VIAGEM AO URUGUAI
No dia 27 de
dezembro, eu e minha mulher, Gabi, mais um casal de amigos, Vanessa e Marcus,
saímos rumo ao Uruguai, em busca do por do sol mais bonito que já vi. No mesmo
dia, ao entardecer, depois de atravessarmos todo o pampa gaúcho, chegamos à
fronteira, na cidade de Santana do Livramento. A cidade guarda ainda uma
arquitetura baixa e alguns exemplares do que parece ter sido um passado de
fartura econômica, baseado, principalmente, na pecuária de corte. Do lado
uruguaio, Rivera é um centro de compras livre de impostos. Grandes lojas com
artigos eletrônicos, perfumes e bugigangas importadas. Uma espécie de Ciudad
del Leste, do Paraguai, só que mais organizada e limpa. Ali, do outro lado da
calçada, a comida já não é a mesma do Brasil e a cerveja Norteña (uma das
melhores pilsens que já tomei), descobri depois, só é vendida na fronteira ou
no Brasil.
De Rivera,
atravessamos o pampa uruguaio e fomos para as termas de Almirón, no oeste
uruguaio, quase na fronteira com a Argentina, onde acampamos duas noites. O
espaço bem estruturado, com piscinas de águas quentes, fica ao lado da pequena
vila de Guichón, na cidade de Paysandu.
No dia seguinte, viajamos
para Colônia do Sacramento, cidade tombada pela Unesco como patrimônio
histórico e cultural da humanidade. Única vila colonizada pelos portugueses no
Rio da Prata, Colônia é o sítio onde eu
gostaria de morar, principalmente pelo fato de saber que nenhum prefeito poderá
autorizar a derrubada da história e seu patrimônio, do mesmo modo que nenhum
especulador imobiliário e seus prédios tediosos poderá construir seus
monstrengos arquitetônicos. Colônia tem uma particularidade histórica paralela
à Ilha de Nossa Senhora dos Aterros. Em 1777, os espanhóis invadiram a ilha de
Santa Catarina. No mesmo ano, invadiram também Colônia do Sacramento. Porém, o
Tratado de Santo Ildefonso, diplomaticamente feito na Europa enquanto centenas
de vidas eram enterradas nos fortes de Colônia durante a invasão – ao contrário
da invasão à Ilha de Santa Catarina, onde nenhum tiro de canhão foi dado –
restabeleceu as linhas gerais do Tratado de Madri. Pelo documento, Colônia e o
território das Missões pertenceriam à Espanha, e a Ilha de Santa Catarina
voltaria a Portugal. No pôr do sol em Colônia, vendo o barco que leva, em uma
hora, a Buenos Aires, uma pergunta não me saiu da cabeça. Se Colônia e a Ilha
de Santa Catarina são tão contemporâneas, por que a cidade uruguaia preservou
sua história e a Ilha tratou de destruí-la?
Depois disso,
seguimos a Montevidéu. Chegamos diretamente ao mercado do porto, onde não
existe um ala vendendo tênis e calçados da China. A vida pulsa com suas
parrilhadas, empanadas, milanesas, queijos e uma pulsante história gravada nas
suas paredes. Não há viagens sem comparações. A cada lugar no Uruguai, sempre
vinha a pergunta: em que lugar, em que beco do tempo perdermos tanta história
para dar espaço a um “novo-riquismo” tão pobre, tão sem referências, tão sem
conteúdo quanto o da Ilha de Nossa Senhora dos Aterros? Pergunto mais: haveria
ainda tempo de resgatar o amor a essa história presente, para, quem sabe,
preservarmos para o futuro a breguice que estamos construindo?
DE VOLTA, PELO
LITORAL
Comparações à
parte, seguimos para o litoral uruguaio. Passamos por Punta del Leste,
balneário totalmente sem graça, lembrando Balneário Camboriu, com a vantagem de
que lá eles são mais espertos, pois não construíram prédios à beira-mar para
tapar o sol na praia às três da tarde. Depois do almoço em Punta, armamos as
barracas em Piriápolis, um balneário bem menor. Na praia, pela primeira vez na
vida vi uma centena de praieiros aplaudindo o por do sol.
De Piriápolis,
chegamos a Cabo Polônio, uma reserva natural, onde não se pode chegar de carro,
nem acampar. Sendo assim, acampamos na barra de Valizas, a sete quilômetros
dali. Cabo Polônio é habitat de milhares de leões marinhos, com seus urros
inconfundíveis e sua aparência bizarra.
A vila de Valizas
lembrou a Guarda do Embaú nos anos de 1980. A vida ali é toda arte e cultura.
Músicos, bailarinos, malabaristas, todos respiram arte o dia todo. A noite, em
Valizas, parece um grande palco. A cada esquina uma atração, e o Candombe,
música típica dos negros uruguaios, é seguida pela multidão. Ali, quase no meio
do nada, estávamos livres de uma praga que atacou o resto do Uruguai. A praga
era um pseudo cantor brasileiro, o qual não recordo o nome, nem faço questão de
lembrar, que insistia em cantar (se é que podemos chamar a isso de canto) uma
frase que dizia qualquer coisa como “ai se eu te pego”. O Brasil que já
exportou Tom Jobim, Caetano, Tom Zé e Chico Buarque, entre outros, decaiu
imensamente por conta de uma geração cuja formação vem apenas da televisão e de
uma legião de pais intelectualmente omissos.
De qualquer modo, o Uruguai é
lindo, os uruguaios são de uma simpatia ímpar, demonstram gostar muito do Brasil, mas amam mais
ainda falar do “maracanazo”, o dia inesquecível para eles, quando fizeram o
Brasil ficar em silêncio, tal e qual é necessário ficar diante do por do sol
dos pampas uruguaios.
Um comentário:
Fabio, voce sumiu, cara. Notícias por favor. Mineiro. diaspd@terra.com.br - ufmt
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