Depois de falar durante quase duas horas, num pavilhão cheio de gente, e de comandar um palco maior que ela, como se o palco fosse dela, G. se aproximou e pediu pra tirar uma foto comigo. Se ela não pedisse, eu mesmo pediria. Nunca sei o quanto alguém me quer próximo, principalmente quando eu mesmo quero estar. E quando a maioria das pessoas foi embora, ela me deu um embrulho. Era uma caixa de madeira, pintada de azul, ainda com cheiro de verniz. Na tampa, uma ilustração com a metade de um relógio (lembrei que alguém havia comentado sobre o tempo, talvez ela?), um jogo de dados (jamais abolirá o acaso?), um óculos redondo e um recorte ilegível de jornal.
Abri a caixa, e dentro havia um cachimbo e uma carta manuscrita, que dizia, numa letra de forma, sem disfarçar palavras rabiscadas, e sobrepostas por algum arrependimento gramatical, textualmente assim:
“Já estou explicando que não farei uma boa carta a você, com vírgulas e pontos no lugar certo, mas por favor entenda e leia até o fim, ou não. Esta caixa fui eu quem fiz, nos últimos dias. Desculpa o cheiro de verniz. Ela é muito simples, mas mais ainda é o cachimbo que encontrou. Pois bem, em Joaçaba estas coisas são extintas, e eu não entendo nada. Olhei para esse, entre as poucas opções (o cara me disse que é caboclo) e resolvi comprar. Ele é bem estranho, mas faça o que estiver com vontade. Já errei várias vezes por aqui, mas não tenho mais folhas. Daqui a pouco você estará aqui nesse pavilhão. Nada disso importa. Eu só fiquei muito bem quando comecei a ler algumas crônicas suas. Quando eu estava em meio às garotas, me sentia torturada, pois todas sabiam as faculdades, os cursos e tudo mais. Eu não. Você não deve ter muito tempo para ler cartas de uma aluna que quer agradecer você. Isso parece extremamente ridículo, mas já foi. Que você seja novo mesmo quando o tempo passar, e que eu possa ler suas crônicas quando me sentir insegura do meu destino, rumo a sei lá. Obrigada, G.”.
Depois disso, desapareceu, sem dizer o nome além do enigmático G. Obrigado eu, senhorita G., você nem faz ideia do quanto essa caixa com uma carta dentro mexeu comigo, e por isso a divido agora com meus 14 fiéis leitores.
Publicado originalmente no Diário Catarinense, 19 de setembro de 2009.
Abri a caixa, e dentro havia um cachimbo e uma carta manuscrita, que dizia, numa letra de forma, sem disfarçar palavras rabiscadas, e sobrepostas por algum arrependimento gramatical, textualmente assim:
“Já estou explicando que não farei uma boa carta a você, com vírgulas e pontos no lugar certo, mas por favor entenda e leia até o fim, ou não. Esta caixa fui eu quem fiz, nos últimos dias. Desculpa o cheiro de verniz. Ela é muito simples, mas mais ainda é o cachimbo que encontrou. Pois bem, em Joaçaba estas coisas são extintas, e eu não entendo nada. Olhei para esse, entre as poucas opções (o cara me disse que é caboclo) e resolvi comprar. Ele é bem estranho, mas faça o que estiver com vontade. Já errei várias vezes por aqui, mas não tenho mais folhas. Daqui a pouco você estará aqui nesse pavilhão. Nada disso importa. Eu só fiquei muito bem quando comecei a ler algumas crônicas suas. Quando eu estava em meio às garotas, me sentia torturada, pois todas sabiam as faculdades, os cursos e tudo mais. Eu não. Você não deve ter muito tempo para ler cartas de uma aluna que quer agradecer você. Isso parece extremamente ridículo, mas já foi. Que você seja novo mesmo quando o tempo passar, e que eu possa ler suas crônicas quando me sentir insegura do meu destino, rumo a sei lá. Obrigada, G.”.
Depois disso, desapareceu, sem dizer o nome além do enigmático G. Obrigado eu, senhorita G., você nem faz ideia do quanto essa caixa com uma carta dentro mexeu comigo, e por isso a divido agora com meus 14 fiéis leitores.
Publicado originalmente no Diário Catarinense, 19 de setembro de 2009.
12 comentários:
ficou lindo, lindo, lindo esse texto!
amei lê-lo no jornal.
parabéns.
e à g. também, é claro.
um abraço.
Nossa, maravilhoso, meu, eu to chorando agora, essa G. é minha amiga (e digo isso com orgulho) pois não é uma garota qualquer, uma pessoa qualquer. Ah! e se chama Gabriéla. Parabéns.
lindo. de uma delicadeza ímpar. admiro esta garota.
bjinho
Noossa Demaiss.
É linddoo *-*
Elaa merecee ela é muitoo especial :D
CARAMBA!!! adorei, fábio.
lindo lindo lindo e emocionante.
Putz! Tô emocionada com a, agora revelada, Gabriela! A simplicidade da carta, da caixa, do cachimbo, de sua história é, por demais, comovente e contundente. Exatamente como você,querido amigo,como suas cartas,sua história (da qual tenho orgulho d participar durante alguns anos)e seus cachimbos. É, meu lindo, é a sua palavra fazendo feliz as pessoas! T amo!
muito lindo.
especial isso!
senti o cheiro do pacote, o formato da letra, a tinta de G. e lembrei de quase romance, romance memória, do cony. abração.
"divido agora com meus 14 fiéis leitores." - talvez 14 e meio...
Bueno, cá estou para dizer que fiquei muito impressionado com um escrito lido de Bruggemann: aquele do caximbar formigas... sabes como é, vivido e criado aqui com as raízes no interior, caximbar formigas era parte de minha infância.
Indicação de leitura? Sugestão de uma professora que resolveu "caximbar" os textos de Bruggemann para/com os seus alunos; eu, colega, fui caximbar também...
mas, no meio do caminho, tinha um cupinzeiro (alto). então fiquei em dúvida se pulava ele, ou caximbava cupins. medindo forças ao lado do cupinzeiro, encontrei duas opiniões diferentes sobre Bruggemann.
pois bem, por ora sou meio leitor.
cordial abraço,
Maloio
ps.: parabéns à Srta. G.
ps1.: parabéns ao B. pela iniciativa de dar oportunidade à G.
emocionante mesmo professor!
abraço.
asdra.
emocionante mesmo professor!
abraço.
asdra.
oi eu sou a menina do teatro a respeito do tempo lembra?
tiramos uma foto juntos(por falar nisso vou te mandar akela foto)mas eu gostaria de dizr obrigado por escrever tantas coisas interessantes! ah!! a senhorita G. merece!
bom valeu mesmo e ateh mais
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