13 de fevereiro de 2010
6 de fevereiro de 2010
Diante da biblioteca
24 de dezembro de 2009
O mundo seria bem melhor sem as demarcações simbólicas. É lógico que seria outro, mas reside apenas no meio da palavra utopia. Imagino o mundo sem mapas com linhas imaginárias, nomes de países diferentes, e taxonomias de qualquer tipo e números. Para algumas tribos indígenas, depois de nove não vem o dez, mas o “bastante”. Que importância há se é onze ou se é bastante? Não faz diferença nenhuma para a existência se este mês é dezembro e se o próximo será janeiro, pois nada mudará. Mas que diachos nos faz pensar que alguma coisa será nova? Por que agimos desesperados, correndo como malucos para entregar projetos, trabalhos, fazer resoluções que não mudam nada a vida de alguém se concluirmos agora ou mais adiante? Por que atribuímos um nome e um número à passagem do tempo, essa coisa tão abstrata, a qual Santo Agostinho dizia saber o que era, mas que não sabia explicar?
Todos parecem esperar o novo, algo que mude sua vidinha prosaica. Mas não parece, porque se quiséssemos mesmo o novo, não seríamos assim tão velhos, tão apegados às tradições, tão atrasados no que se refere à convivência pública, nos modos de fazer política ou no jeito de tratar o que denominamos “outro”. Nos achamos modernos mas ainda estamos na pré-história, porque traçamos as tais linhas imaginárias e chamamos o reduto restrito de pátria, depois o entregamos ao primeiro corrupto ou ditador que encontramos. O que nos diferencia do velho é apenas, talvez, a grandeza quase metafísica da decolagem de um avião. De resto, pelo preconceito, pela destruição insana da natureza, pela insistência em achar que somos animais diferentes de uma bactéria (e no entanto ela ainda nos mata), somos tão arcaicos quanto o homem de Neardenthal.
Mas graças aos nomes que damos às coisas, terei algo a que chamamos de “férias”, depois de todo este “bastante” de dias a que chamamos de 2009. Tentarei, nos próximos vinte dias, ficar bem longe do que chamamos de “computador”, no que chamamos de Velho Continente, essa coisa que também nos dá a ideia abstrata de que é preciso de “bastante” informação. Até a volta, e fiquem com o texto saboroso e divertido do Victor da Rosa, que será chamado nas próximas quatro semanas de “interino”.
19 de dezembro de 2009
Ainda sobre a árvore
Por respeito aos leitores tentarei explicar o que o secretário de turismo da Capital não sabe, o que a oposição não consegue de forma clara, e o quanto o Tribunal de Justiça tergiversou sobre a árvore na Avenida Beira-Mar, aqui na Ilha de Nossa Senhora dos Aterros. Qualquer pessoa que disser que aquele monstrengo não foi feito com dinheiro público está enganando a população, porque se não fosse público não precisaria de dispensa de licitação. Quando um servidor público diz que determinado projeto não foi pago com dinheiro público, mas por uma empresa por meio de incentivo fiscal, está querendo ludibriar o consumidor. Incentivo fiscal, até criancinha sabe – por mais que tenha sido “captado” na iniciativa privada – ainda é dinheiro público.
A decisão primeira do Tribunal de Justiça de Santa Catarina, e que por sapiência do próprio Pleno foi revista na quarta-feira passada, é bastante simbólica, porque retrata a pobreza intelectual da capital da Santa e Brega Catarina. Dizia o juiz que o pagamento não deveria ser suspenso porque causaria um prejuízo à imagem de Florianópolis. Como assim? Não leram as matérias na Folha de S.Paulo e todas as piadas que saíram em centenas de blogues e entre os tuiteiros do País, justamente tirando graça por uma cidade gastar tanto dinheiro com uma árvore de Natal? Isso não arruinou a imagem da cidade? A reversão da decisão sabiamente pune o absurdo, o que causa um efeito contrário, que é mostrar ao resto do País que na Ilha de Nossa Senhora dos Aterros tem uma população que zela pelo dinheiro público e que os responsáveis por ideias insensatas são punidos pelo seus magistrados.
Por último, ainda que não fosse dinheiro público, uma empresa privada seria muito estúpida por gastar R$ 3,7 milhões numa coisa medonha como aquela. Tem tanta escola caindo aos pedaços, tanto equipamento queimado nas clínicas públicas, tanta gente dormindo na rua, que essa grana seria uma festa. Mas na Ilha dos Aterros, graças à falta de inteligência, pra não dizer coisa pior, de seus administradores, a falta de bom senso faz apenas criar árvores que já nascem com suas raízes pra lá de podres. Só não vê quem não quer.
