14 de abril de 2014

Sobre baderneiros invasores


         Moro numa rua que era sossegada, na Ilha de Nossa Senhora dos Aterros, em um solar construído no fim dos anos 40 do século passado. Até 2012, era calma a rua. Na frente do solar, na minha janela, dava para receber a luz do sol do seu nascente no Morro da Cruz até umas cinco da tarde, lá por trás da praça Getúlio Vargas. Da mesma janela, bem na frente dela, havia uma casa, construída muito antes do meu solar. Estava abandonada, como toda casa velha nesta Ilha. Para o dinheiro, passou do prazo, joga fora, limpa o terreno e constrói um bem maior e, claro, muito mais feio. Funcional, dizem os engenheiros (porque de arquiteto os invasores e baderneiros não gostam), sem nunca terem aberto um único livro de arquitetura moderna, sem conhecer a Bauhaus, sem Le Corbusier, sem história, enfim, porque a história, para estes invasores e baderneiros, não tem importância nenhuma, pelo contrário: só atrapalha.
         Em 2012, como eu dizia, derrubaram a casa e começaram a preparar o terreno, estes baderneiros de uma figa, para a construção de três prédios. Sim, caros amigos, três. E eles são rápidos e, claro, extremamente barulhentos. Não existe invasão nem baderna sem barulho. E a barulheira começa antes mesmo do que a lei permite. Se a lei diz que os bárbaros invasores podem começar a baderna institucionalizada às oito da manhã, os baderneiros já estão desde às seis, com suas conversas edificantes e com suas canções sertanejas (porém, é claro, extremamente universitárias).
        Depois, imaginem, caros leitores, assim que o dia começa, seis caminhões carregados de cimento invadem a rua e lentamente, até o meio-dia, acabam com sua manhã de sono, acabam com o seu dia inteiro, porque o barulho dos invasores e baderneiros, mesmo depois de desligado, fica zunindo na cachola. Essa baderna dura já bem uns três anos. E antes de ontem foi a glória. Era sábado, almoço com a família, forno ligado para gratinar um dos pratos, e a luz se foi.
        Sim, eram os baderneiros fincando mais um poste na rua para sustentar toda a energia que consumirá assim que ficarem prontos os três prédios, no sábado à tarde, dia que imaginávamos que era descanso para os baderneiros. Mas a baderna institucionalizada não tem hora, eles se sustentam pela grana (aquela que ergue e destrói coisas belas, e que neste caso destruiu coisa bela e ergueu coisa feia), e a grana tá cagando pro seu ouvido, pro sol da sua janela, pro almoço com sua família, enfim, os baderneiros são protegidos por lei, por isso não adianta fazer B.O., reclamar na prefeitura, falar com quem quer que seja.
       Os baderneiros querem apenas firmar o compromisso com a propriedade privada, esse roubo institucionalizado. Sim, Bakunin ainda tem razão: “toda propriedade é um roubo”.

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