2 de dezembro de 2014

O CONSERVADORISMO COMO TRAÇO CULTURAL DO CATARINENSE

       Proponho aqui algumas pequenas teses e um debate sobre a gênese e a continuidade de uma suposta e aludida “cultura catarinense”.
     
     Não há consenso, unidade, igualdade, pensamento único, ou qualquer hipótese da existência de traços que denotem a ideia do que se propaga, notadamente por gestores públicos e políticos, como sendo “identidade cultural do catarinense”. É uma falácia à qual não  há comprovação. Ao contrário. 

      O “catarinensismo” é uma invenção geopolítica. Seja pela formação ao longo da história, seja pelo variado traço étnico: imigrantes portugueses, alemães, italianos, poloneses, japoneses, população negra trazida à fórceps e escravizada e os primeiros habitantes indígenas. Estes últimos, apesar de pertenceram a um tronco comum, também têm cada qual seu traço cultural: xoquelengues, carijós, caigangues etc., além, no planalto serrano, da presença marcante até hoje do gaucho (pronuncio gáucho) vindo do pampa cisplatino.
      
         Os imigrantes europeus, a maioria italianos e alemães, trouxeram a presença da moral do trabalho, pela qual, com ajuda de seu deus judaico-cristão, de seus braços fortes e de uma terra fértil, também por herança, em suas visões, do mesmo deus. Assim, o paraíso brasileiro tudo lhes daria. Mas existia um entrave: os indígenas. A solução, também com o amém de seus deus, já que os habitantes eram “outros” e sem “alma”, foi combatê-los do mesmo modo como espanhóis e portugueses já haviam feito antes. O mandamento cristão de não matar foi interpretado por uma parte destes imigrantes como sendo válido apenas aos seus pares.
    
      Não foram poucas as vezes que, quando criança (e aviso que sou descendente destes imigrantes e nascido em Santa Catarina), ouvi de vizinhos o orgulho de ser bugreiro, de matar essa gente sem deus (o deles, é claro), que não “gostava de trabalhar”. Este mesmo lema, por exemplo, levado ao campo político, consagra o catarinense como sendo o mais avesso às políticas sociais e de distribuição de renda, pois “quem não trabalha não merece ganhar nada”. O pensamento do bugreiro – afinal, para o modelo de nossos colonos,  o índio não trabalhava – continua valendo, pois um imigrante não compreendeu e não quis compreender, pela força de sua educação e cultura, que a ideia de trabalho para si não serve aos índios.

      O catarinense, a partir deste único traço que consigo perceber de unidade, é conservador, preconceituoso, ignorante sobre macroquestões humanitárias, sociais, geopolíticas e, principalmente, sobre aquilo que não lhes pertence: a cultura exógena, a arte do outro, o pensamento do outro, a vontade e o desejo do outro. Este único traço (insisto que é apenas a gênese de uma pequena tese a ser debatida) é positivista e, não raro, promove e promoveu movimentos neonazistas em colônias alemãs nos anos de 1930, fartamente documentados.
     
       É curioso notar, na produção cultural do Estado, que os artistas mais conhecidos e que mais se destacaram além das fronteiras estaduais vêm de fora deste caldo. Cruz e Sousa, no século XIX, que era negro, mas teve acesso aos seus contemporâneos, principalmente Baudelaire, e citava com frequência filósofos como Shopenhauer, além de ter amigos com os quais debatia o que acontecia no mundo naquele momento em que não existia sequer telefone, e que os livros vinham de navio, é um criador quase apartado da produção pré e pós a ele mesmo, guardadas as devidas contextualizações necessárias.
        
     Nossos colonos não trouxeram livros em sua bagagem.  Vale lembrar que muito da produção cultural da Bahia veio do Recôncavo, pouso dos imigrantes árabes, e a presença dos livros foi fundamental para sua formação. A verve revolucionária de Wally Salomão, Glauber Rocha, Tom Zé e Caetano Veloso é de lá. Qual artista catarinense, com a formação cultural colona que nos tivemos pretendeu revolucionar algo?

     O mais notório deles foi Rogério Sganzerla, descendente de imigrantes italianos, empreendedores e com o perfil relatado antes, mudou-se muito jovem para São Paulo e lá teve condições de fazer seus filmes. Em Joaçaba, não apenas pela falta de equipamento, mas por ausência de estímulo, parceria e afinidade intelectual, nunca teriam sido feitos. Em várias entrevistas que deu, detonava o atraso e o provincianismo e o conservadorismo do Estado e de sua cidade natal.
     
       Não significa, no entanto, que a formação cultural do catarinense seja desprezível por isto. Os catarinenses são conhecidos como leais trabalhadores, honestos, cordiais, excelentes anfitriões, empreendedores, mas não são apenas estas virtudes que dão estofo ou estímulo para alguém produzir arte, desafinar o coro dos contentes, largar o preconceito de lado, enfim, deixar o cordialismo conservador e propor algo essencialmente novo. Tanto é, que não há proposição de vulto nesse sentido. É óbvio que há, mas não de vulto.
      
        Para as políticas públicas para a arte e a cultura este resultado é quase uma barbárie. O atual governador, Raimundo Colombo, por exemplo, fruto desta formação, crê que um dos imóveis mais simbólicos da cidade onde nasceu, Lages (por coincidência, estudei nesta escola), o Colégio Aristiliano Ramos, cuja arquitetura dos anos 30 é considerada como sendo patrimônio não apenas arquitetônico, mas cultural e paisagístico, por respeitar a linha do céu do vasto planalto serrano, deve ser demolido.  Aliás, há um projeto geral, desde o governo anterior, que é o de desativar todos os imóveis que abrigaram as escolas públicas estaduais considerados “antigos”. Depois de desativados, os imóveis, sem manutenção, entram em seu natural declínio material, para se usar o argumento de que o imóvel “pode cair a qualquer momento”. Isto tem acontecido em várias cidades, e só em Florianópolis são duas. O conluio com a especulação imobiliária é evidente. Este tipo de decisão denota a ignorância da qual somos herdeiros.
      
       O mesmo governador, agora reeleito, no dia da reabertura do teatro Ademir Rosa, chegou a ovacionar o fato de que “muitos artistas se apresentaram aqui de graça, pelo amor ao aplauso”, ignorando que não há arte sem artista se os mesmos não têm o que comer. Escrevi na época que, sendo assim, cada vez que chegasse minha conta de luz eu aplaudiria para ela e estaria paga. Mais uma vez a ideia do colono de que só é considerado trabalho aquele braçal, e que pensar, criar, ou apenas viver, não é correto.
Há muitos anos, mais de duas décadas, artistas, intelectuais, pensadores, produtores culturais solicitam uma política pública para a cultura que seja de Estado. Significa que sem leis que as embasem e que as garantam, governos podem achar que “incentivar a cultura” é publicar o livro do sobrinho, bancar uma escola de dança clássica, trazer um balé da Polônia, ou financiar uma atriz global. Para que a política seja de Estado (porque todos os governos que quiseram eles mesmos produzir cultura tiveram viés fascista) é preciso um fundo (que já existe, porém extremamente mal gerido) e que este fundo seja usado para a publicação anual de editais de incentivo.
     
