23 de agosto de 2010
As ditaduras não precisam de reflexão quando instaladas. Basta um maluco qualquer dizer o que deve ser feito com o dinheiro que é de todos, uma elite aceitar e um povo calar-se (sob pena de de ser torturado, morto ou expulso). O mais repugnante das ditaduras é a aceitação dela, porque ainda é absurdo que alguém, em sã consciência, consiga viver sob o jugo de um déspota, ou de um grupo deles.
Já a democracia precisa o tempo todo de cuidados, precisa ser repensada todos os dias, tem que estar antenada com as mudanças sociais e de comportamento. As ditaduras odeiam mudanças, porque pra mudar tem que pensar, aceitar a diferença, ter paciência para ouvir também as minorias e reservar um espaço a elas. Ditadores odeiam pessoas que pensam.
Um dos modos mais fáceis de instalar uma ditadura é manter uma nação na ignorância e, é claro, rejeitar suas manifestações sociais, impedir seus avanços, não respeitar as minorias. O outro modo é a força. A ditadura militar quando instalou-se no Brasil, primeiro exilou seus pensadores, depois queimou livros, e, por último, torturou e matou os que pensavam diferente.
A democracia brasileira é muito recente. E se olharmos em volta, estamos cercados de prefeitos, governadores e deputados que apoiaram o golpe militar e a ditadura. Muitos partidos, apesar de terem mudado de nome, sustentaram o regime autoritário.
Mas o grande barato da democracia é sua imensa bondade intrínseca (coisa que ditadores são incapazes de compreender), porque na democracia até os malucos (incluindo ditadores) têm seu direito a voz e voto. Democracia é dar ouvido também aos imbecis. Isso não seria tão ruim e assustador se tivéssemos eleitores com formação histórica e cultural suficientes apenas para rir destas candidaturas. Infelizmente, não é bem assim. Daí, que é preciso estar atento, olhar para a história recente, para que não tenhamos que dizer mais uma vez, depois das eleições, que cada povo tem o governo que merece.
14 de agosto de 2010
Pelo fim da produtividade
7 de agosto de 2010
JOAQUIM
Outro dia um amigo disse que existem dois tipos de pessoas, basicamente. Sim, o basicamente foi apenas para minimizar o absolutismo da tese. Um, segundo ele, correspondente a 90% da população (e fico pensando no quanto é fácil “percentuar” as questões no chutômetro) é aquele que tem fobia aos diferentes, logo, ele mesmo não pode ser diferente. Tipo camaleão. Se tivesse que viver entre esquimós, aprenderia rapidinho a ser um deles. Se fosse teletransportado pra lua, seria uma rocha pro resto da vida. Aliás, disse o amigo, a maioria das pessoas é como rocha. Não é capaz de mudar de opinião mesmo diante de um argumento irrefutável. Para estes, os seres-rochas, disse o amigo, todas as discussões acabam facilmente com duas frases. A primeira: “Ah, Deus quis assim”. A segunda: “Isso aí é só retórica”. “Tudo é só retórica, tudo é só linguagem. Somos seres de linguagem. O assassino não usa revólver, mas a linguagem. Mata quando não tem mais o que dizer, quando cansa do verbo. O medo se instaura quando não há mais linguagem”.
Quando acabou de falar, o amigo (tá bom, vamos chamá-lo de Joaquim) deu a mão e disse tchau. Mas ficou um instante ainda, como se quisesse dizer mais alguma coisa, mas que já havia dito tudo. Dizer tudo é o mesmo que dizer nada, ele disse ainda, como se tivesse lido meu pensamento.
Joaquim é o último livre-pensador que conheço. Vaga por aí pensando e dizendo, nessa ordem, coisas que ninguém mais ousa, de tão atrofiados que estão pela falta de transcendência, como diz outro amigo. Nem falo de uma transcendência metafísica, apesar do termo não me dar outra opção. Joaquim fará muita falta quando encher a paciência de tanta palavra que não diz nada, de tanta imagem mal editada.
O Joaquim custa a se despedir. Ele tem tanto pra dizer, por isso, volta várias vezes, me dá a mão depois de uma frase que ele diz com orgulho. Mas ontem ele saiu mudo. Está acontecendo alguma coisa com o Joaquim. Talvez esteja transcendendo de verdade, virando um misto de Nietzsche com Buda, bem a cara do Joaquim.
SOBRE O ÓDIO
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opa, peraí. não recebo bolsa família, não sou ignorante, parto sempre do princípio dialético sobre pontos de vista não coincidentes e não so...
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Conheci o Fábio Brüggemann nos 80. Ele era o agitador cultural da Faculdade de Letras. Poeta, contista, escritor de crônicas, diret...