Bactérias não acreditam em Papai Noel
Existem 30 milhões de espécies no planeta. Calcula-se que esse número representa apenas 1% daquelas que já existiram e foram extintas. Mais ou menos 3 bilhões já passaram por aqui, incluindo a mais famosa e visível de todas, a dos dinossauros. O ser humano, nesse parque de diversões que muitas vezes parece sonho ou brincadeira, é apenas uma entre todas. Segundo o doutor Dráuzio Varella, em seu livro Borboletas da Alma (de onde muitos das informações aqui expostas foram extraídas), a espécie humana é bem recente, se comparada com a maioria das bactérias, por exemplo. A bactérias, invisíveis ao olho humano, infinitesimalmente menores que nós, são capazes de causar enormes estragos, e chegaram bem antes, inclusive dos gigantescos dinossauros. E ainda por cima sobreviveram quando alguma coisa ainda misteriosa (apesar das evidências de um enorme meteoro) dizimou os simpáticos gigantes da face da terra. No resumo da ópera, a vida na terra existiu, com bactérias, dinossauros, baratas e outros tipos menos conhecidos, durante milhões de anos sem a espécie humana. Sinal inequívoco de que vida não é apenas uma dádiva humana, e que o planeta existiu, existe e existirá independente da presença ou não de humanos.
Recentemente, cientistas descobriram que os ratos têm a mesma quantidade de genes que os seres humanos. Para os ratos, isso não faz a menor diferença, pois eles continuam a roer independentemente de terem ou não o conhecimento sobre sua importância genética. Para nossa espécie é um sinal de que já está mais do que na hora, depois de tantos argumentos e fatos, de compreender que somos apenas mais um dos habitantes do planeta, igual aos roedores, por exemplo, com seus 30 mil genes.
O intrigante nessa história, principalmente àqueles que acreditam que alguém criou tudo isso, incluindo o ser humano, sob sua imagem e semelhança, é tentar compreender o motivo pelo qual o possível criador demorou tanto tempo para criar a espécie humana. Teria ele o poder da metamorfose, só para lembrar de Ovídio, e ter criado, antes de nós, outras experiências de vida, e, por essa teoria, à sua imagem e semelhança? Tal criador teria sido semelhante aos dinossauros, bactérias e ratos, até crer que parecer-se ao homem (no sentido amplo, da espécie) seria mais elegante e cômodo? Somos os únicos animais que inventamos uma cultura diferente da natureza. E isso é fascinante, porque ao criarmos cultura contrária à natureza estamos também reinventando nossa própria natureza. E junto, a natureza dos outros animais, porque não há como construir sem interagir, e, infelizmente, não há como interagir sem destruir. E é isso que a espécie humana tem feito, com o propósito básico igual aos dos outros bichos: perpetuar a espécie. Mas para perpetuar, com toda essa inteligência, é preciso também destruir. Contradição existente apenas na nossa espécie, até porque só em nós existe o conceito de contradição.
Prédios enormes, máquinas que lavam roupas, aparelhos que liquidificam frutas, brincos, panelas, a raiz quadrada, a palavra, os discos de guardar dados, os próprios dados, as folhinhas de calendário que anunciam um ano a mais, mas que na ausência de cultura nada significam; as latas de azeite, o avião. Nada disso nos faz melhor que os outros animais. Apenas nos tornam mais arrogantes. E toda essa cultura ainda não nos faz biologicamente pior ou melhor do que uma bactéria, esses seres que sabiamente não precisam crer em Papai Noel. Talvez resida nesse fato sua enorme longevidade no planeta.
Um comentário:
E ainda há quem me chame de louca quando eu exalto a insignificância do ser humano diante da natureza.
=*
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