         Para construir esta política de Estado já foram realizados inúmeros fóruns, seminários e conferências, criados documentos e proposições. Apesar de toda diversidade necessária, há uma receita básica consensual. É necessário criar uma secretaria de cultura, realizar concurso para que técnicos ocupem os cargos, escolher um secretário que seja da área, não o filho de um político que nada entende do negócio (como é hoje), informar a toda população de que existe um fundo, fazer com que este fundo seja administrado por um conselho paritário, e que ele financie projetos por meio de editais públicos lançados anualmente. Parece simples, e é. Por que não é aplicada? Por que o ex-governador do Estado, Luiz Henrique da Silveira, descobriu que os recursos dos fundos poderiam e deveriam ser usados para políticas de governo e não de estado, o que acontece até hoje.

        Desde que, ainda que de forma esporádica, os editais existem, várias obras, em todas as áreas têm sido publicadas, vistas, tocadas, apreciadas. E se fosse por aval apenas dos governos, com certeza elas não existiriam. Ao contrário dos editais públicos para a construção de estradas, de escolas, pontes, que devem privilegiar a ergonomia, o acerto, a lógica, os editais de apoio às artes devem também investir na experimentação, no imaginário e, por que não, no erro, como bem esclareceu o modernista Oswald de Andrade, quando disse que a poesia é a contribuição milionária de todos os erros. E é por isto que não pode ser política de governo. Quem faz arte são pessoas, grupos, jamais governos. E é óbvio ainda que os governos privilegiam grandes artistas, de cachês milionários, eventos grandiloquentes (panis et circenses) que se vão num dia, sem pensar em formação, preservação, exibição, distribuição e produção de arte. A publicação de um jovem poeta, por mais precário que seja seu livro, através de editais públicos, é muito mais importante para a cultura de um povo do que um evento milionário de uma dupla sertaneja qualquer. E muito mais barato para os cofres públicos. E muito mais democrático.


     Ainda sobre o conservadorismo cordial por parte da sociedade civil, instituições quase medievais resistem com seu pomposo arcaísmo, quase sempre de acordo com os governos, até porque sobrevivem deles, por força de lei. Apesar disso, de saberem que a lei os protege neste sentido, tanto o Instituto Histórico e Geográfico, quanto a Academia Catarinense de Letras, por exemplo, refutam pensamentos radicais (no sentido marxista, de ir às raízes), revolucionários, rebeldes, erráticos. A pompa e a circunstância, as solenidades enfadonhas, o compadrio protocolar, os discursos de terno e gravata ainda são a tônica nestas instituições, que, queiramos ou não, são reflexo do único traço do “catarinense”: o conservadorismo que nos coloca à margem da produção artística e cultural brasileira desde que os colonizadores do fim do século XIX e começo do XX chegaram por aqui.


Originalmente publicado na revista Subtrópicos, número 13, disponível aqui.

6 de outubro de 2014

opa, peraí. não recebo bolsa família, não sou ignorante, parto sempre do princípio dialético sobre pontos de vista não coincidentes e não sou nordestino (apesar de ter percebido que o melhor da produção cultural do país sempre vem de lá, e não do sul caipira, conservador e falso puritano). portanto, a primeira falácia está desmontada.

a segunda é que vivi no período governado pelo psdb, ao contrário de uma galera mais jovem, e que, infelizmente, formada apenas pelos programetes a serviço (aí sim) da ignorância, acham que o mundo existe a partir do nascimento deles, e que não tinha corrupção no governo do psdb. vão ler os jornais da época.

a terceira, já que citei a história recente do país, comparem os números, as ações sociais, a tentativa de inclusão que o governo lula e dilma têm feito, apesar das adversidades, para que mais pessoas fossem incluídas, ao contrário do psdb, cujo ex-presidente, o fhc, afirmou claramente que não existe progresso sem inclusão. o pt provou o contrário.

a quarta questão é que quem mais torce contra o governo socialista (vejam bem, com todos os seus defeitos) são justamente os que sempre ganharam com o oposto. por isso o ódio incomensurável. portanto, quem vota no retorno do neoliberalismo ou é mal informado, ou vota com rancor por motivos pessoais (conheço gente que brigou internamente nos movimentos de esquerda e acha que toda a esquerda é ruim por isso), ou porque acha que não está ganhando nada com o governo do pt.

o país sempre concedeu bolsa para filha de militar, bolsa para ex-governador, bolsa para filho de juíz, bolsa vereador, e tantas outras "ajudas" para os que não precisavam. o pt tem feito o contrário, tenta dividir o bolo. mas quem sempre ganhou grana e pode viajar, gastar, e, principalmente, se exibir, agora acha ruim que os impostos gerados por todos deem oportunidade para que mais pessoas possam fazer o mesmo. como disse uma madame outra dia: “que graça tem viajar pra nova iorque se até meu porteiro agora pode ir”. isso é rancor, não é espírito público.

por fim, não sou filiado ao pt, nunca fui e provavelmente nunca serei, porque, como groucho marx, desconfiaria de qualquer clube, associação, igreja ou partido que me tivesse como membro, porque penso como torquato neto e acho que alguém tem que ao menos tentar desafinar o coro dos contentes.

não creio que a dilma seja a melhor presidente que o país já teve ou terá, mas o meu voto é mais do que óbvio, por todas estas questões, para ela.

17 de julho de 2014

Taí a minha participação no 4 Festival do Conto, organizado pelo chapa Carlos Henrique Schroeder, produzido pelo Sesc e realizado em maio, no SESC Prainha, na Ilha de Nossa Senhora dos Aterros, ao lado de Daniel Pellizzari (RS), André Sant'Anna (SP), Paulo Sandrini (PR) e Fábio Brüggemann (SC), com mediação de Demétrio Panarotto.




