunta deste debate não deve ser: "Como tirá-lo da presidência?", mas sim: "Como um sujeito tão despreparado e ignorante como este chegou à presidência?".</span></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; text-align: justify;">
<span style="font-family: garamond, serif; font-size: medium;"> Esta confusão toda é apenas a ponta do problema da falsa representatividade no Congresso Nacional. Enquanto não ou houver um reforma política que estabeleça critérios justos de representação política, qualquer sujeito que se diz pastor e profeta, que engana milhares de coitados com informação deturpada, sem contrapontos possíveis, e sem demonstrações de sua aplicabilidade científica, poderá ocupar este tipo de cargo. Se não houver uma profunda reforma política, sairá um Feliciano e entrará outro tão despreparado e ignorante quanto este.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; text-align: justify;">
<span style="font-family: garamond, serif; font-size: medium;"><br /></span></div>
<table align="center" cellpadding="0" cellspacing="0" class="tr-caption-container" style="margin-left: auto; margin-right: auto; text-align: center;"><tbody>
<tr><td style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8ZsCqhbfrGWUiaTZEpzm0cT5dwWAwJ740HTo_FWX8YIC_RO2SGWmipxR9BR4fNrwqn_Ize7EThGjSzwEthyu2E1ynx5sMmxJZB16p3vi3qUDLpWjgWkhZmToUR9novyNw5lPJMw/s1600/penso.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: auto; margin-right: auto;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh8ZsCqhbfrGWUiaTZEpzm0cT5dwWAwJ740HTo_FWX8YIC_RO2SGWmipxR9BR4fNrwqn_Ize7EThGjSzwEthyu2E1ynx5sMmxJZB16p3vi3qUDLpWjgWkhZmToUR9novyNw5lPJMw/s320/penso.jpg" width="241" /></a></td></tr>
<tr><td class="tr-caption" style="text-align: center;">Publicado no Diário Catarinense, 6 de abril de 2012</td></tr>
</tbody></table>
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; text-align: justify;">
<span style="font-family: garamond, serif; font-size: medium;"><br /></span></div>
Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-18266119389334449882013-03-09T12:28:00.002-08:002013-03-09T12:28:50.731-08:00A ACADEMIA DE CINEMA QUE NÃO GOSTA DE CINEMA<br />
<div style="text-align: justify;">
Michael Haneke é um dos cineastas que mais me impressionam, principalmente pelo modo de construir uma linguagem que não faz concessões ao mercado. Ele não quer entreter, mas fazer pensar. Seu último filme, “Amor” – o qual nem considero o melhor que ele tenha feito – foi indicado para concorrer ao Oscar 2013. Pela película, Haneke foi listado como diretor; a atriz francesa, Emmanuelle Riva, como atriz; e, de quebra, sua escritura como roteiro original. </div>
<div style="text-align: justify;">
Todas estas indicações são mais do que indícios de que seriam, fora a óbvia de “filme estrangeiro”, apenas medalhas de honra ao mérito. A indústria norte-americana não costuma “perder” sob o ponto de vista econômico e ideológico. A indicação de bons filmes, principalmente estrangeiros, sempre foi apenas meritória na história do Oscar, nunca para valer. Sendo assim, estava escrito que Haneke não ganharia outro troféu do que o de “estrangeiro”, o de “outro”.</div>
<div style="text-align: justify;">
O Oscar não foi inventado para premiar cinematografias insurgentes, marginais, “estrangeiras”, de poucos recursos, inventivas e de linguagem distinta da fórmula padrão que consolidou a fábrica de criar emoções e de exportar a política de expansão do capitalismo. Em resumo, não é um prêmio para o cinema, mas para o capital.</div>
<div style="text-align: justify;">
Eu sei da obviedade disto tudo e tenho certeza de que não estou aqui escrevendo nenhuma novidade. Meu espanto se dá pela falta de reação e da complacência do brasileiro em não refletir sobre isto, e não pelo fato de a academia (um termo apropriado, pois as academias têm certa ojeriza à novidade) se recusar a premiar o melhor filme. Aliás, é cansativo, pela obviedade quase explícita, explicar a um espectador médio que um filme não é apenas entretenimento (por conta da história e não pela linguagem) mas composto de muito mais significados do que ele imagina. Para pensar um filme sob o ponto de vista crítico é preciso esquecer as histórias e se ater aos aspectos de condução, linguagem, inventividade e ritmo, e o de fazer pensar mais do que entreter, assim como fez Haneke, com “Amor”.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não estou espantado, portanto, pelo fato de a tal academia ter premiado a atuação de uma jovem atriz, Jennifer Lawrence, que fez nada mais do que o normal, e não a interpretação antológica de Emanuelle Riva. Do mesmo modo, nem por ela ter acreditado que Ang Lee, com peripécias tecnológicas, possa ter conduzido a câmara e os atores magistralmente como fez Haneke. Muito menos de que a academia creia que o filme de Ang Lee seja mesmo mais importante, sob o ponto de vista cinematográfico, do que o do austríaco. Me espanta o quanto os brasileiros se envolvem com um evento destes, pelos comentários, pelas torcidas por este ou aquele filmeco (como “O lado bom da vida”), pela transmissão quase ufanista, pela torcida por algo que não nos pertence, ou pela importância descabida que a própria mídia dá ao evento, como se fosse a coisa mais importante da cultura mundial. E não é. A mídia apenas segue a onda por conta da grana, nada mais. Nós, colonizados pela cultura norte-americana, nos encarregamos de auxiliar sua indústria mais