Durante 2012, pensei em questões que me pareciam ser importantes para desenvolver neste espaço chamado, não por menos, “Penso”. Por conta de assuntos emergentes, quase sempre críticos em relação a mandos e desmandos do poderes públicos, notadamente os mais próximos: municipal e estadual, não levei adiante tais reflexões e elas tornaram-se meras notas para futuro desenvolvimento. Acreditei agora, relendo-as, que poderia compartilhar (palavra tão da moda no ano que passou) com o leitor aquelas que ficaram apenas no âmbito da investigação, sem resolução, apenas perguntas, sem respostas. Seguem, portanto:
A teoria precede a experiência
Parece paradoxal, mas acredito na tese de que a teoria precede a experiência. Ao contrário do que a maioria crê, de que só é possível teorizar sobre algo com o qual primeiro vivenciamos, penso que a experiência só se denomina como tal se soubermos a priori sobre o que estamos vivenciando.
O mundo como vontade e representação
O mundo, de acordo com apenas uma das máximas do filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788 - 1860) acaba individualmente, todos os dias, para aqueles que morrem (o mundo como representação). Só existe “mundo” para quem conhece a palavra “mundo”, e não para os que “apenas” vivem nele. Viver não é necessariamente estar. O mundo, tal e qual concebemos, cada qual com suas crenças e descrenças, não acabou e não vai acabar. O que acontecem são modificações no modo de viver em comunidade. Estas mudanças têm a ver com as experiências. Mas como experimentar sem teorizar antes? Como crer que uma experiência pode ser boa ou ruim ou mesmo inócua? A crença em uma experiência futura (ainda não concretizada, apenas pensada) utiliza-se do mesmo mecanismo mental que gera a crença em qualquer coisa além da física. A crença em uma experiência ou em Deus tem a mesma raiz.
Fotografia e fotografia digital
Não entendo por que as pessoas chamam a velha fotografia com rolos de negativo de “fotografia analógica”. O termo foi roubado (imagino que por paronomia) da “telefonia analógica”, antecessora da “telefonia digital”. Para a transmissão de dados o termo “analógico” faz sentido, porque as informações transmitidas eram convertidos em qualquer ordem de grandeza (sons variáveis: altos e baixos), enquanto que no “telefone digital” os dados são sempre binários. Ao contrário da fotografia, a captação de uma imagem para um negativo não é feita por um dispositivo analógico, mas por um processo físico/químico. O ideal seria usarmos apenas a diferenciação para a fotografia digital — porque não faz sentido um sistema agregar um nome (no caso analógico) apenas porque uma nova tecnologia (no caso a digital) foi criada — e mantermos o termo “fotografia”, sem complemento, para a velha e boa câmara de filme (e não câmera como se usa comumente), como sempre foi.
O tempo
Quando eu era piá, em Lages, os adultos se queixavam que a passagem do tempo era cada vez mais rápida na medida em que a idade avançava. Eu ficava imaginando que para meu avô, por exemplo, o tempo entre uma “dormida” e outra era menor do que o meu. Mas não entendia como o tempo podia passar mais rápido para ele e menos lento para mim se estávamos no mesmo instante no mesmo lugar. Com que velocidade o tempo deveria se comportar diante de um menino de 10 anos e de um homem de 60? Essa foi minha primeira questão filosófica séria. Como diz meu amigo Iur Gomes, no ano passado, por esta época ainda era março.
ALÉM DO MAIS...
DO MÉXICO À ISLÂNDIA
Na semana que passou, cerca de doze mil zapatistas, grupo mexicano seguidor do revolucionário Emiliano Zapata, marcharam em silêncio em três cidades para lembrar o massacre de Acteal, quando 45 indígenas foram assassinados dentro de uma igreja, no dia 22 de dezembro de 1997, no Estado de Chiapas. Com roupas pretas e os rostos cobertos, vestindo preto e vermelho, os manifestantes diziam: “Senhor presidente, se o senhor não mostra sua verdadeira cara, não mostrarei a minha”.
E na Islândia, ao contrário dos governos que – mesmo se dizendo capitalistas – distribuíram bilhões de euros dos cidadãos para salvar bancos da bancarrota, o povo decidiu deixar os capitalistas falirem. Mais ainda, também em silêncio, criaram uma nova constituição em assembleias populares, estatizaram os bancos e decidiram democrativamente como usar o dinheiro dos impostos. O economista, prêmio Nobel, Paul Krugman, escreveu sem meias palavras no New York Times: “Enquanto os demais países resgataram banqueiros e fizeram o povo pagar o preço, a Islândia deixou que os bancos quebrassem e expandiu sua rede de proteção social”. Quem sabe não podemos também fazermos nossa revolução silenciosa? Meios não nos faltam.
É isso. Um 2013 bem melhor do que 2012 para os que leram até este ponto final.
Publicado no Diário Catarinense, 5 de janeiro de 2012
Um comentário:
É a primeira vez que visito seu blog. Por que usa o termo blogue?
Obrigado!
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