14 de abril de 2014

Sobre baderneiros invasores


         Moro numa rua que era sossegada, na Ilha de Nossa Senhora dos Aterros, em um solar construído no fim dos anos 40 do século passado. Até 2012, era calma a rua. Na frente do solar, na minha janela, dava para receber a luz do sol do seu nascente no Morro da Cruz até umas cinco da tarde, lá por trás da praça Getúlio Vargas. Da mesma janela, bem na frente dela, havia uma casa, construída muito antes do meu solar. Estava abandonada, como toda casa velha nesta Ilha. Para o dinheiro, passou do prazo, joga fora, limpa o terreno e constrói um bem maior e, claro, muito mais feio. Funcional, dizem os engenheiros (porque de arquiteto os invasores e baderneiros não gostam), sem nunca terem aberto um único livro de arquitetura moderna, sem conhecer a Bauhaus, sem Le Corbusier, sem história, enfim, porque a história, para estes invasores e baderneiros, não tem importância nenhuma, pelo contrário: só atrapalha.
         Em 2012, como eu dizia, derrubaram a casa e começaram a preparar o terreno, estes baderneiros de uma figa, para a construção de três prédios. Sim, caros amigos, três. E eles são rápidos e, claro, extremamente barulhentos. Não existe invasão nem baderna sem barulho. E a barulheira começa antes mesmo do que a lei permite. Se a lei diz que os bárbaros invasores podem começar a baderna institucionalizada às oito da manhã, os baderneiros já estão desde às seis, com suas conversas edificantes e com suas canções sertanejas (porém, é claro, extremamente universitárias).
        Depois, imaginem, caros leitores, assim que o dia começa, seis caminhões carregados de cimento invadem a rua e lentamente, até o meio-dia, acabam com sua manhã de sono, acabam com o seu dia inteiro, porque o barulho dos invasores e baderneiros, mesmo depois de desligado, fica zunindo na cachola. Essa baderna dura já bem uns três anos. E antes de ontem foi a glória. Era sábado, almoço com a família, forno ligado para gratinar um dos pratos, e a luz se foi.
        Sim, eram os baderneiros fincando mais um poste na rua para sustentar toda a energia que consumirá assim que ficarem prontos os três prédios, no sábado à tarde, dia que imaginávamos que era descanso para os baderneiros. Mas a baderna institucionalizada não tem hora, eles se sustentam pela grana (aquela que ergue e destrói coisas belas, e que neste caso destruiu coisa bela e ergueu coisa feia), e a grana tá cagando pro seu ouvido, pro sol da sua janela, pro almoço com sua família, enfim, os baderneiros são protegidos por lei, por isso não adianta fazer B.O., reclamar na prefeitura, falar com quem quer que seja.
       Os baderneiros querem apenas firmar o compromisso com a propriedade privada, esse roubo institucionalizado. Sim, Bakunin ainda tem razão: “toda propriedade é um roubo”.

20 de agosto de 2013

REDES, TRIBOS E AFINIDADES ELETIVAS

    Tal e qual a maioria dos animais, ainda mais os mamíferos, humanos são gregários e se agrupam em tribos. A biologia da coisa, vamos dizer assim, agrega os animais por afinidade, geralmente baseada na mútua proteção. Humanos têm como princípio a sobrevivência da espécie, só que não da espécie como um todo, como a maioria dos outros animais, mas da preservação de um tipo de comportamento específico. 
     As redes sociais via computadores, fenômeno recente na história da cultura humana, apesar de ser um avanço tecnológico dos mais incríveis e talvez inimagináveis (a não ser por visionários cientistas e roteiristas de ficção científica) continuam apenas reproduzindo comportamentos típicos da espécie humana. A existência da internet e a possibilidade de comunicação tão imediata com pessoas tão remotas e diferentes, apesar de parecer antitribal, não faz nada mais do que replicar comportamentos tribais. Para isso, na própria rede, você se filia a “grupos”, “comunidades”, entre “amigos”, etc.
       E não poderia ser diferente. Afinal, somos humanos, e nenhuma tecnologia fará mudar o propósito de todo animal na Terra, que é o de perpetuar a espécie, de acordo com a máxima contida no Gênesis, que é “crescer e multiplicar”. Mudamos os modos, os meios, as palavras, mas a ideia, a “vontade”, tão bem descrita pelo filósofo Arthur Schopenhauer, no seu catatau chamado “O mundo como vontade e representação”, continua sendo esta.
         A vontade está ligada pelo umbigo ao poder. Deixar todas as coisas como estão, apesar de manter algumas tribos com privilégios, outras tentando ter os mesmos privilégios, e outras ainda com incapacidade total de um dia sequer tocar os pés do poder (esta é a maioria) é o que mantém a roda da cultura girando tal e qual como está. O cruel nisto tudo é que as tribos se odeiam. Os exemplos ocupariam centenas de edições do Diário Catarinense. Talvez muitas tribos passem a me odiar de agora em diante porque minha tribo é francamente minoritária, vejam: Sou agnóstico; contrário à existência de qualquer tipo de arma; não tenho nenhuma paciência para ligar televisão; gosto de escrever, fazer, cheirar e de ler livros (apesar de ter tido pouco tempo pra isso, com exceção do “fazer”); tenho pavor de comportamentos machistas; acho natural a união de pessoas do mesmo sexo (porque acho certo também eu não ter nada a ver com isso);  acho terno e gravata a maior caretice, não compreendo, inclusive, a ideia de que cada ocasião tem que ter uma roupa apropriada; acho uma falta de respeito enorme quando, numa solenidade “autoridades” ficam citando outras “autoridades”, desmerecendo todos os outros que não são supostamente “autoridade”, enquanto poderiam dizer apenas “e aí, galera, tudo bem?”;  não gosto dos pronomes do tipo “vossa excelência,” enfim, sou da tribo dos contrários, e, como Torquato Neto, o grande poeta piauiense, que apenas a tribo dos poetas mais velhos conhece, estou neste mundo para “desafinar o coro dos contentes”, o que, penso eu, se é me dado o direito a pensar, não é pouca coisa.

ALÉM DO MAIS
MÍDIA NINJA E FORA DO EIXO.
       Isto tudo foi para “tentar explicar” que pouca gente deve saber o que é “Mídia Ninja”, ou “Fora do Eixo”. Depois das manifestações de junho, a Mídia Ninja, braço do Fora do Eixo, informou ou tentou informar a partir da internet, e de outro modo que não o convencional, sobre as manifestações, porque a mídia tradicional está tão viciada no jornalismo “terno e gravata”, que é incapaz de pensar que com as tecnologias disponíveis hoje, o velho jornalismo já está morto e falta apenas ser enterrado. 
        Choveram artigos, ensaios, entrevistas com os líderes do Fora do Eixo na grande mídia, que tentou, primeiro entender, depois “não perder o bonde da história”. Todos os comentários, opiniões e tentativas de explicação deste novo fenômeno de “fazer notícia” circulam apenas em uma pequena tribo, porque se alguém for pesquisar nas ruas, quase ninguém saberá dizer o que é Mídia Ninja. Eu sei porque pertenço a uma tribo que vive disso, e construí meu “banco de contatos” com pessoas que têm escudos de sobrevivência tribal semelhantes aos meus. Mas é preciso compreender que hoje,  um sujeito que tem uma conta no Facebook e um celular ligado na rede é um virtual “divulgador de informação”.
       A palavra que a mídia tradicional usa para desqualificar outro tipo de informação que não a sua é “credibilidade”. Porém, se a rede é a junção de todas as tribos possíveis, e pensando seriamente nas relações muitas vezes duvidosas entre grupos econômicos fortes, algumas mídias e o poder do Estado usado pelos governos, qual tribo garantirá a credibilidade desta ou daquela informação, independentemente de onde venha, se da mídia tradicional ou de um celular de um adolescente? É a pergunta desta pensata.