poderosa, que faz, sim, bons filmes (e estes raramente concorrem ao Oscar), mas que, na média, apenas repete velhas fórmulas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Quando a primeira dama dos Estados Unidos, ao vivo para todos os cantos colonizados do mundo, anunciou o prêmio de melhor filme, e, antes disso, fez um discurso elogiando o quanto o cinema faz bem ao país divulgando a “verdade”, estava na cara que o ganhador seria o filme que deu um empurrãozinho ideológico à sua política externa. Como cinematografia, “Argo”, o ganhador, não vale um dólar furado, pois fabrica clichê sobre clichê, usa a câmara, os recursos sonoros e os truques apenas para heroicizar a política e a ideologia de seu país. Como muito bem escreveu o crítico de cinema José Geraldo Couto, comparando “Argo” com seu dublê “A hora mais escura”: “Três décadas separam os dois eventos, mas nos dois filmes persiste um traço comum: a total falta de interesse dos realizadores em conhecer o “outro”, em tentar, ao menos por um instante, se aproximar de seu ponto de vista, buscar compreender suas motivações. O que há é um “nós” e um “eles”, como nos velhos filmes de índios, ou de alienígenas.”</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
ALÉM DO MAIS...</div>
<div style="text-align: justify;">
As evidências do quanto a política externa norte-americana se vale do cinema – e não são de hoje – estão cada vez mais escancaradas. As grandes distribuidoras, cientes do quanto o gosto médio dos espectadores de países como o Brasil está mais do que moldado às narrativas da fábrica de emoções, empurram de goela baixo, com ameaças de não distribuir mais estes filmes aos exibidores, o que há de pior da cultura e de sua ideologia.</div>
<div style="text-align: justify;">
Citei aqui outro dia o cinema feito em Recife como sinal de novidade, por conta do reconhecimento por parte do governo pernambucano de que a considerada sétima arte é uma indústria fundamental para o desenvolvimento, porque gera divisas, empregos e exporta cultura. Os cineastas brasileiros têm todo direito, sim, de reclamar da apatia do governo brasileiro e o de outros estados (como Santa Catarina) em não reconhecer essa obviedade, e por não tratar o cinema com seriedade, (os norte-americanos o tratam a seu modo) criando, por exemplo, salas exclusivas para a cinematografia brasileira e repensando a desproporção da distribuição de filmes norte-americanos em detrimento a filmes de outros países. Nas tevês, chega a 90%, por exemplo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Se um produtor norte-americano investe em um único filme o equivalente a arrecadação de um ano inteiro de cidades como Criciúma, por exemplo, é uma prova quase redundante de que eles dão uma importância ao cinema à qual nós não. E não pensem os senhores que não têm ajuda do governo. Quer ajuda maior do que a aparição de Michelle Obama na decadente e extemporânea festa do Oscar?</div>
<div style="text-align: justify;">
Se já sabemos há tempos que o cinema é uma indústria tão poderosa, por que somos apenas espectadores passivos e não agentes transformadores? Basta um pouco de inteligência e dinheiro, que, sabemos, num país que se dá ao luxo de pagar salários de 60 mil reais para um único parlamentar, parece não faltar.</div>
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<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: left;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgx-a80rTUI1uBv_NT3zjxJ3mt8u1RyP-kdtsctl3KnIVE90jtSGYGBGMUWLsKltdz1Oji0VC4eYfPjIycGf1-67GxlUXfXPBvg9CsFMFmSOygQjjJQqvprAjopVBU-Mm0WSVKxkA/s1600/penso.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgx-a80rTUI1uBv_NT3zjxJ3mt8u1RyP-kdtsctl3KnIVE90jtSGYGBGMUWLsKltdz1Oji0VC4eYfPjIycGf1-67GxlUXfXPBvg9CsFMFmSOygQjjJQqvprAjopVBU-Mm0WSVKxkA/s320/penso.jpg" width="238" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: right;">
<span style="font-size: x-small;">Publicado no Diário Catarinense, 9 de março de 2013</span></div>
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<br /></div>
Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-87684016767977333672013-02-12T16:45:00.002-08:002013-02-12T16:45:25.886-08:00POR QUE O GOVERNO ODEIA CULTURA?<br />
<div style="text-align: justify;">
Já fiz esta mesma pergunta antes aqui mesmo neste espaço, mas para que o leitor compreenda o motivo da repetição e da indignação dos produtores, artistas e intelectuais catarinenses em relação às políticas públicas para a área da cultura, principalmente por conta da publicação do novo decreto que rege o famigerado SEITEC (Sistema Estadual de Incentivo à Cultura, Esporte e Turismo), faço um aqui breve relato histórico dos últimos quinze anos de reflexões, debates, encontros, passeatas, redação e entrega de documentos aos governadores, e o quanto tudo isso deu em nada. E, dando, em nada, resta a pergunta nunca respondida por este e pelo governo anterior: Por que vocês odeiam tanto os produtores culturais e, consequentemente, a cultura?</div>
<div style="text-align: justify;">
Há quinze anos, cineastas, escritores, produtores, dançarinos, atores e diretores de teatro, músicos e outros intelectuais se reúnem para propor políticas públicas decentes para os governos. A primeira manifestação foi uma passeata do Centro Histórico da Ilha até a Assembleia Legislativa, contra o decreto do ex-governador Luiz Henrique da Silveira, que propunha em uma única tacada, entre outras barbaridades, acabar com a Fundação Catarinense de Cultura, a Biblioteca Pública do Estado e os editais de apoio à cultura conquistados anteriormente pela categoria. </div>