12 de dezembro de 2009
O amor é uma viagem
5 de dezembro de 2009
Razão e paixão no futebol
Nenhuma religião, partido político, banda de música, associação, clube ou qualquer outra atividade coletiva humana junta tanta gente como o futebol. Por conta disso, da coletivização do espetáculo, o futebol não prescinde da paixão, por mais que racionalistas (como sou tantas vezes chamado pelos leitores) queiram o contrário.
Ainda que a gente não consiga descartá-la a qualquer momento, ou deixá-la de lado, a paixão emburrece qualquer coisa. Ela não deixa ver, na maioria das vezes, o óbvio. A paixão mata e faz matar, ela é cega, e, no futebol, ela mais obscurece do que abrilhanta uma partida.
Por causa da paixão é que ainda existe a regra do impedimento. Num espetáculo cujo objetivo é marcar gols, impedir que um atacante se coloque inteligentemente (sim, com razão) longe do defensor é uma desrazão. Não parar o relógio, como em outros esportes como o basquete, por exemplo, que não acaba nos pontos, como o vôlei, também é fruto de uma paixão doentia (sei que é redundância, já que toda paixão é doença, pois vem do grego pathos, que nos deu patologia).
Se a cada vez que a bola parasse, o tempo fosse interrompido, acabaria de vez essa desrazão de jogadores fazendo cera. Mas não, os brucutus da paixão adoram essa palhaçada de jogador caindo por qualquer encostão, ou de juiz dar desconto sem nenhuma razão e a seu critério, como fez com o Fluminense, na última quarta-feira.
Ainda bem que a razão prevaleceu no campeonato brasileiro, desde que instituíram os pontos corridos. Cada partida é decisiva, e a prova é a grande final de amanhã, que será dividida (ainda que já saibamos que o Grêmio perderá) em quatro grandes finais. Só mesmo movido pela paixão que torcedores do Inter, Palmeiras e São Paulo irão aos estádios pensando o oposto. Paixão é isso mesmo, é pensar que se pode, é ter um pingo de esperança, ainda que a razão nos diga o contrário.
E por falar em falta de razão, os cartolas da Fifa não deram bola para a ideia razoável de incluir juízes atrás dos goleiros. Penso, às vezes, que esse medo de mudar no futebol, movido pela paixão, é que estimula a violência nos estádios. Mais razão nas regras levaria naturalmente mais razão ao torcedor.
28 de novembro de 2009
Quanto vale uma árvore?
21 de novembro de 2009
Outros dois míopes
Outros dois míopes se conheceram de forma diferente dos anteriores. Começa a história já descompassada, até porque histórias de compasso não têm muita valia, a não ser que seu contador seja mesmo muito bom. A míope demorou muito pra nascer. Não foram nove meses, não, mas contaram nos dedos dos pés e das mãos quase trinta invernos, trinta luas cheias. E ele esperou por ela esse tempo todo, quase como na novela de F. Scott Fitzgerald, na qual o menino nasce velho e morre na escuridão, como bem narra o autor: “E seu alvo berço, os rostos turvos que pairavam sobre ele, e o doce aroma do leite se esvaíram por completo de sua mente”.
Mesmo se parecendo como estrelas, como dois sóis sós, de uma hora para outra, um míope foi posto na frente do outro. E ele a enxergou de longe a primeira vez que a viu, por mais que isso possa parecer coisa apenas pra aumentar história. E como não enxergava os detalhes, gostou do contorno, e depois reconheceu, como cabe bem aos míopes, sua voz . E ela, lá de longe, disse: “Bem vindo, moço bonito”. E ele pensou que ela nunca, como os míopes anteriores, deveria tirar os óculos, porque se para ela, ele parece um moço bonito, como o senhor do tempo, nada deve corrigir tal conceito.
Depois de muita e mútua correspondência, eles embaciaram os óculos. Ela chora, e ele seca os olhos dela. Ela pede que ele espere, e ele espera. Mas tem um detalhe que compromete a continuidade dessa história de bater óculos um no outro, e de embaciá-los. Como na história de Fitzgerald, o descompasso temporal, a distância de um lugar a outro, faz com que em apenas num ínfimo do tempo eles possam ser, digamos, na falta de palavra melhor, felizes.
Ele tem um cavalo cinza escuro. Ela um corcel branco, mas não tem ainda carteira para dirigir. A felicidade reside nesse detalhe, mínimo, sabemos disso. Mas existe um lugar no tempo em que bebês que nascem velhos, e velhos que nascem bebês se encontram no tempo e no espaço, como na história de Fitzgerald, e não importa se usam óculos ou não. E ele disse que viverá por causa desse ponto incomensurável, único, quase epifânico, porque sabe que a miopia é metáfora mais que perfeita pra essa história, mas que só a alguns é dado vê-la.
Publicado originalmente no Diário Catarinense, 21 de novembro de 2009.