Publicado no Diário Catarinense, 17 de agosto de 2013

27 de julho de 2013

“O INFERNO SÃO OS OUTROS”

 Toda obra do filósofo francês Jean-Paul Sartre, apesar de não estar mais na moda, foi incluída no rol de livros proibidos da igreja dos católicos, o extemporâneo index. É dele a frase “O inferno são os outros”, dita por um dos personagens de sua peça “Entre quatro paredes”. Seus ensaios sobre a liberdade (quando conclui que mesmo presos estamos “condenados” a ser livres) serviram de base para movimentos políticos importantes durante os anos 60 do século passado, do mesmo modo como influenciou artistas e mudou o panorama da cultura em vários países, inclusive no Brasil.
Outro importante filósofo, também francês, Roland Barthes, contemporâneo de Sartre, escreveu vários apontamentos para uma conferência a que ele denominou “Como viver junto”. Nestas notas curtas, quase aforismos, porque eram princípios de um pensamento a ser desenvolvido em público, Barthes revela o “dilema” do outro, aquele com quem teremos de – independentemente dos laços de relação – viver junto.
Vários dos conflitos contemporâneos, que fazem pessoas irem às ruas protestar, têm a ver com a dificuldade de “viver junto”, ainda mais quando o “outro” pensa e se comporta de modo diferente. O “outro” é amedrontador, porque avisa que nós também podemos ser diferentes, às vezes até para melhor, mas quando não conseguimos o jeito é aniquilar o “outro”, e junto dele sua cultura, sua língua, sua cor e seus ideais. E para isso, o chamamos de “bárbaro”, “vândalo”, “estranho”. Na língua inglesa, por exemplo, “estranho” e “estrangeiro” tem a mesma grafia, e remete ao bárbaro, ao destruidor dos costumes, das ideias prontas, dos dogmas e das tradições seculares.
Os recentes embates coletivos têm, quase todos, motivos de cunho moral e religioso. A obra de Sartre foi indexada pelo catolicismo por conta da sua permissividade em relação à liberdade (muito mal interpretada e, por conta disso, não aceita). No fim, passados tantos anos de debates importantes e esclarecedores sobre o conceito de liberdade, o comportamento e a cultura do “outro” continuam não sendo aceitos, mesmo que tais motivações não alterem em nada a vida daqueles que se incomodam.
Sendo assim, por conta da dificuldade ainda existente de “viver junto” (reparo que não foi apenas nesse sentido que Barthes tratou este assunto, mas apenas um dos sentidos), resta fazer algumas perguntas sobre temas coletivos que tanto têm causado problemas. 1) Cientes de que, a despeito de todos os problemas estruturais da saúde pública, há uma carência enorme de médicos, que problema real existiria com a vinda de médicos de “outro” país? 2) Que problema real pode existir na vida de um religioso se o “outro” quer ter relacionamentos afetivos e ou sexuais com pessoas do mesmo sexo? 3) Em que a vida de um religioso ou moralista vai mudar se em uma relação sexual “outros” usarem ou não métodos contraceptivos? 4) Do mesmo modo, que problema pode haver para um homem que se incomoda com o útero (que ele nem tem) de uma mulher (o “outro”) que decide interromper uma gestação indesejada por motivos que só ela (portanto, de foro íntimo) pode ter?
É triste concluir que a liberdade do “outro” ainda incomoda aqueles que se sentem presos, talvez porque ela avisa que existe “outra” possibilidade de vida, de comportamento, de cultura. A ideia de autonomia humana, de não depender sequer da opinião do outro, é cruel, porque, como diz o mesmo Sartre: “Tudo que recebemos vem dos outros. Ser é pertencer a alguém”.

Além do Mais...
Os editais da FCC
Os editais da Fundação Catarinense de Cultura têm redação confusa, possui anexos dispensáveis e exigências descabidas. E toda essa incompetência para gerar um documento alheio às práticas artísticas (que é para o que se destina) confirmou-se de duas formas. A primeira com o baixo número de inscritos. Não foram poucos os que desistiram por não compreender e ou por não aceitar um edital nestes termos. O comum seria que o número de inscritos fosse maior do que o da edição anterior, mas aconteceu o contrário. A segunda, com o número altíssimo de inscrições não habilitadas (praticamente a metade). Todo edital público deve ter como meta a inclusão das propostas, porque o Estado, que financiaria estas obras, pretende, pela lógica, premiar o melhor produto. Mas a antiga administração da FCC não gostava mesmo de arte.
O Conselho Estadual de Cultura, inclusive com a presença do secretário de cultura (esporte e turismo), Beto Martins, debateu exaustivamente, antes mesmo do encerramento das inscrições, sobre estes problemas, e que medidas poderiam ser adotadas para não penalizar possíveis bons projetos por conta de uma “burro-cracia” tola. O colegiado deliberou que deveria primeiro ser julgado o mérito, depois a documentação. Porém, infelizmente, não foi isso o que aconteceu. Sinal de que  Michel Foucault continua tendo razão quando insinua que o porteiro do palácio manda mais do que o rei, basta dar um pequeno poderzinho a ele, principalmente quando este pequeno porteiro tem um ódio doentio do “outro”, o que só confirma Sartre: O inferno são, mesmo, os outros.


Diário Catarinense, 27 de julho de 2013.


29 de junho de 2013

À DIREITA NUNCA MAIS!