<div style="text-align: justify;">
A união dos trabalhadores da cultura proporcionou, além de intenso debate sobre as reais necessidades para se fazer cultura na Santa e Brega Catarina, o cancelamento do decreto e sua transformação em algo menos dolorido para a categoria. Um dos principais resultados dos debates foi a reflexão de que fazer arte e cultura é função do povo, jamais do governo. Portanto, a política pública deveria ser de Estado (sempre regida por legislação específica) e nunca de governo, porque, historicamente, todas as ações governamentais para a área são tendenciosas e de cunho fascista.</div>
<div style="text-align: justify;">
Os manifestantes criaram uma extensa exposição de motivos propondo uma legislação neste sentido. Porém, o governador fez ouvidos moucos, de olho na enorme soma de recursos vindas dos fundos, para projetos de seu próprio gosto, como o Balé Bolshoi, Folclore da Polônia, teatro para a Vera Fischer e outras importações extemporâneas e de gosto duvidoso. O grupo, heterogêneo, e de várias áreas da produção cultural, solicitou durante oito anos audiência com o governador. Adivinha se ele atendeu uma única vez.</div>
<div style="text-align: justify;">
Com a posse de Raimundo Colombo a situação piorou, porque as reivindicações da categoria continuavam sendo ignoradas, a ponto da criação, por parte dos artistas, dos movimentos Novembrada Cultural e Ocupa CIC, quando os manifestantes ficaram acampados no Centro Integrado de Cultura solicitando mudanças urgentes, e mais respeito a quem faz arte. Mas nada disso adiantou. Nem mesmo a proposta do Ministério da Cultura, para que o Estado se adequasse às regras federais para poder obter financiamento federal, foi ouvida. Nem mesmo as extensivas reuniões públicas, para se criar um Sistema Estadual de Cultura, foram suficientes, talvez porque todas as sugestões do público eram favoráveis a uma política de Estado, contrária, obviamente, aos interesses do governo, que vê nas verbas do fundo um uso apenas a seu favor, promovendo corridas de Kart, desfiles de moda e outras ações contrárias às mais modernas legislações que regem o setor nos países mais avançados e até mesmo em Estados mais pobres da Federação, como Pernambuco, cujo edital de cinema é de 9 milhões de reais ao ano, formando um dos polos mais importantes de cinema do Brasil. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
ALÉM DO MAIS</div>
<div style="text-align: justify;">
O FAMIGERADO DECRETO</div>
<div style="text-align: justify;">
Pois o decreto aprovado em 13 de dezembro do ano passado, período em que a maioria já está cansada do ano, não só foi redigido sem a participação dos maiores interessados, como mantém duas das questões mais criticadas por parte daqueles que fazem arte em Santa Catarina: 1) o Comitê Gestor, composto por apenas três membros que podem aprovar ou desaprovar projetos previamente aprovados ou desaprovados pelo Conselho Estadual de Cultura, sendo dois membros do próprio governo, e 2) a manutenção de uma Secretaria composta por três áreas completamente desconexas: cultura, esporte e turismo, com um secretário que tem que pensar e debater com três grupos de interesses igualmente desconexos e, obviamente, a cultura é a que mais sofre, sempre, principalmente porque provoca reflexões importantes.</div>
<div style="text-align: justify;">
Fora isso, o governo também não perguntou à classe sobre a competência técnica ou mesmo sobre o conhecimento específico que o novo secretário da pasta extemporânea e tripartite, empossado recentemente, o político Beto Martins, tem sobre a reivindicação histórica da categoria. No balanço geral, os governos citados deixaram de lançar três editais de cinema, contrariando descaradamente a legislação que os rege, dois editais gerais, o chamado equivocadamente de Elizabete Anderle, várias edições do Salão Vitor Meireles, outras várias do Prêmio Cruz e Sousa, sem contar que não paga, também exigência legal e contratual, os ganhadores de vários editais de cinema.</div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Também não podemos, é claro, pensar que inexistem produtores e artistas que lucram com isso. E estes sempre fazem o papel de amigo do secretário, recebem as verbas mais polpudas, principalmente se for evento, filme, livro ou peça de teatro que não incomode ninguém e que não promova uma profunda e necessária revolução cultural em um dos estados mais caretas do País, este em que vivemos.</div>
<div style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4UNQk6m8zl4mlr5nBwg27cUpTC4ppO4YjHyVe4bL7hQ1QIMnuTz6Iv32cpuI9vsVQrhY4k91Nwh-XBymY-QO7deXP3dXWjf95vEGQtIyffSZkO6GbvA100AtGXm3lJn4gfUlrlQ/s1600/penso.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em; text-align: center;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh4UNQk6m8zl4mlr5nBwg27cUpTC4ppO4YjHyVe4bL7hQ1QIMnuTz6Iv32cpuI9vsVQrhY4k91Nwh-XBymY-QO7deXP3dXWjf95vEGQtIyffSZkO6GbvA100AtGXm3lJn4gfUlrlQ/s400/penso.jpg" width="298" /></a><span style="font-size: x-small; text-align: right;">Publicado no Diário Catarinense, 9 de fevereiro de 2012.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: right;">
<br /></div>
Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com5tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-30253614771912829652013-01-05T11:07:00.001-08:002013-01-05T11:07:11.892-08:00 REVOLUÇÕES SILENCIOSAS<br />
