Governos adoram tragédias
Em todas as entrevistas e comentários de políticos das cidades atingidas pela chuva, não ouvi um único destes caras falar em prevenção. Culpam a chuva como se fosse ela a vilã. O editorial do DC, na quarta-feira, dizia: "O país, numa de suas regiões mais ricas, prósperas e educadas, mostrou que não está suficientemente preparado para prever com eficácia e para agir com rapidez".
Os fenômenos naturais não são culpados pelos danos aos humanos. Não é sensato culpar o Rio Itajaí pelas mortes, mas talvez seja sensato pensar por que as pessoas decidem morar às suas margens, mesmo cientes do risco que correm. Diante da assombrosa e cruel desproporção de renda, a maioria não tem como escolher onde morar. Mas o que os governos têm feito para prevenir desastres, para evitar que áreas de risco sejam ocupadas, para preservar mananciais e florestas, para educar a população sobre percepção de risco? Nada.
Ainda por cima, o governador do Estado (não bastasse sua desastrosa declaração dizendo que fará de tudo para recuperar logo o estrago "para os turistas") força a aprovação da nova Lei Ambiental. Essa lei, que espero a Assembléia não aprove, irá piorar ainda mais os efeitos de chuvas como essa, porque propõe reduzir a faixa de mata ciliar das margens dos rios, libera o desmatamento, deixa de proteger fontes de água, enfim, um prato cheio para novos desastres.
O Programa de Prevenção e Preparação para Emergências e Desastres, do Ministério da Integração Nacional investiu neste ano apenas 26% da verba destina a prevenção. Por outro lado, gastou quase 70% da verba destinada a recuperação pós-desastres. Será que ninguém avisou a eles que é melhor prevenir do que remediar. Mas educar e prevenir, ao que parece, não dá voto mesmo.
Diário Catarinense, 29 de novembro de 2008