     É bem fácil  manipular informações com níveis de formação intelectual tão frágeis como o do brasileiro, educado basicamente pela programação débil, repetitiva e falaciosa das programações das redes de televisão. A guinada para a direita na grande manifestação da semana passada é prova disso. Um movimento que começou solicitando a redução dos preços das tarifas de transporte público transformou-se em uma passeata ufanista de viés direitista. É certo que muitos manifestantes estavam ali por mudanças importantes, e que a maioria  está insatisfeita com a falta de representatividade política, porque aguarda há décadas uma reforma que nunca acontece. Porém, poucos sabiam que as reformas não seguem adiante porque quem tem as rédeas para propor mudanças são justamente os políticos que se beneficiam com as regras do jeito que estão. Portanto, anseios legítimos com proposições ilegítimas.
     Esta multidão de pessoas indo às ruas, ainda que com os mais variados propósitos, em última instância, é um aceno, uma demonstração de um desejo de participação mais efetiva nos destinos da nação, querendo dizer que o voto não é mais o único modo de expressão democrática, e que a rua é um plebiscito, talvez o mais original, se pensarmos na democracia grega.
     A esquerda brasileira, para chegar ao poder, apesar de ter tido muitas de suas proposições efetivamente cumpridas, fez o que chamávamos nos anos oitenta de “alianças espúrias”. Estes aliados de ocasião, sem nenhuma identidade ideológica, agora estão cobrando caro pelo apoio prestado. Como disse muito bem o ex-governador do Rio Grande do Sul, Olívio Dutra, fazendo o mea culpa necessário: “Não mexemos na estrutura deste Estado, que continua sendo uma cidadela dos grandes interesses econômicos e culturais”. A esquerda abandonou inúmeras pautas importantes (nas quais milhões de eleitores escolheram), que transformariam o País para melhor, desde a reforma agrária até a interrupção dos lucros abomináveis dos bancos, por exemplo. Há que se reconhecer que  os avanços sociais  conquistados são infinitamente superiores em relação a todos os dos governos anteriores. Por conta destas alianças, mais e mais a classe política  criou um distanciamento quase abissal daqueles que os elegem. Deu no que deu. São hoje poucos, infelizmente, os que acredita em partidos.
     E como falta informação histórica, os manifestantes da última passeata foram às ruas carregados de bordões e palavras de ordem  extremamente danosas à democracia, tais como “o gigante acordou”, como se não houvessem pessoas indo para as ruas quase todos os dias, pelas mais variadas reivindicações: melhores salários, contra a homofobia, redução da jornada de trabalho, contra deputados pastores, a favor do aborto, pela reforma agrária, etc., etc. O problema é que a classe média alienadíssima e desinformada desconhece o outro, fecha os olhos para os cidadãos há tempos acordados.
    A mesma classe média desinformada resolve de um dia para outro agredir pessoas com direito constitucional para portar bandeiras, mas não compreendem, ou sim, mas agem de ma fé,  que filiar-se a um partido ainda é a forma mais democrática de se fazer política, inclusive para transformá-los. E não compreendem também que todas as ditaduras (que jamais permitiriam que esta mesma classe média fosse à rua), na primeira oportunidade fecham os partidos. A desinformação é tão grande, que nem mesmo pessoas esclarecidas sabem o real significado da proposta de emenda constitucional 37, que, dizem, vai tirar o poder (que constitucionalmente nunca teve) do Ministério Público de investigar crimes, mas o que mais se vê é gente contra. Além disso, são tão despreparados politicamente, que solicitavam a apartidarização, mas mantinham um cartaz de “Fora Dilma”, como se isso não fosse um jogo partidário e como se isso não fosse uma bandeira, na  acepção mais emblemática da carga semântica da palavra bandeira.
Apesar de tudo, penso (como sugere o título desta página) que está mais do que na hora de o governo brasileiro propor as reformas históricas, às quais a maioria do povo, de forma democrática, através do voto, apoiou desde a primeira eleição de Lula. Dilma Roussef, na segunda-feira, propôs uma constituinte específica para a reforma política, mas é preciso uma reforma muito mais ampla, e que seja plebiscitária, sim, como a própria presidente propôs. E só terá sentido se fizermos como na Islândia, onde os constituintes foram cidadãos comuns, inscritos e escolhidos com o compromisso de não se transformarem em políticos profissionais. 
    Por fim, o que originou todos os protestos posteriores, manipulados por parte da mídia e da elite que berra contra a corrupção, mas jamais berrará contra os corruptores (em sua maioria membros da própria elite), foi o aumento das passagens de ônibus em São Paulo. Como demonstraram os jornalistas Thiago Santaella e Mônica Foltran, na edição de segunda-feira passada deste Diário, mais de 50 cidades no mundo adotaram a tarifa zero com enormes ganhos na mobilidade, no bem estar da população e na despoluição das cidades. A única questão que faltou contemplar é que o custo de R$ 152 milhões anuais aludidos para sustentar a tarifa zero é uma estimativa calculada apenas pela iniciativa privada, baseada, obviamente, em um lucro que interessa apenas a ela e não à população. Faltou dizer também que na Austrália, duas de suas maiores metrópoles, Sidney e Melbourne também praticam a tarifa zero.  
   Isso significa que é possível, necessário e urgente a adoção da tarifa zero. O que não é possível é admitirmos um retrocesso institucional e democrático, mas sim seu avanço. Se é ruim como está, primeiro devemos olhar para a história para percebermos o quanto avançamos nas questões sociais, e fazer, aí sim,  a crítica justa a cada poder instituído (não apenas ao executivo) que deveriam nos representar. Há corrupção em todas as instâncias de poder, nos mais variados partidos, em inúmeras repartições públicas. Mas não existem corruptos sem corruptores, e muitos dos corruptores estavam na mesma manifestação. 
     Portanto, fazer a crítica justa e necessária, sem perder as caras lições da história, sim, mas voltar à direita, nunca mais!



Publicado originalmente no Diário Catarinense, 29 de junho de 2013.

1 de junho de 2013

SER RADICAL É IR ÀS RAÍZES

         Nos anos de 1920, o escritor Mário de Andrade dizia: “Muita saúva, pouca saúde, os males do Brasil são”. Não temos mais, pelo menos em nossa urbe insana, que nos preocupar com a saúva, mas os problemas de saúde, apesar do avanço da expectativa de vida desde aquela época, são imensos. Eu agregaria hoje, além do desleixo crônico desde a constatação de Mário de Andrade, com a saúde pública, dois defeitos ao País: a conciliação e o imediatismo. Se formos bem no fundo da raiz, no conceito marxista mais bonito de sua análise profunda que fez sobre o capital (o primeiro é a ideia de mais-valia), que é “ser radical”, percebemos que toda conciliação paga tributo ao imediatismo. E toda atitude imediatista tende a matar as soluções a longo prazo.
         Se tentarmos compreender o motivo pelo qual o Brasil ainda navega sob um regime presidencialista, (muito possivelmente porque a maioria das pessoas não sabe o que é o parlamentarismo); o motivo pelo qual um sujeito como Paulo Maluf é procurado pelas polícias de cem países mas só aqui ele anda solto e ainda é deputado federal; o motivo pelo qual pequenos burgueses mal informados bradam furiosos contra políticas de cotas, distribuição mínima de renda e outras políticas de desnivelamento social, mas nunca são contra, ou desconhecem, a aposentadoria de viúvas que recebem cem vezes mais do que uma família inteira inscrita em quaisquer dos programas sociais existentes; o motivo pelo qual somos machistas, violentos, misóginos, racistas e vivemos na superfície das coisas, navegando pela moda genérica que não está nem aí para as particularidades e para resoluções de problemas futuros, tudo isso e mais um pouco, é porque temos um medo abissal de ir às raízes, de ser radical. Citaria ainda a anistia geral que deixou de punir torturadores, criminosos, censores e sequestradores, entre outras atrocidades acontecidas durante a ditadura militar.
         Numa analogia talvez simplista (pra que ninguém diga que escrevo profundo demais), só se pode evitar frutos podres se cortarmos a doença desde a raiz. E mesmo os que torcem o nariz para Marx (porque talvez não o tenham lido com atenção) concordarão que  esse é um modo razoável de conhecer para resolver problemas.
         Todos sabem que é necessária uma profunda reforma política no Brasil, que o maior desperdício de dinheiro público que se tem conhecimento é a realização de eleições a cada dois anos. Na última eleição, o País gastou quase 600 milhões de reais. Na próxima, em 2014, calcula-se, segundo a proporção do aumento da penúltima, pode chegar a 750 milhões. Em quatro anos, o TSE gasta quase um bilhão de reais, quando poderia, se unificassem as eleições, gastar metade disso. Porém, a mania conciliatória, por conta do imediatismo, já que nenhum político quer encurtar seu mandato para se adequar a algo que economizaria, a cada quatro anos, uma quantia suficiente para construir, por exemplo, dez hospitais públicos, é o que mantém essa anomalia perdulária. Em quase todos os países democráticos as eleições são unificadas. E mais, na Itália, além das eleições gerais, desde o vereador até o presidente, todos os plebiscitos são feitos de uma única vez. Vários estados democráticos, principalmente na Europa, perguntam sobre quase tudo, de tempos em tempos, de forma plebiscitária, tentando se aproximar da democracia real, não a representativa, da qual estamos muito mal acostumados.
         No Brasil, pela tradição presidencialista, o povo dá uma importância desmesurada aos governos, e se esquecem de que eles são apenas nossos funcionários públicos passageiros, postos ali com uma função primordial, que é a de seguir e respeitar as leis. Mas poucos governos o fazem, porque pagamos para que o Estado devolva em educação, saúde, infraestrutura, cultura, segurança, e nós, tolos que somos, pagamos mais uma vez para a iniciativa privada para que nos dê de novo tudo aquilo pelo qual já contribuímos antes ao Estado.
         Cobrar, portanto, dos governos, que cumpram com suas obrigações, é ir às raízes, é ser radical. E fico muitas vezes pasmo quando, por conta de algumas cobranças de cumprimento legal, sou chamado de radical, como se fosse pecado cobrar dos governos o que é de direito e previamente acordado por lei.