<div style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13.333333969116211px; text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Durante 2012, pensei em questões que me pareciam ser importantes para desenvolver neste espaço chamado, não por menos, “Penso”. Por conta de assuntos emergentes, quase sempre críticos em relação a mandos e desmandos do poderes públicos, notadamente os mais próximos: municipal e estadual, não levei adiante tais reflexões e elas tornaram-se meras notas para futuro desenvolvimento. Acreditei agora, relendo-as, que poderia compartilhar (palavra tão da moda no ano que passou) com o leitor aquelas que ficaram apenas no âmbito da investigação, sem resolução, apenas perguntas, sem respostas. Seguem, portanto:</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A teoria precede a experiência</span></b></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Parece paradoxal, mas acredito na tese de que a teoria precede a experiência. Ao contrário do que a maioria crê, de que só é possível teorizar sobre algo com o qual primeiro vivenciamos, penso que a experiência só se denomina como tal se soubermos a priori sobre o que estamos vivenciando. </span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O mundo como vontade e representação</span></b></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O mundo, de acordo com apenas uma das máximas do filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788 - 1860) acaba individualmente, todos os dias, para aqueles que morrem (o mundo como representação). Só existe “mundo” para quem conhece a palavra “mundo”, e não para os que “apenas” vivem nele. Viver não é necessariamente estar. O mundo, tal e qual concebemos, cada qual com suas crenças e descrenças, não acabou e não vai acabar. O que acontecem são modificações no modo de viver em comunidade. Estas mudanças têm a ver com as experiências. Mas como experimentar sem teorizar antes? Como crer que uma experiência pode ser boa ou ruim ou mesmo inócua? A crença em uma experiência futura (ainda não concretizada, apenas pensada) utiliza-se do mesmo mecanismo mental que gera a crença em qualquer coisa além da física. A crença em uma experiência ou em Deus tem a mesma raiz.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Fotografia e fotografia digital</span></b></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Não entendo por que as pessoas chamam a velha fotografia com rolos de negativo de “fotografia analógica”. O termo foi roubado (imagino que por paronomia) da “telefonia analógica”, antecessora da “telefonia digital”. Para a transmissão de dados o termo “analógico” faz sentido, porque as informações transmitidas eram convertidos em qualquer ordem de grandeza (sons variáveis: altos e baixos), enquanto que no “telefone digital” os dados são sempre binários. Ao contrário da fotografia, a captação de uma imagem para um negativo não é feita por um dispositivo analógico, mas por um processo físico/químico. O ideal seria usarmos apenas a diferenciação para a fotografia digital — porque não faz sentido um sistema agregar um nome (no caso analógico) apenas porque uma nova tecnologia (no caso a digital) foi criada — e mantermos o termo “fotografia”, sem complemento, para a velha e boa câmara de filme (e não câmera como se usa comumente), como sempre foi.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O tempo</span></b></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Quando eu era piá, em Lages, os adultos se queixavam que a passagem do tempo era cada vez mais rápida na medida em que a idade avançava. Eu ficava imaginando que para meu avô, por exemplo, o tempo entre uma “dormida” e outra era menor do que o meu. Mas não entendia como o tempo podia passar mais rápido para ele e menos lento para mim se estávamos no mesmo instante no mesmo lugar. Com que velocidade o tempo deveria se comportar diante de um menino de 10 anos e de um homem de 60? Essa foi minha primeira questão filosófica séria. Como diz meu amigo Iur Gomes, no ano passado, por esta época ainda era março.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">ALÉM DO MAIS...</span></b></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<b><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">DO MÉXICO À ISLÂNDIA</span></b></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Na semana que passou, cerca de doze mil zapatistas, grupo mexicano seguidor do revolucionário Emiliano Zapata, marcharam em silêncio em três cidades para lembrar o massacre de Acteal, quando 45 indígenas foram assassinados dentro de uma igreja, no dia 22 de dezembro de 1997, no Estado de Chiapas. Com roupas pretas e os rostos cobertos, vestindo preto e vermelho, os manifestantes diziam: “Senhor presidente, se o senhor não mostra sua verdadeira cara, não mostrarei a minha”.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">E na Islândia, ao contrário dos governos que – mesmo se dizendo capitalistas – distribuíram bilhões de euros dos cidadãos para salvar bancos da bancarrota, o povo decidiu deixar os capitalistas falirem. Mais ainda, também em silêncio, criaram uma nova constituição em assembleias populares, estatizaram os bancos e decidiram democrativamente como usar o dinheiro dos impostos. O economista, prêmio Nobel, Paul Krugman, escreveu sem meias palavras no New York Times: “Enquanto os demais países resgataram banqueiros e fizeram o povo pagar o preço, a Islândia deixou que os bancos quebrassem e expandiu sua rede de proteção social”. Quem sabe não podemos também fazermos nossa revolução silenciosa? Meios não nos faltam. </span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">É isso. Um 2013 bem melhor do que 2012 para os que leram até este ponto final.