14 de novembro de 2009
Neocaretismo me dá medo
Cada um pensa o que quer, isso é a democracia. É compreensível que uma pessoa não admita, por convicções religiosas, políticas, filosóficas que possa haver modos distintos de ver o mundo. Inaceitável é a imposição, e, por consequência, a proibição de determinadas atitudes, por conta destas convicções.
Nos anos de 1960, a grande Leila Diniz já havia escandalizado a sociedade apenas porque resolveu, com todo direito que tinha, de ir à praia de biquíni, mesmo estando grávida. Passados mais de 40 anos, um bando de machistinhas (sim, existem garotas machistas) agridem verbalmente uma garota que resolveu ir de minissaia para a escola. Nem todo mundo precisa gostar de ver perna. Quem não gosta, não olhe. Os garotos e garotas que agrediram a estudante da Uniban são apenas o reflexo de um neomoralismo que me dá medo. Foi este mesmo moralismo que deu guarda ao golpe militar, que criou este neopentecostalismo ultracareta e conservador, e que tenta criar regras cada vez mais sem sentido.
Um das regras é a nova lei antifumo, sancionada pelo prefeito em exercício. Cito aqui o argumento do jornalista Fábio Bianchini (que nem fuma), do seu blog, como sendo exemplar sobre esse neocaretismo que assola o país. Ele diz textualmente: “É quando, então, vou poder sair e chegar em casa sem cheiro de cigarro, certo? Errado. Bem pelo contrário. Em primeiro lugar, eu já posso fazer isso. É só escolher um lugar onde, por iniciativa dos proprietários, já não se pode fumar. Quem não quer a fedentina vai a esses. Quem não se importa frequenta os outros. Simples e democrático, né? E ‘poder’ implica em escolha, portanto, o problema é mais grave do que ‘eu já posso’.”
Essa é questão principal, o direito individual de escolha. Ninguém precisa gostar de minissaias, basta não olhar. Quem não gosta de cigarros não vá a lugares onde se pode fumar; quem não gosta de homossexuais, não precisa ser um, nem mesmo tentar impedir que eles possam se amar. Quem não gosta de viver, enfim, que fique em casa, assistindo tevê, igual a um carola do século passado, torcendo para que o mundo pare de se transformar, porque, independente da vontade dos caretas, e dos neomoralistas, ele vai mudar sempre, ainda bem.
7 de novembro de 2009

Luna e o muro de Berlim
Na próxima segunda-feira, comemora-se 20 anos de dois acontecimentos fundamentais pra história da humanidade, ou pelo menos da história recente dela. O primeiro é a queda do muro de Berlim. Construído em 1961 pela ex-Alemanha Oriental, que se autodenominava República Democrática Alemã, mas que de democrata não tinha nada, o muro dividia Berlim ao meio. Mais do que a real barreira, feita de concreto, foi símbolo de uma guerra que de fria também tinha apenas o nome. Eram 66,5 km de pedra, com 302 torres de observação, redes eletrificadas, cães de guarda e seres humanos dispostos a matar outros seres humanos apenas porque desejavam passar de um pedaço de terra a outro. Nada mais era do que um símbolo da estupidez humana.
O segundo acontecimento, enquanto civis alemães começavam a lascar e derrubar tal muro, foi o nascimento de uma menina a que batizei de Luna. Lembro bem da minha cara colada na vitrina que separa pais chorões de bebês igualmente chorões. Lembro que não tinha sol naquele dia, que era mais ou menos cinco da tarde, e que a mãe dela estava linda. Lembro que Luna agitava os braços procurando uma parede de barriga que não existia mais. Lembro bem de ter pensado o que seria a vida daquele bebê, num mundo que parecia se renovar. Lembro de ter pensado, como ela será daqui a vinte anos?
Os vinte anos passaram rapidinho e o mundo não ficou melhor. É cada vez mais violento, mais preconceituoso, e com mais pessoas à margem de qualquer coisa que o leitor possa imaginar de conforto, saúde, educação, moradia, alimentação ou cultura. É um mundo onde a tecnologia nos faz derrubar, sim, os muros que cercam a comunicação. Podemos nos comunicar sem problemas com qualquer cidadão de Berlim que tenha acesso a um computador. Mas é cruel, por esta mesma estatística, pensar que apenas 2% das pessoas no planeta têm acesso a computadores.
É um mundo onde ficou muito fácil para qualquer babaca se dizer democrata, mas que no fundo ainda compra votos, acha que progresso é asfalto, que cultura é turismo, e que destruir cidades e mangues é bacana. Apesar de eu não ter conseguido te dar um mundo mais justo, fiz o que pude, nessa tarefa quase inglória que é a de escrever. Parabéns, minha filhota.
SOBRE O ÓDIO
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