FÓRUM CATARINENSE DO LIVRO E DA LEITURA

         Foi criado, na segunda-feira que passou, por iniciativa do projeto Bom de Ler, com apoio do Estado de Santa Catarina, o Fórum Catarinense do Livro e da Leitura, que reuniu vários representantes do setor, que, de alguma forma, trabalham com o livro e a leitura. O poeta e ex-presidente da Biblioteca Nacional, Afonso Romano de Sant’Anna, na abertura do evento, falou sobre a palavra leitura e sua tão recente incorporação ao vocabulário corrente da língua portuguesa. Revelou, também, um dado óbvio, mas pouco posto nos debates, que é o excesso de produção de livros em relação ao número ínfimo de leitores. 
         Talvez o leitor não saiba, mas a indústria do livro produz 200 títulos novos por dia, o que não é pouco. E estou dizendo “títulos”, não exemplares. Porém, as editoras, de acordo com Afonso Romano, e também por experiência própria, como editor de textos e de livros, estão acumulando em seus estoques toda esta produção. No resumo da ópera, o Brasil talvez seja o único pais do mundo que tenha mais livros do que leitores. Com uma televisão de programação imediatista e conciliadora, porque não vai às raízes, isso pouco vai mudar. E qualquer um entende que a televisão é hoje o maior sistema de (des)educação existente. A tevê tem mais poder de educar do que a escola e a família juntos. De qualquer modo, tomara que o Fórum recém instalado vá às raízes deste problema, como disse o próprio Afonso Romano, que é de segurança nacional. E para resolver problemas de segurança nacional só mesmo sendo radical. Caso contrário, continuaremos navegando bem próximos à barbárie.

Publicado no Diário Catarinense, 1 de junho de 2013.

6 de maio de 2013

PARA ONDE VAI O JORNALISMO?


        Na semana retrasada, participei de um debate, a convite de alunos e professores do curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina, no programa Jornalismo em Debate, produzido pela Rádio Ponto Ufsc (www.radioponto.ufsc.br). O mote foi a cobertura que a imprensa deu à eleição do papa Francisco. A questão principal era se foi exagerada ou não, principalmente se levarmos em conta a desproporção na cobertura sobre outras crenças. Inúmeras religiões existem no mundo, ainda que a Católica seja a mais praticada no Brasil, e pouco se vê ou se lê sobre seus líderes.
         Os debatedores chegaram à conclusão, quase unânime, de que houve mesmo exagero. De minha parte, indo um pouco além desta cobertura específica, penso que o jornalismo quase sempre exagera. Dada a formação de cada um, todo profissional da imprensa tem lá seus critérios para escolher o que possa ou não ser notícia. Muitos profissionais, baseado no critério subjetivo de que a melhor notícia (como se isso existisse) creem que é “aquela que vende”, aliando doses (quase sempre exageradas) de paixão com pitadas de um senso “mercadológico” duvidoso. Se o papa vende, dá-lhe papa. Se a vida de “celebridades” (que a própria mídia fabrica) vende, enchem as páginas de jornais e os minutos de telejornais com fofocas sem a menor importância, ou, quando importantes, com abordagem na maioria das vezes equivocada. 
        Todos os dias, jornais e tevês têm a obrigação de informar. Para tanto, têm números de páginas e minutos fixos. Digamos que em um determinado dia nada digno de nota tenha acontecido, ainda assim as páginas e os minutos devem ser preenchidos. A grande questão dos profissionais do Jornalismo é estabelecer critérios do que é mais ou menos importante para ser noticiado. Nesta escolha tramitam vários interesses. O do jornalista, o do editor e o do próprio veículo. O do jornalista (incluindo o repórter e o editor) tem a ver com sua formação intelectual, o do veículo, com suas relações comerciais e com o gosto popular. Porém, se a tendência do leitor médio é ser preconceituoso, machista, homofóbico ou fascista, não penso que o jornalismo deva escolher notícias que agrade esse tipo de leitor apenas para vender mais jornal.
Sempre me pergunto, que interesse tem um leitor sobre notícias de acidentes de trânsito, assassinatos, separações ou uniões de outras pessoas? Mas todos os dias elas enchem páginas de jornais e os programas de tevê e sempre com a mesma abordagem. Falta ao jornalismo, de modo geral, o aprofundamento das questões que mais afligem a comunidade. Porém, muitas vezes, nem o jornalista tem formação suficiente para abordá-la, nem o veículo a coragem para deflagrar o debate necessário.
          Por isso, penso que o jornalismo do futuro está nos debates e nas opiniões de especialistas sobre este ou aquele assunto. Não há sentido em perguntar ao leitor ou a espectador o que ele pensa sobre um julgamento ou sobre a separação de alguém. Mas é o que o jornalismo tem feito cada vez mais, invertendo um papel antes reservado aos formadores de opinião. Há sempre um embate nada velado nas sessões de cartas e nos comentários dos blogs, que, sinceramente, dá vontade de chorar de tanto preconceito destilado e de tanta falta de conhecimento. Porém, é o embate que vende.
        Sei que veículos de comunicação precisam de leitores. Mas a concessão demasiada às notas superficiais (seja pelo reduzido espaço, seja pelo teor), tanto ao leitor quanto a temas que nada contribuem, está tornando cada vez mais o jornalismo em algo tedioso e com pouca reflexão (quando há é rasa) sobre o que realmente importa, que, no fundo, é a propagação do conhecimento, menos, mas muito menos, apenas da informação. E informação não é conhecimento. 
          Se um homem mata cinco ou dez pessoas, o que deve ser informação é o motivo, os questionamentos sobre a existência da violência, formas de detê-la, o papel do estado, da educação, etc. Mas o que o jornalismo faz é mostrar a mãe chorando em close, a vida geralmente “estranha” do suspeito e assim por diante. Não é à toa que entre as pessoas que gostam de ler, os veículos preferidos são aqueles que privilegiam os debates, porque a notícia em si é quase sempre a mesma, porque ainda está vinculada perigosamente ao mercado. Tudo bem que o mercado é quem financia os veículos de comunicação. Mas a tradição do anúncio é estar próximo da notícia por desinteresse, pelo conhecimento prévio de que o leitor desviará os olhos em algum momento para o reclame, jamais para influenciar na notícia. Os meios de comunicação já foram no passado fonte muito mais confiáveis do que hoje. Talvez por isso.

ALÉM DO MAIS
EM BOSTOM
      Outro exemplo, e talvez seja o mais emblemático do momento, foi a cobertura da explosão de uma bomba caseira na maratona de Boston. Se contarmos que um dia antes morreram cinquenta pessoas por causa de uma explosão no Afeganistão, e nos dias seguintes um terremoto matou mais de 200 pessoas na China, ainda assim, todos os jornais impressos, a tevê e até mesmo os jornais da internet davam até cinco vezes mais espaço para os três mortos no atentado de Boston. Sinal inequívoco que mortos norte-americanos valem mais do que os mortos dos “outros”.