</span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixv-KwZISEPvlphO3FjS7LbX1ff4-y8DyNY3-vImf4aJMEVTJu2coM-c4ctxTV8US1KwBbu_CEkq6RqGwECT8OMmc6X-b6zjzXapt8v8LQ49CeuKuJewgZ31oNZ9LpSfs7tGqlCA/s1600/coluna.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEixv-KwZISEPvlphO3FjS7LbX1ff4-y8DyNY3-vImf4aJMEVTJu2coM-c4ctxTV8US1KwBbu_CEkq6RqGwECT8OMmc6X-b6zjzXapt8v8LQ49CeuKuJewgZ31oNZ9LpSfs7tGqlCA/s320/coluna.jpg" width="235" /></a></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="background-color: white; color: #222222; text-align: right;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: xx-small;">Publicado no Diário Catarinense, 5 de janeiro de 2012</span></div>
Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-76269019167785039862012-12-01T12:14:00.003-08:002012-12-01T12:14:21.553-08:00<br />
<h2>
SOBRE A GÊNESE DA VIOLÊNCIA</h2>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> A partir do momento em que o Estado perde o controle total sobre a segurança pública é preciso perguntar – antes de mais nada – por qual motivo isto acontece. Toda violência generalizada é fruto da falta de investimento em educação e cultura. Na Islândia, o país com a menor taxa de homicídios do mundo, mais da metade das famílias têm por hábito passar os fins de semana nas bibliotecas públicas. Portanto, quando um governo deixa de lançar editais de cultura (obrigados por lei), quando obscurece as curadorias com comitês gestores que privilegiam apenas projetos do próprio governo (e qualquer um que tenha lido um livro sabe que cultura feita por governo sempre tem cunho fascista), quando mantem em seus quadros comissionados gerentes e diretores que não conseguem dialogar com artistas e produtores, está diretamente desrespeitando as regras democráticas. Se os governos desrespeitam as leis, por que sua população deveria respeitá-las? Desrespeito gera desrespeito e violência idem.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> Na abertura do teatro Ademir Rosa, por exemplo, o governador deixou escapar a pérola: “O artista, muitas vezes atua apenas pelo aplauso”. Ora, esse tipo de pensamento é que faz com que os governos tenham compaixão homicida pela arte e por quem a produz. Afinal, para que investir em arte e cultura se os artistas vivem de aplauso? Da próxima vez que tiver que pagar as contas de luz, água e outros tributos estaduais, darei uma enorme salva de palmas a elas ao invés de pagá-las. O governador, muito apreciador da arte, com certeza compreenderá.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> É triste, mas um governo que pensa deste modo é crente também que um povo precisa de asfalto mais do que de bibliotecas, naturalmente fazendo (ou por ignorância ou por desfaçatez) apologia à violência. Quando uma população perde todos os cinemas de rua, por exemplo, dando lugar ao comércio ou a templos (preconceituosos, de compreensão arcaica sobre alguns livros e contrárias ao espírito libertário da arte), perde naturalmente a noção coletiva de que o progresso, como escreveu o poeta Charles Baudelaire, não é a construção de prédios, ruas, avenidas e viadutos. O progresso, dizia ele, existirá somente quando não houver mais a extemporânea ideia de “pecado original”. E quando um governo não compreende tal metáfora está mais do que na hora de largar a prancheta da política partidária e abraçar a arte e a cultura como trabalho e geração de renda e não como passatempo merecedor apenas de aplausos.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> Enquanto a construção de um centro de compras sobre mangues e áreas cujas licenças ambientais são objetos de compra e venda, e não de análise técnica responsável, enquanto defende-se hotéis privados e não em bibliotecas públicas em seus lugares, é óbvio que a população continuará pensando que “ter” é melhor do que “ser”. A paisagem do “ter” também incita violência, ao contrário da paisagem do “ser”. Para “ser” (e os governos não pensam nisto) é preciso formação, educação e cultura. Para “ter”, nem sempre, porque ninguém rouba conhecimento e cultura, apenas dinheiro e objetos. Os governos têm matado sistematicamente os habitantes que os sustentam (por não rara conivência e subserviência pública), seja por ignorar a arte como trabalho, seja deixando de investir em segurança com o objetivo de que as empresas de segurança aumentem seus lucros. Afinal, quando a segurança, a saúde, a educação e a cultura deixam de ser investimento público, para quem a população paga tributo? Para a privada, é óbvio. E se isto não é violência, o que será?</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> E assim, violentamente, pagamos duas vezes para ter o que deveríamos ter quitando apenas uma vez. Uma para o Estado, cada vez mais ocupado por pessoas ignorantes (porque não pensam sequer sobre sua própria responsabilidade pela violência epidêmica), outra para a iniciativa privada, sempre com os pés dentro do Estado e mandando nele. Queimar ônibus é fichinha perto da violência que o Estado pratica todos os dias contra quem o sustenta. </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> Quando dos atentados aos Estados Unidos, em 2001, o governo norte-americano imediatamente procurou vingança cega. Poucos – como o filósofo como Noam Chomski – perguntaram: “por quê sofremos tais atentados?” Não ouvi em nenhum momento o governo catarinense, responsável pela segurança pública, fazer tal pergunta, porque sabe há tempos a resposta: não investe no que deveria investir e gasta muito tempo e dinheiro no que não é de sua responsabilidade. E se já sabe é conivente. A conivência também gera violência.</span></div>
