O que é público no transporte?
Na Ilha de Nossa Senhora dos Aterros não existe transporte público, porque o modo como funciona não se dá com o propósito do bem público, mas sim do privado. Portanto, o tal Sistema Desintegrado de Transporte é bem burro, porque as pessoas (e vamos parar de chamá-las de usuários), hoje, levam mais tempo para se locomover de um ponto a outro do que antes da sua criação e o do inchaço urbano.
O que a população – inclusive a que acredita que o automóvel resolve todos os problemas de locomação – e o poder público têm que pensar é que esse grave problema urbano só será resolvido quando se levar a sério a ideia de que transporte para ser público não pode ser privado.
A lógica do privado é uma só: dar lucro. Mas não é lucro para a comunidade, para o público, mas sim para o empresário, para o privado. E se o empresário se lixar para o caso de ter que colocar mais ônibus pra sanar os problemas e ajudar as pessoas a ir com mais tranquilidade de um lugar pra outro? Na lógica do público, a ideia de lucro não passa pela grana, mas por inúmeros outros fatores fundamentais pra vida em comunidade, que é ar menos poluído, menos violência no trânsito, menos tempo de locomoção, menos acidentes, mais sociabilidade, etc.
O lucro do transporte público tem que ser social, não econômico. Sendo assim, ele não pode ser privado, mas público de verdade. E como se daria isso? Simples, todos, mesmo os que andam aparentemente tranquilos nos seus automóveis – achando que não sofrem com o péssimo sistema – deve arcar com o transporte público. Ele não daria lucro, no sentido mais ortodoxo, mas faria um bem enorme para todo mundo, inclusive os que não abrem mão do suposto conforto do automóvel.
O que não dá é para suportar uma das tarifas mais caras do País, ou esse caos cada vez maior no trânsito e ainda chamar isso de transporte público. O subsídio faria um bem enorme, porque se o sistema funcionasse, se ninguém precisasse ficar mais do que cinco minutos aguardando um ônibus, muito mais gente usaria o transporte coletivo, teria menos automóveis nas ruas, menos estresse e menos violência. Quer lucro maior do que esse?
12 comentários:
Fantástico.
Agora, fazer quem precisa e deveria enxergar isso...
É um grande trabalho. E infelizmente é triste, mas não temos na nossa cultura o processo de conscientização instaurado.
:(
E tem o lance da tarifa tbm! Pq eu que ando por duas paradas tenho que pagar o mesmo que quem faz o trajeto inteiro? Em nenhum lugar do mundo funciona assim, pq só em Sucupira? Em qqr lugar a pessoa paga pelo trajeto que faz e isso faz com que mais pessoas usem o transporte e possam utilizar linhas variadas e logo esperar menos tempo!
um sistema de transporte público e eficiente é um dos pilares para a sustentação da vida socio-econômica de uma cidade que se pretende metrópole, e a administração pública precisa garantir isso, via uma de duas formas: a. fiscalizando os fornecedores privados do serviço, ou b. fornecendo ela mesma o serviço. no caso (a), fica-se com peninha dos amiguinhos donos de empresas, e chegamos a extremos como o uso da polícia militar pública como firma de segurança a serviço de particulares. no caso (b), há a já tradicional incompetência do estado em fornecer soluções eficientes e desprovidas de corrupção. é, sinuca de bico, meu caro.
Pena que um texto como este não tenha sido publicado no DC.
Parabéns pelo texto....
concordo com o que disse - ou melhor, escreveu. rsrs
Fiz um no meu blog tb, caso queria conferir...
http://escandiuzzi.wordpress.com/2010/05/08/floripa-capital-da-inovacao-ou-da-esculhambacao/
Grande abraço e parabéns pelos textos
O transporte privado de Floripa é uma verdadeira sacanagem. Nunca entendi como conseguiram täo rápido destruir todo o sistema de transporte de uma cidade turística como essa. Mas ainda acho que eh falta de vontade da populacäo. Afinal, quem vota em governo safado acaba tendo um transporte safado.
oi, lala, esse mesmo texto está também no dc, tanto no impresso, no caderno variedades, quanto aqui: http://migre.me/FhCv
Meus parabéns pelo texto. Estou participando da Frente Única pelo Transporte e fico feliz em ver jornalistas de verdade atuando de maneira crítica contra essa pouca vergonha!
Estou te seguindo no twitter. http://twitter.com/reinventafpolis
Como sempre muito bem escrito o texto, parabéns!
Bom, concordo em grande parte com o que foi escrito, contudo...
Moro em curitiba, o sistema é integrado de transporte( mas pagamos a mesma tarifa, independente de 1 ou 2 ou mais paradas), e mesmo o sistema integrado tem seus problemas, o número de onibus é controlado por orgão público fiscalizador, e justamente ele impede que existam mais onibus nas ruas, o poder público, tambem esta interessado em lucro, e lucra com nossos problemas...
Belo registro. É importante registrar também que em algumas cidades brasileiras (de pequeno porte) existe transporte público gratuito que conta com a destinação de parte da arrecadação do município. Um outro exemplo interessante é o caso de Lisboa. Lá o transporte público é mantido pelo Estado, mas é completamente custeado pela arrecadação do usuário. Ou seja, é uma empresa que não conta com subsídios e investe nela própria o "lucro". Mesmo assim, o usuário do serviço compra um cartão mensal com custo de menos de um euro por dia e tem o direito de utilizar todos os transportes disponíveis sem limite de embarque (ônibus, metrô, metrô de superfície, bondes elétricos, funiculares e elevadores). Como eles conseguem?
'De commodo et incommodo' é a locução para o caso.
Não é de hoje que o privado cega o público.
Abç.
Fabio, tudo bem ai?
Como vc sabe vivo no exterior, e aqui se tem muita oportunidade de viajar,muito pela Europa e Estados Unidos.
Dos inumeros paises que ja visitei nestes meus 20 anos de vida fora, nunca, em nenhum eu encontrei um sistema de transporte tao esdruxulo como o de Floripa.
Depois que voltei prai um dia e vi esses sistema, nunca consegui entender qual é o propósito dele.
Complicado, demorado, irritante.
Mas o nosso povo mané e passivo aceita qualquer coisas seus legisladores ernegúmenos.
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