O QUANTO SOMOS DEPENDENTES
       O compromisso com a macro-economia, da qual somos dependentes, porque somos uma neocolônia dos Estados Unidos, faz com que um atentado na corte seja considerado mais importante do que um atentado no distante Afeganistão ou um desastre na quase inimaginável China. Não dá também para desvincular todas estas questões com a formação do profissional da comunicação, cada vez mais tecnicista e menos humanista. Acabou-se o tempo em que jornalistas eram leitores vorazes e suspeitavam de tudo na mesma proporção exatamente porque liam de tudo. Infelizmente, somos mais dependentes dos manuais técnicos do que dos livros.

NA CAVERNA DE PLATÃO
        Talvez este seja o momento de a mídia começar a debater com mais profundidade sobre seu papel e sua importância na formação de seus leitores, como já teve em algum momento na história, quando pautou-se pelo bom senso, quando foi combativa, e deu espaços a temas essenciais, quando tinha em seus quadros intelectuais de ponta. A impressão que tenho, depois de ter participado do debate, é que estamos de volta (ou nunca saímos) à caverna de Platão, assistindo a sombras crendo que elas são a realidade. Está na hora de o jornalismo começar a olhar mais para a realidade, menos para seu umbigo e seus espetáculos supostamente reais, como os tais “shows de realidade”, nome, aliás, que distorce  simbólica e propositadamente a semântica de uma palavra tão essencial, que é “realidade”.

Publicado no Diário Catarinense, 4 de maio de 2013

6 de abril de 2013

POR UM ESTADO LAICO


      POR UM ESTADO LAICO 
     As práticas religiosas deveriam ser como qualquer outro tipo de relação íntima. Nunca me pareceu que devesse ter caráter público. Conversas, rezas ou promessas que cidadãos queiram ter com uma crença, ou uma não crença, com um deus histórico ou tirado de sua imaginação, ou mesmo de uma imaginação coletiva, não devem interessar a mais ninguém a não ser a quem de direto professe tal crença. Essa é uma premissa, além de outras, que fez com que nações – notadamente as democráticas – separassem constitucionalmente o estado da religião. O Brasil, que se supõe ser democrático, é um país laico. Isso significa que crer em algo, alguém, ou qualquer outra coisa – inclusive não crer – não pode, em hipótese alguma, ser objeto de lei, à exceção daquela que lhe dá o direito de professar ou não uma religião.
     É uma pena que várias gerações tenham, por conta de um estado omisso em seu dever constitucional de educar de forma libertária e sem medos, desconhecimento tão grande sobre a história das religiões. O passado é farto de casos nos quais a junção religião e estado foi maléfica. Durante séculos, a religião católica, por exemplo, dominou o mundo através de um conluio promíscuo com as monarquias europeias. Durante a Idade Média, foi a que mais lutou contra o conhecimento científico, condenando importantes cientistas, como Giordano Bruno, e levou milhares de pessoas, incluindo mulheres consideradas como sendo bruxas, à fogueira. Se fosse pelo obscurantismo religioso daquele período, até hoje seríamos forçados a crer que o planetinha em que vivemos não é redondo e não é apenas um grão de areia diante de um imenso universo.
     Mas não estamos mais na Idade Média. A própria Igreja Católica, apesar de todos os ritos medievais, têm entre seus padres e bispos, pessoas capazes de debater no nível intelectual mais elevado, como o ex-papa, Joseph Ratzinger, com o filósofo alemão Jürgen Habermas, em 2004, ou o escritor e filósofo italiano, Umberto Eco, com o arcebispo de Milão, Carlo Maria Martini, que resultou no livro “No que creem os que não creem”. Umberto Eco, um agnóstico convicto, não é nenhuma encarnação do mal, como acreditam religiosos que ainda pensam deste modo medieval. Não há necessidade de se conhecer o pensamento religioso ou ter qualquer conexão com entidades divinas para se viver uma vida eticamente responsável. O próprio arcebispo escreve para Eco: “Estou convencido, além disso, de que existem não poucas pessoas que se comportam com retidão, pelo menos nas circunstâncias ordinárias da vida, sem referência a nenhum fundamento religioso da existência humana”.
Sendo assim, as proposições da ciência, tais como a defesa do uso de preservativos, do sexo sem culpa (afinal, ninguém nasce sem que alguém tenha feito sexo, antes ou depois do casamento), das pesquisas com células-tronco e da proposta de descriminalizar o aborto não devem ser analisadas sob uma ótica religiosa, pois as religiões ainda creem que somos crias de Adão e Eva, o que, digamos, é tão medieval quanto à crença de que a terra é plana. Me custa compreender o motivo pela qual as religiões insistem num erro tão grosseiro, sendo que, pela mesma ótica criacionista, errou outras vezes, e teve que reconhecer publicamente sua falha.
     A questão é que a vida coletiva se transforma. Não há mais escravidão consentida, por exemplo, uma aberração social que as igrejas nunca combateram. Se a preocupação básica das igrejas é com a salvação das almas (algo que não existe sob o ponto de vista da ciência, porque nunca foi demonstrada sua existência), porque se importam tanto com o corpo no que diz respeito aos prazeres do sexo? Como escreveu o filósofo inglês, Bertrand Russel: “O senso de pecado, artificialmente implantado [na educação infantil não laica] é, mais tarde, na vida adulta, uma das causas da crueldade, timidez e estupidez”.


     BATER PODE, BEIJAR NÃO.
    O sexo é tão importante quanto comer ou beber água. É uma necessidade vital, seja ele feito com pessoas do mesmo gênero ou com pessoas do outro gênero. A prática sexual, assim como a prática religiosa, é de foro íntimo, sendo que ninguém tem nada a ver com isso. Se pessoas do mesmo sexo querem morar juntas ou se amarem, e se não prejudicarem ninguém, o que a religião têm com isso? Pode se manifestar contra? Claro que sim. Pode impedir? Não, porque o Estado é laico e as leis não podem ser submetidas a interpretações metafísicas, ou baseadas em crenças no além. Do mesmo modo que o Estado não pode impedir a quem quer que seja que ore para este ou aquele deus, que pratique esta ou aquela religião.
     Não sei o motivo real, e talvez algum religioso possa esclarecer, desde que seja educado como foi Carlo Maria Martini com Umberto Eco, sem tentar a todo custo amaldiçoá-lo por ser agnóstico – como muitos crentes fazem com pessoas que não acreditam – por que muitos religiosos se incomodam tanto contra homens que beijam outros homens (Jesus beijou Pedro várias vezes), mas não lutam com a mesma força contra homens que batem em homens e em mulheres?

