Dilma X Serra
Existem vários motivos para alguém escolher entre Dilma Rousseff ou José Serra para ser a próxima presidente do País. Porém, os principais motivos, que deveriam ser o ideológico e o programático, passam longe do debate. Ao contrário da primeira eleição após o fim da ditadura, entre o desconhecido Fernando Collor e o militante metalúrgico Luis Inácio, o medo de um presidente que não vinha das elites era enorme. Daquela vez, a direita brasileira, formada por usurpadores do patrimônio público, orquestrou de tal maneira que derrotou o operário.
É óbvio que não dá para comparar a biografia de José Serra com a de Fernando Collor, e quem conhece um pouco da história do País sabe do que estou falando. Mas é justamente aí que mora o perigo. Passaram-se 21 anos daquela eleição. Uma geração inteira, que hoje já pode votar, não tem a menor ideia da história do País.
O eleitor que pretende votar em José Serra ciente de que o projeto dele é neoliberal, e pensa que a iniciativa privada pode resolver tudo, é um eleitor consciente. Do mesmo modo será aquele que votar em Dilma acreditando que o Estado tem obrigações sociais, que deve investir em cultura, em educação, e que deve distribuir melhor a renda do País.
Quando ouço declarações de pessoas dizendo que não votam em Dilma porque ela é antipática, ou não votam em Serra porque é feio, dá até para concordar com Pelé, quando disse que o brasileiro não sabia votar. O que está em jogo, e só isso importa, são dois programas bem distintos de governo.
O de Serra é o do estado mínimo, o da Dilma é o do Estado comprometido com questões que a iniciativa privada não está nem aí. Escolher qualquer um dos dois, mas ciente disso, é justo e democrático. Escolher por questões pessoais, ou religiosas é ignorância. Mas está aí outra coisa difícil de fazer o povo brasileiro compreender, que graças à Constituição, o Estado brasileiro é laico, e que quem pode ou não descriminalizar o aborto é o congresso e não o presidente da república.
Publicado no Diário Catarinense, 30 de outubro de 2010