4 de fevereiro de 2011

  
  
Daniel Olivetto, um certo ator,
retratado por Caio Cezar.
Certos atores

A fotografia é um indicador, porque aponta indícios de que algo aconteceu no mundo, de que alguma coisa se movimentou, foi pensada, estruturada. O retrato, entre os estilos (se é que podemos usar a palavra estilo), é o de mais difícil realização, principalmente porque o fotógrafo, além de se preocupar com quadro, luz, foco e todas as nuanças técnicas do ofício, ainda tem que dirigir a cena, ao contrário de fotografia de natureza, do cotidiano ou o fotojornalismo.

Apesar de o retrato de estúdio parecer mais ficção do que o resto, os índices de uma suposta “verdade” – ou de que “coisas aconteceram no mundo” – também estão presentes. E para dirigir a cena (esse ato a mais do retrato) o fotógrafo deve ter conhecimento de tudo isso. Ele tem que ter habilidade em lidar com a expressão e o movimento humano, e ainda fazer coabitar essa faceta com a luz, que, em última instância, é o que faz a fotografia. Fotografar, de raiz grega, é desenhar (grafia) com a luz (foto). E no caso do retrato, essa direção da expressão humana não pertence ao universo da reprodutibilidade comum à fotografia. Para isso, só a experiência serve, para roubar outra expressão benjaminiana.

Mas essa conversa toda é mesmo só pra dizer que o Caio Cezar conhece profundamente do assunto, que é um fotógrafo dedicado, talentoso e superexigente consigo mesmo. Tanto que, mesmo exercendo o ofício há muito tempo, tendo trabalhado em jornais e revistas, e ter sido educado pelo pai fotógrafo, o Marco Cezar, Caio voltou à escola pra conhecer mais do que já sabe. Outra prova é a de que demorou bastante tempo pra que ele expusesse sua fotografia. O resultado disso tudo é esta mostra, Certos Atores – que abriu ontem a noite no Nomuro –, de retratos belíssimos dos atores Renato Turnes, Gláucia Grígolo, Daniel Olivetto, Grazi Meyer e Elianne Carpes, na qual está tudo ali: cor, quadro, luz, expressividade e a marca autoral do Caio. E, claro, está o indício de que alguma coisa bacana aconteceu no mundo; e isso não é pouco.

Diário Catarinense, 4 de fevereiro de 2011.

2 comentários:

Anônimo disse...

Já tive o prazer de ver o Caio Cézar trabalhando sob dois prismas diferentes: estando em frente às lentes e ao lado dele, ajudando na produção. São situações COMPLETAMENTE diferentes (especialmente no meu caso, que tenho pavor de ser fotografada e adoro trabalhar com produção), mas em ambas as posições eu consegui identificar um traço muito importante: a generosidade do fotógrafo.

O retrato é um troço muito do delicado. Principalmente quando quem está sendo fotografado não é um modelo, mas sim uma pessoa real ou um personagem real. Depende muito do fotógrafo ter a sensibilidade e, repito, a generosidade de esperar, prever e dirigir a pessoa com carinho.

O Caio mostra tudo isso. O resultado sai bonito demais, sô.

Adorei o texto, Bruggemann!

:*

Bia
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http://dondeestascorazon.wordpress.com/

Priscila Lopes disse...

Sem contar que ele é uma pessoa maravilhosa, gostosa de trocar ideia, sutil até.

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