       PASTORES E PROFETAS NÃO ME REPRESENTAM
     O episódio do autoproclamado profeta e pastor, Marcos Feliciano, eleito à presidência de uma comissão de direitos humanos no Congresso, está sendo debatido por um viés superficial. Não importa quem ocupa a presidência, apesar de ele ser um obscurantista, porque coloca no lixo toda a história e a filosofia, desde Sócrates até Bertrand Russel. A pergunta deste debate não deve ser: "Como tirá-lo da presidência?", mas sim: "Como um sujeito tão despreparado e ignorante como este chegou à presidência?".
    Esta confusão toda é apenas a ponta do problema da falsa representatividade no Congresso Nacional. Enquanto não ou houver um reforma política que estabeleça critérios justos de representação política, qualquer sujeito que se diz pastor e profeta, que engana milhares de coitados com informação deturpada, sem contrapontos possíveis, e sem demonstrações de sua aplicabilidade científica, poderá ocupar este tipo de cargo. Se não houver uma profunda reforma política, sairá um Feliciano e entrará outro tão despreparado e ignorante quanto este.

Publicado no Diário Catarinense, 6 de abril de 2012

9 de março de 2013

A ACADEMIA DE CINEMA QUE NÃO GOSTA DE CINEMA


      Michael Haneke é um dos cineastas que mais me impressionam, principalmente pelo modo de construir uma linguagem que não faz concessões ao mercado. Ele não quer entreter, mas fazer pensar. Seu último filme, “Amor” – o qual nem considero o melhor que ele tenha feito – foi indicado para concorrer ao Oscar 2013. Pela película, Haneke foi listado como diretor; a atriz francesa, Emmanuelle Riva, como atriz; e, de quebra, sua escritura como roteiro original. 
      Todas estas indicações são mais do que indícios de que seriam, fora a óbvia de “filme estrangeiro”, apenas medalhas de honra ao mérito. A indústria norte-americana não costuma “perder” sob o ponto de vista econômico e ideológico. A indicação de bons filmes, principalmente estrangeiros, sempre foi apenas meritória na história do Oscar, nunca para valer. Sendo assim, estava escrito que Haneke não ganharia outro troféu do que o de “estrangeiro”, o de “outro”.
      O Oscar não foi inventado para premiar cinematografias insurgentes, marginais, “estrangeiras”, de poucos recursos, inventivas e de linguagem distinta da fórmula padrão que consolidou a fábrica de criar emoções e de exportar a política de expansão do capitalismo. Em resumo, não é um prêmio para o cinema, mas para o capital.
      Eu sei da obviedade disto tudo e tenho certeza de que não estou aqui escrevendo nenhuma novidade. Meu espanto se dá pela falta de reação e da complacência do brasileiro em não refletir sobre isto, e não pelo fato de a academia (um termo apropriado, pois as academias têm certa ojeriza à novidade) se recusar a premiar o melhor filme. Aliás, é cansativo, pela obviedade quase explícita, explicar a um espectador médio que um  filme não é apenas entretenimento (por conta da história e não pela linguagem) mas composto de  muito mais significados do que ele imagina. Para pensar um filme sob o ponto de vista crítico é preciso esquecer as histórias e se ater aos aspectos de condução, linguagem, inventividade e ritmo, e o de fazer pensar mais do que entreter, assim como fez Haneke, com “Amor”.
      Não estou espantado, portanto, pelo fato de a tal academia ter premiado a atuação de uma jovem atriz, Jennifer Lawrence, que fez nada mais do que o normal, e não a interpretação antológica de Emanuelle Riva. Do mesmo modo, nem por ela ter acreditado que Ang Lee, com peripécias tecnológicas, possa ter conduzido a câmara e os atores magistralmente como fez Haneke. Muito menos de que a academia creia que o filme de Ang Lee seja mesmo mais importante, sob o ponto de vista cinematográfico, do que o do austríaco. Me espanta o quanto os brasileiros se envolvem com um evento destes, pelos comentários, pelas torcidas por este ou aquele filmeco (como “O lado bom da vida”), pela transmissão quase ufanista, pela torcida por algo que não nos pertence, ou pela importância descabida que a própria mídia dá ao evento, como se fosse a coisa mais importante da cultura mundial. E não é. A mídia apenas segue a onda por conta da grana, nada mais. Nós, colonizados pela cultura norte-americana, nos encarregamos de auxiliar sua indústria mais poderosa, que faz, sim, bons filmes (e estes raramente concorrem ao Oscar), mas que, na média, apenas repete velhas fórmulas.
      Quando a primeira dama dos Estados Unidos, ao vivo para todos os cantos colonizados do mundo, anunciou o prêmio de melhor filme, e, antes disso, fez um discurso elogiando o quanto o cinema faz bem ao país divulgando a “verdade”, estava na cara que o ganhador seria o filme que deu um empurrãozinho ideológico à sua política externa. Como cinematografia, “Argo”, o ganhador, não vale um dólar furado, pois fabrica clichê sobre clichê, usa a câmara, os recursos sonoros e os truques apenas para heroicizar a política e a ideologia de seu país. Como muito bem escreveu o crítico de cinema José Geraldo Couto, comparando “Argo” com seu dublê “A hora mais escura”: “Três décadas separam os dois eventos, mas nos dois filmes persiste um traço comum: a total falta de interesse dos realizadores em conhecer o “outro”, em tentar, ao menos por um instante, se aproximar de seu ponto de vista, buscar compreender suas motivações. O que há é um “nós” e um “eles”, como nos velhos filmes de índios, ou de alienígenas.”

ALÉM DO MAIS...
      As evidências do quanto a política externa norte-americana se vale do cinema – e não são de hoje – estão cada vez mais escancaradas. As grandes distribuidoras, cientes do quanto o gosto médio dos espectadores de países como o Brasil está mais do que moldado às narrativas da fábrica de emoções, empurram de goela baixo, com ameaças de não distribuir mais estes filmes aos exibidores, o que há de pior da cultura e de sua ideologia.
      Citei aqui outro dia o cinema feito em Recife como sinal de novidade, por conta do reconhecimento por parte do governo pernambucano de que a considerada sétima arte é uma indústria fundamental para o desenvolvimento, porque gera divisas, empregos e exporta cultura. Os cineastas brasileiros têm todo direito, sim, de reclamar da apatia do governo brasileiro e o de outros estados (como Santa Catarina) em não reconhecer essa obviedade, e por não tratar o cinema com seriedade, (os norte-americanos o tratam a seu modo) criando, por exemplo, salas exclusivas para a cinematografia brasileira e repensando a desproporção da distribuição de filmes norte-americanos em detrimento a filmes de outros países. Nas tevês, chega a 90%, por exemplo.
      Se um produtor norte-americano investe em um único filme o equivalente a arrecadação de um ano inteiro de cidades como Criciúma, por exemplo, é uma prova quase redundante de que eles dão uma importância ao cinema à qual nós não. E não pensem os senhores que não têm ajuda do governo. Quer ajuda maior do que a aparição de Michelle Obama na decadente e extemporânea festa do Oscar?
      Se já sabemos há tempos que o cinema é uma indústria tão poderosa, por que somos apenas espectadores passivos e não agentes transformadores? Basta um pouco de inteligência e dinheiro, que, sabemos, num país que se dá ao luxo de pagar salários de 60 mil reais para um único parlamentar, parece não faltar.

Publicado no Diário Catarinense, 9 de março de 2013

SOBRE O ÓDIO

a cena mais emblemática da insanidade coletiva causada não pelo vírus, mas pelo mentecapto presidente, é a do governador ronaldo caiado, de...