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<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">MOSTRA.DOC</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"> E para quem gosta de cultura mais do que de asfalto, e acredita nela como remédio contra a violência, começa na segunda-feira, dia 3, e segue até o dia 7 de dezembro, a “mostra.doc”, na Fundação Badesc, com seis documentários. Desde “Moscou”, de Eduardo Coutinho, que abrirá a mostra, passando pelo genial “Zelig”, de Woody Allen, que na verdade é um falso documentário, o raro “Terra sem pão”, de Luis Buñuel, “Quarto 666”, de Wim Wenders, até “Além do azul selvagem”, de Werner Herzog. A produção da “mostra.doc”, sem nenhum apoio do Estado, é produzida por abnegados amantes do cinema, com apoio da Fundação Badesc, VideoFilmes, O Mago Realizações e Pingo no I – Arte e Cultura. E o mais importante: não será em um centro comercial, que os neocolonizados preferem chamar de “shopping”, e a entrada será franca.</span></div>
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Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-4928736795195742692012-11-03T11:27:00.000-07:002012-11-03T11:49:30.377-07:00<br />
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 25.5pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">CARTA ABERTA A CESAR SOUZA JR.</span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 25.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 25.5pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">Caro Cesar Souza Jr., em primeiro lugar, não vou usar as deferências honoríficas tradicionais porque as considero – além de tradição esdrúxula – falsas e, principalmente, ampliam as desigualdades. Sabemos que o poder é iniciado pelo domínio da linguagem, ou, para ser mais enfático: linguagem é poder. Por isso, em uma democracia real, ninguém pode ser mais do que "você", porque ilustríssimo, meretíssimo, e estas pataquadas nominais todas têm apenas uma conotação semelhante às becas das formaturas: um ato medieval e, portanto, ultrapassado.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 25.5pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">Em segundo lugar, <span class="il" style="background-color: #ffffcc;">penso</span> que você já deve ter percebido que a maioria da população, e, um pouco menos, a maioria do eleitorado, não apoiou suas propostas. Das 322 mil pessoas aptas ao voto, apenas 117 mil optaram pela sua candidatura. E muitos, você deve ter consciência disso (apesar de ser um percentual não explícito na urna eleitoral), votaram por considerarem a sua plataforma como sendo a “menos pior”. Em resumo, você obteve apenas 36,33% dos votos, apesar da falsa premissa, sempre na boca dos políticos como sendo verdadeira, de que receberam mais de 50% dos votos. Dos válidos, sim, mas da maioria (que é indício de democracia) não.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 25.5pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">Em terceiro, outro número que você deve levar em consideração, é que propostas de inclusão social e de políticas públicas mais democráticas e menos agressivas ao meio ambiente obtiveram 94 mil votos no primeiro turno, praticamente um terço dos eleitores. Isso é uma vitória para uma cidade que tem, historicamente, um comportamento conservador e com vícios explícitos de lidar mal com sua própria história, baseada sempre em políticas de balcão, pouco republicanas e, infelizmente, atrasada e distante dos acontecimentos culturais de vanguarda. Estes números (e ainda a enorme renovação do legislativo) são um aviso mais do que óbvio e claro que metade da cidade não quer mais o velho prefeito, a velha política de conchavos e aberta ao capital (principalmente o imobiliário) e à ignorância de alguns legisladores que mal sabem escrever um ofício, quanto mais propor projetos coletivos para a cidade.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 25.5pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">Por falar em cultura, você já foi secretario de uma secretaria estadual que carrega o inóspito e o despropositado em sua gênese: ser ao mesmo tempo voltada à cultura, ao esporte e ao turismo. E lá, soube que políticas públicas para a cultura (porque foi avisado) não podem ser de estado, porque tendem, historicamente, ao fascismo. O município hoje tem conselho de cultura, fundo de cultura, fundo de cinema e editais públicos, todos regidos por lei. Ainda que com financiamento inexpressivo, é um avanço enorme para uma cidade, como eu disse antes, atrasada. Em uma de suas entrevistas, você prometeu fazer eventos. Pois saiba que não é papel do estado promover eventos, mas sim incrementá-los e apoiá-los. Por isso, qualquer proposta que você tenha para a área (e pelas suas entrevistas e programas vi que são insípidas e velhas), ouça o Conselho, porque ele é representativo da sociedade.