13 de dezembro de 2008

A CIGANA LEU A MINHA MÃO

O nome de batismo é Estefânia, como sua mãe a chama, mas ela insiste em dizer que é Stephanie e em ler minha mão. Não creio em oráculos, previsões, destino, e não deixaria minha mão nas mãos de uma cigana com nome atípico para ciganas. Mas o carinho com que ela me abordou, os lábios grossos, os olhos rasgados e escuros, essa mistura de sedução e tentativa de me dizer que meu futuro estava em minhas mãos me prenderam.
São três linhas, ela explicou, numa síntese quase insossa da vida. A do amor, a do dinheiro e a da vida. Só isso, eu perguntei? Minha vida se resume a três questões? E o que somos, de onde viemos, para onde vamos?, isso não conta? As linhas pelo menos são mutáveis? Ela disse que não, está escrito ali e tá acabado.
A primeira, a do dinheiro, diz que sua vida é estável. Você nunca será rico, mas também nunca passará por necessidades. A segunda, a do amor, é um caos. Tem tanta linha aqui, que chego a ter pena de você, ela disse. Mas daqui a pouco, tá vendo essa linha aqui, que quase dobra à outra parte da mão? Ela é a companhia que irá até o fim da sua vida. É uma mulher inteligente, doce, jovem, e que te adora. Você demorou a encontrá-la, mas terá uma vida feliz e estável ao lado dela. Depois suspirou muito fundo e disse: “Quem dera fosse eu, que sou tão sozinha”.
Antes que eu tentasse assimilar a idéia de que uma cigana seria essa pessoa, ou de que eu precisasse mesmo ter alguém que me acompanhe, numa mistura de sonho, delírio, confusão mental, acreditando que Estefânia tinha um poder quase absurdo, seja para prever, seja para desejar, seja para seduzir, antes que eu caísse na tentação de beijar seu lábio carnudo que me oferecia, perguntei sobre a linha da vida.
Você viverá o suficiente, ela disse. O que é suficiente, eu perguntei? , mas ela não respondeu. Disse apenas que, por tradição, eu teria que lhe dar uma moeda. Cobro muito mais, mas eu gostei de você, ela disse. Eu dei a moeda, ela largou da minha mão e logo pegou a de outro homem que passava, o seduziu do mesmo modo, com a mesma malícia. Por instantes ele será feliz e deixará ser enganado, num ciclo quase natural do desejo, do mesmo modo como eu fui.

3 comentários:

Ryana Gabech disse...

oi fábio, adorei esse texto.heheh, a sedução também faz parte da sabedoria, afinal, não existe seduzir sem permissão do outro.
o mistério da vida está na sedução,ela nao é boa nem ruim, apenas é o perfume do relacionar-se.
abraços

Ryana

Anônimo disse...

Existe esperança em toda alma que se deixa abordar. Na curiosidade o desejo, na surpresa o afeto e nas linhas da vida a sedução. Todo encontro pode ser fatal...

Anônimo disse...

Quantos carnudos lábios nao pensarão em pertencer, agora, uma cigana?

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