14 de novembro de 2009

Neocaretismo me dá medo

Cada um pensa o que quer, isso é a democracia. É compreensível que uma pessoa não admita, por convicções religiosas, políticas, filosóficas que possa haver modos distintos de ver o mundo. Inaceitável é a imposição, e, por consequência, a proibição de determinadas atitudes, por conta destas convicções.

Nos anos de 1960, a grande Leila Diniz já havia escandalizado a sociedade apenas porque resolveu, com todo direito que tinha, de ir à praia de biquíni, mesmo estando grávida. Passados mais de 40 anos, um bando de machistinhas (sim, existem garotas machistas) agridem verbalmente uma garota que resolveu ir de minissaia para a escola. Nem todo mundo precisa gostar de ver perna. Quem não gosta, não olhe. Os garotos e garotas que agrediram a estudante da Uniban são apenas o reflexo de um neomoralismo que me dá medo. Foi este mesmo moralismo que deu guarda ao golpe militar, que criou este neopentecostalismo ultracareta e conservador, e que tenta criar regras cada vez mais sem sentido.

Um das regras é a nova lei antifumo, sancionada pelo prefeito em exercício. Cito aqui o argumento do jornalista Fábio Bianchini (que nem fuma), do seu blog, como sendo exemplar sobre esse neocaretismo que assola o país. Ele diz textualmente: “É quando, então, vou poder sair e chegar em casa sem cheiro de cigarro, certo? Errado. Bem pelo contrário. Em primeiro lugar, eu já posso fazer isso. É só escolher um lugar onde, por iniciativa dos proprietários, já não se pode fumar. Quem não quer a fedentina vai a esses. Quem não se importa frequenta os outros. Simples e democrático, né? E ‘poder’ implica em escolha, portanto, o problema é mais grave do que ‘eu já posso’.”

Essa é questão principal, o direito individual de escolha. Ninguém precisa gostar de minissaias, basta não olhar. Quem não gosta de cigarros não vá a lugares onde se pode fumar; quem não gosta de homossexuais, não precisa ser um, nem mesmo tentar impedir que eles possam se amar. Quem não gosta de viver, enfim, que fique em casa, assistindo tevê, igual a um carola do século passado, torcendo para que o mundo pare de se transformar, porque, independente da vontade dos caretas, e dos neomoralistas, ele vai mudar sempre, ainda bem.

3 comentários:

Unknown disse...

Olha o horário que esse cidadão(será?) decide ler blogs e postar o comentário...
Piada a parte, participo de uma comunidade(orkut) sociedade de debates, jovens em sua maioria, discutindo de todos os assuntos... acontece de ter um tópico sobre lei-antifumo no forum... e bem vou postar seu texto, com a citação de fonte devida... espero que não se importe...
mais uma vez gostei do texto, será que é por que concordo com suas idéias...

Desculpe o longo comentário.

Maloio disse...

... e que cada um use o bom senso do seu livre arbítrio para se portar, agir, fazer o que pode ou (não) poderia; que depois não venha reclamar discriminação; que viver em sociedade (bem ou mal) constiuída obriga a regras coletivas, como, no mínimo, o respeito ao próximo. Abraço, Maloio

Pedro Lemos disse...

Também me filio à onda libertária, que, a bem da verdade, nunca chegou à praia; mas acho temerária essa analogia com a lei antifumo: remete àquela história do "ame ou deixe-o", como se não houvesse opções consensuais.

A lei nada mais faz senão dar à noção de "local público" uma interpretação extensiva, amparada em políticas de saúde pública e no viés econômico que estimula os donos de bares a tolerar o fumo (você consegue citar um bar de Floripa onde o fumo é inteiramente proibido, a exceção do Black Swan?).

Um drama sem muito sentido: os donos de bares não querem perder nenhuma das clientelas (fumante ou não fumante); daí por que terão de criar mecanismos que permitam aos tabagistas inveterados (aqueles que não conseguem ficar duas horas sem fumar) exercer seu direito fora do estabelecimento.

A tese do Fábio, ademais, seria aplicada, se muito, aos clientes: mas e aqueles que trabalham nos bares e restaurantes? Será que eles têm mesmo a opção de escolher o local onde vão trabalhar?

E naqueles eventos singulares, como os shows do Deep Purple no Music Hall, ou do Celso Blues Boy no John Bull? Seria mais razoável deixar os "não fumantes" em casa ou exigir dos fumantes algumas horas de abstinência?

Sim, ninguém é obrigado a olhar moças com vestidos curtos; mas em relação ao fumo, a opção correspondente - deixar de respirar - me parece inviável: a analogia não fecha, enfim.

Um fraternal abraço,
Pedro Lemos

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