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 25.5pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">Por outro lado, fico feliz que você tenha sido tão radicalmente contra a construção do complexo hoteleiro na Ponta do Coral. Mais do que gravar como meus favoritos no Youtube, guardei em um HD, como prova de que você não permitirá algo tão agressivo ao meio ambiente e ao entorno daquele ponto (em suas próprias palavras). E se um dia o poder imobiliário (que é maior as vezes do que um prefeito) vencer você nessa briga, prometo que projetarei teu protesto (aceito por 36,33% dos eleitores) nas paredes do hotel todos os dias, para que a cidade fique sabendo que um prefeito por aqui vale menos do que o poder da construção civil. Se você ouvir o conselho de cultura, talvez fique sabendo que naquele lugar cabe uma biblioteca e um teatro municipal (veja que uma cidade tão importante não dispõe de um teatro municipal, e a biblioteca fica bem distante, quase em São José), um parque público, salas de leitura, enfim, um centro cultural digno de uma cidade que deve ser mais do que praia.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 25.5pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">No mais, gostaria imensamente de que você venha a ser o prefeito que ouviu não apenas os 36%33 dos que o elegeram, mas os 63,66% dos que deram um sinal claro que não querem mais uma cidade sem políticas públicas de inclusão; não querem mais política cultural de balcão ou de eventos, mas sim de formação de público e de estado; não querem mais o poder abusivo e cruel das empreiteiras; não querem mais um sistema de transporte público ruim, caro e ineficiente; não querem mais uma cidade que privilegia automóveis; não querem mais uma cidade onde professores de escolas recebem mal para dar aulas sem recursos, livros, e, muitas vezes, sem preparo; não querem mais, enfim (mas não só), uma cidade violenta e sem atendimento médico decente. Democracia, meu caro novo prefeito, não depende apenas de um voto no seu nome, depende sim da crença na própria democracia, e, neste caso, você tem a obrigação de ouvir os 73,66% que deram sinais bastante óbvios de que tipo de cidade querem para viver.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 25.5pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 25.5pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">ALÉM DO MAIS...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 25.5pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">Mostra A Caverna e Fundação Badesc</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 25.5pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">Esta semana, na Fundação Badesc, teve mais uma edição de “A Caverna”, mostra de cinema de animação. Com projeções na parede do Florianópolis Palace Hotel, o velho Flop, estreiou o filme “Alçapão para Gigantes", de Yannet Briggiler, adaptação homônima de um dos contos mais instigantes da obra de um dos autores mais fecundos e emblemáticos da literatura brasileira, o também poeta Péricles Prade.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 25.5pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">A Fundação Badesc, sua sede, a ex-casa do ex-governador e ex-presidente Nereu Ramos, é hoje um dos poucos lugares onde intelectuais e artistas ainda podem expor, lançar livros, exibir seus filmes e se encontrar. Suas exposições, lançamentos de livros e o cine clube agitam o modorrento centro da Ilha de Nossa Senhora dos Aterros intelectualmente.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: white; color: #222222; font-family: arial, sans-serif; font-size: 13px; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 25.5pt;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">Pois o atual presidente do banco parece que não gosta que a Ilha pense, e quer se livrar da Fundação, alegando que banco tem que dar lucro; e cultura, na visão dele, não dá. Esta é a mentalidade da elite deste Estado iletrado chamado Santa Catarina. E o pior, por conta da “falta de lucro”, querem conceder o espaço para a Fundação Catarinense de Cultura tocá-lo. Ou seja, o pouco que se tem, querem passar às mãos de quem detesta ainda mais a arte e o pensamento, porque é notório e sabido que a atual gestão da FCC é há tempos considerada como sendo a mais indesejada da história.</span><br />
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;"><br /></span>
<div style="text-align: right;">
<span style="font-family: 'Times New Roman', serif;">Publicado no Diário Catarinense, 3 de novembro de 2012</span></div>
</div>
Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-38130041.post-20248841457026908972012-09-23T19:55:00.004-07:002012-09-23T19:55:44.438-07:00<br />
<b>CULTURA PELA CULATRA</b><br />
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<br />
<div style="text-align: justify;">
A frase “Sempre que ouço a palavra cultura, tenho vontade de sacar uma arma” já foi atribuída a pelo menos três autores. Todos, não por coincidência, trabalharam para Hitler. Um deles, Joseph Goebbels, era o marqueteiro do Führer. O outro, Herman Göring, o chefe da polícia nazista, a Gestapo. O enunciado, ainda que caiba bem no repertório nazista, foi dita por um personagem de uma peça escrita por Hanns Johst, poeta e dramaturgo alemão simpatizante do Nacional Socialismo. O mais provável é que Johst tenha criado o personagem, mistura de Göring e Goebbels, justamente para homenageá-los, corroborando assim a vontade de “matar a cultura”.</div>
<div style="text-align: justify;">
O cineasta francês, Jean-Luc Godard, no filme “O desprezo”, tem um personagem, que é produtor de filmes – uma paródia aos produtores norte-americanos – que em uma pequena sala de exibição, diz, em tom irônico: “Cada vez que ouço a palavra cultura tenho vontade de sacar meu talão de cheques”.</div>
<div style="text-align: justify;">
Esta pequena introdução opondo cultura e belicismo serve para exemplificar como governantes locais pensam sobre políticas públicas. Suas vontades têm mais a ver com sacar o revólver do que o talão de cheques. Os exemplos são inúmeros. O mais constrangedor é que, ao contrário do bom senso, onde há décadas está estabelecido que a cultura é um setor estratégico (a maioria dos países europeus, por exemplo, que vivem basicamente de seus patrimônios culturais) e dos Estados Unidos (cuja indústria do cinema e da música pop arrecadam mais do que a indústria automobilística), Santa Catarina caminha na contramão.</div>
<div style="text-align: justify;">
O governador Raimundo Colombo não se importou de visitar um produtor de queijos, e tirar fotografias, que acabou de criar um Gruyére ou um Brie tupiniquim. Mas, chamado por todos os produtores a criar uma secretaria de cultura, faz ouvidos moucos. Por que, perguntamos há décadas, um setor tão estratégico e tão fundamental para o desenvolvimento do Estado é tratado de forma tão desprezível? Por que quando industriais, empresários, agricultores fazem protestos ou exigências os governos imediatamente abrem as portas dos palácios para ouvir suas queixas, e quando artistas querem ser ouvidos os governos fecham as portas?</div>
<div style="text-align: justify;">
O que me faz pensar nessa negligência é que o queijo não é embutido de conceito, mas um livro, uma peça de teatro, um poema, uma canção são. Governos detestam conceitos, porque faz com que seus cidadãos pensem, ao contrário de quando comem queijo. E governos ruins não sobrevivem a um povo que pensa. Por isso, esvaziar seus artistas, deixá-los à margem, como se não fossem eles tão importantes quanto a indústria têxtil ou um pedaço de queijo, é fundamental para a sobrevivência de governos ruins. Caso contrário, não apenas o atual governador, mas todos os anteriores, já teriam há muito chamado os artistas para uma conversa, para saber o que pensam e do que precisam. Ele descobriria estupefato (se é que governos ruins ainda têm a capacidade de se surpreenderem) que o problema não é o corte de verbas que incomoda, mas o modo como esta pequena verba é gerida. O problema é de gestão, não de cifras. Preferimos 70 milhões justamente geridos e democraticamente distribuídos (em forma de fundos e editais transparentes) do que 240 milhões para projetos de governo de cunho autopropagandista, extemporâneos e de qualidade estética duvidosa, decidido por um comitê gestor, o qual nenhum produtor apoia, ignorado pelo Conselho Estadual de Cultura, que, ao contrário de aconselhar, apenas diz amém.</div>
<div style="text-align: justify;">
A declaração do novo secretário de cultura, esporte e turismo (a junção de três áreas alheias já é por si só um agravante) de que o governo (por isso não queremos política de governo, mas de estado) é a de que eles só investirão em eventos que atraiam muita gente, como as festas de outubro. É o que dá nomear pessoas que não são da área. Pergunto ao novo secretário, como ele teria tratado Cruz e Souza (eu grafo com Z, porque era como ele mesmo assinava), para ficar no mais batido dos exemplos. O bardo não atingia muita gente, mas hoje é considerado o maior artista catarinense. Este tipo de declaração, de um secretário que sequer compareceu ao Fórum Regional de Cultura, que o próprio governo dele está promovendo, é que cria cizânias entre os governos e os produtores de cultura.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<b>O que é o Fórum</b></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O Fórum, que reuniu artistas e produtores de todo o Estado e das mais variadas modalidades de expressão, estabelece diretrizes de conduta de estado, para que toda a política pública para o setor seja tratada como estratégica, não como política de balcão, favorecendo grupos do próprio governo, dando a impressão de que Santa Catarina só produz arte e cultura extemporânea. Pelo contrário, o Estado tem excelentes artistas, mas que precisam, do mesmo modo que o agricultor, de subsídios, sim, para que o público os reconheça e se reconheça nessa produção.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas para que isto aconteça os governos precisam ter coragem de ouvir seus produtores, do mesmo modo como vai comer queijos e provar vinhos, os quais também precisamos. Até porque saber provar um bom queijo e um bom vinho também tem a ver com cultura. Só deixaremos de ser um povo violento, de ter um dos maiores índices de mortes no trânsito, de sermos tão colonizados em relação à língua e aos costumes alheios (principalmente quando deixamos de lado o conceito de antropofagia dos modernistas) quando os governos deixarem de vez de puxar o revólver cada vez que ouvem a palavra cultura. Da minha parte, cada vez que ouço a palavra revólver, me dá uma vontade enorme de puxar minha cultura.</div>
Fábio Brüggemannhttp://www.blogger.com/profile/10860383748309842955noreply@blogger.com3